terça-feira, 1 de dezembro de 2009

A Múmia Caipira

- Van Grogue, carniça do inferno! Carroceiro analfabeto! Cortador de cana e bicha velha enrustida, então você acha que pode fugir das obrigações de sustentar o filho que arrumou durante as farras que fazia? Você acha, retardado mental, que por ser dono de uma empresa de transporte, com centenas de caminhões, o cara pode se livrar de um reconhecimento de paternidade e de pagar pensão alimentícia? – gritou à entrada do bar do Bafão, Anermínica a baranga de canelas finas.


Os presentes cessaram as conversas e durante o silêncio que se instalou a mulher magérrima, que vivia movida por moderadores de apetite, continuou:

- Pisa retardado! Pisa na esperança de reconhecimento da criatura ilegítima que você fez vir ao mundo! Besta inútil, comendador do demônio! – Anermínica parada na porta aguardava a reação violenta do homem instigado, mas o que ela via era a troca de olhares de espanto entre os bebedores.

- Mexa-se derrotado! Chicana não apaga a verdade escrita na sua consciência. Múmia caipira! – enquanto falava a mulher mantinha o punho direito, a exemplo do cabo de uma caneca, dobrado na altura da cintura. Entre os dedos indicador e médio da mão esquerda, ela premia um cigarro do qual aspirava a fumaça de tempos em tempos.

- Mas o que se passa? – indagou ao Bafão o atordoado Van Grogue.

- Eu é que vou saber? Vocês arrumam confusão e ainda não sabem de nada? – respondeu o dono do boteco.

- Vou botar o Aníbal carroceiro na sua cola, sua besta! Você vai ver o que é bom pra tosse! – prosseguiu a mulher. Você não me escapa. Nem ouse pensar em beber água daquela sua caixa d´água! Você não sabe o que te espera, corintiano sujo!

Adam Oly que encostado no balcão, bebericava sua segunda cerveja, não escondia o desagrado que as palavras berradas pela mulher, causavam nos circundantes.

- Mas que chateação. – resumiu ele.

De repente Anermínica sentiu-se mal. Ela jogou o cigarro e levando a mão esquerda à cabeça, procurou com a direita apoiar-se no balcão.

- Um cardiologista! Depressa, um cardiologista! Socorro, misericórdia! – gritava ela com a cabeça baixa. Ante a inércia dos homens assustados ela prosseguiu com voz tremula:

- Bando de lesados! Ninguém me ajuda? – queixava-se Anermínica - Ah, é assim? Vou jogar uma praga em vocês!

Bafão temendo que os fregueses debandassem por causa do escândalo da mulher, por ele considerada bastante descompensada e saliente, ligou o rádio, visando abafar o alarido desconfortável. Mas a lengalenga prosseguia:

- Van Grogue, bicha velha aidética! Vai ficar louco! Vou fazer você andar enlouquecido pelas ruas e estrada da cidade, você não perde por esperar. No-jen-to!

Enquanto pronunciava a imprecação Anermínica notou que Luisa Fernanda entrava no boteco. Ela vinha toda serelepe e faceira. O rosto avermelhado, era sinal de quem, já pela manhã, fizera uso da água-de-cana.

- Mas o que você está fazendo aqui, querida? Nossa, você está bem? – indagou surpresa Luisa Fernanda, depois de pousar uma garrafa de cerveja sobre o balcão.

- Então você não sabe, neném? – respondeu com outra pergunta a magricela de canelas finas.

- Não lindinha, não sei de nada, não.

- É esse tal de Van Grogue. O cara pensa que não vai pagar pensão alimentícia pra filha que teve. – Anermínica estava bastante indignada.

- Ah, ele até parece o Célio Justinho, que achava que ia se livrar do peso na consciência por causa da morte da primeira mulher dele.

As comadres davam a impressão de que a conversa se prolongaria por tempo ilimitado e por isso Bafão aumentando o volume do rádio fez com que todos ouvissem a festa de uma torcida organizada que se manifestava:

- Ão, ão, ão, o Flamengo é campeão!

Van Grogue e Bafão se olharam quando o primeiro perguntou:

- Será?

Fernando Zocca.



Veja logo abaixo, no pé da página, alguns vídeos relacionados com "trole".
Boa diversão.




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