sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

O Fermento

Já se passaram uma ou duas vintenas de anos, talvez até mais, que a hipocrisia e a predisposição para a hostilidade, se manifestam assim, sem mais nem menos.

São componentes do caráter, como a cor da pele ou a estatura compõem o corpo; por isso não cremos haver a possibilidade de sucesso de qualquer tentativa para a domesticação.

Da mesma forma que o alcoólatra só deixa o vicio no momento em que decide fazê-lo, o pagão hostil só aceitará a paz no tempo que desejar.

São consequências do meio, da genética, da morfologia. Esses verdadeiros focos infecciosos são mencionados no velho testamento e considerados por Cristo como fermento.

Nessa ebulição eterna, a coesão interna do grupamento, só é conseguida com a demonização e a agressão dos alvos exteriores.

A hipocrisia tem muito do camaleão; é inconstante, incoerente e vibra energia podre, negativa. Os quistos são inatacáveis, intocáveis e muito preferidos por políticos sedentos de poder.

São refratários aos ensinamentos cristãos, não compreendem as mensagens de afeto; calcinam as estruturas limítrofes. Respondem com maldades a qualquer bem que se lhes faça.

Desertificam cidades, corrompem mulheres honestas e induzem a conflitos generalizados. Só sai de perto quem pode.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

O Cunhado de César



Não é só a mulher de Cesar, que além de ser honesta, deve aparentar a honestidade. Os cunhados de Cesar também.

Já imaginou o escangalhamento que ocorreria no gabinete do imperador, se o povo prejudicado expusesse, pelos murais, os desatinos cometidos com o pão destinado aos cidadãos de bem?

Cesar nomeava representantes, eleitos pelo povo, para os cargos administrativos do seu palácio. Isso provocava uma mistura dos elementos do executivo e do legislativo.

Um dos objetivos de César era o de conseguir a menor oposição possível, entre os fazedores de leis, aos seus desígnios.

Nas províncias distantes de Roma esse fenômeno repetia-se de tal forma que os simples gestores municipais, obtinham também os apoios maciços dos legisladores para as suas decisões.

Assim quando havia a necessidade de construção de uma ponte, o gestor da cidade idealizava, planejava e conduzia – sem oposição nenhuma - todos os planos de execução. É claro que a dinâmica atendia as necessidades financeiras do tal representante de Cesar.

Além dos impostos que, ao serem cobrados a mais, possibilitavam a remuneração dos agentes cobradores, as construções das obras também tinham esse mecanismo.

Então era comum ver líderes das cidades, que antes de Cesar, eram considerados desprotegidos e enriqueceram à pampa durante o exercício do mandato.

Cesar e seus seguidores usavam as pitonisas loucas em seus cortiços escuros para exercerem a influência considerada necessária, ao bom deslinde dos desejos políticos.

Cesar não era brinquedo não.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Fugindo da Guerra



Diante da iminência de uma guerra toda a nação se prepara. As forças armadas convocam o pessoal da reserva, a indústria é mobilizada para a produção do material bélico e a população se resguarda.

O poderio industrial de um país será responsável também por reparar, modificar e devolver ao front, os engenhos destinados à defesa e ao ataque.

Nesses casos os antigos planos serão adiados. O comércio exterior sofrerá alterações e enquanto durarem as hostilidades, os projetos de expansão industrial serão postergados.

Além da possibilidade das ações de um dos beligerantes serem atingidas no exterior, há a necessidade da concentração das forças produtivas no país de origem.

Mesmo assim se uma indústria multinacional não adia as intenções de expansão, haverá uma forte dispersão da energia passível de ser utilizada na defesa do próprio território, das suas instituições e do povo do seu país.

Os Estados Unidos sofreram uma derrota terrível no Vietnam em meados da década de 1970. Naquela oportunidade uma poderosa e tradicional indústria de tratores pesados, expandia-se pela América Latina.

Os americanos enfrentaram seus inimigos em território alheio, ou seja, os conflitos deram-se nas terras vietnamitas e a derrota não causou maiores danos do que tremores morais na ideologia e nos militares norte-americanos.

A situação diverge, e se agrava muito, quando a ameaça inimiga, da qual faz parte o uso das bombas atômicas, lança suas garras diretamente contra as cidades e à própria população.

Se a implantação de uma fábrica multinacional em território amigo for vista como provável refúgio após um possível revés militar, ela não deixará de ocorrer.



quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Injustiça Gera injustiça

Teoricamente os poderes componentes da estrutura dos Estados democráticos são três. O legislativo, cuja incumbência seria a de elaborar as regras norteadoras do agir na sociedade, o executivo cuja proposta é a de praticar as ações determinadas, e o judiciário que se incumbiria de julgar as condutas havidas no meio social.

Em tese haveria independência entre essas três instituições, mas na prática não é bem isso o que acontece. Observa-se que não é incomum a obtenção da disfunção de uma entidade, ao contaminá-la nomeando correligionário.

Numa administração municipal, o prefeito teria grande poder neutralizador da câmara de vereadores, ao nomear legislador para o exercício das funções secretariais.

A hegemonia política representada pela subserviência legislativa é obtida assim, também pela inibição das funções crítica e fiscalizadora.

Em não estando o judiciário imune à corrupção, promovida pelo abuso do poder político e econômico, teria em tese, o tal prefeito, um completo domínio político no seu território.

Nesse cenário sombrio e autoritário seriam frequentes a consumação da injustiça geradora dos vários conflitos graves, conducentes a enfrentamentos físicos e até homicídios.

Os desvios das grandes fortunas públicas conseguidas com as licitações viciadas, a cumplicidade legislativa municipal e a inocuidade judiciária, seriam fatores desencadeadores dos desentendimentos e crimes de morte.

08/03/2010 - O vereador de Águas de Lindóia Edson Âmbar chamou de chifrudo o presidente da Câmara Municipal, Joel Raimundo de Souza, durante a sessão na cidade localizada a 170 km de São Paulo. O insulto ocorreu diante das câmeras de TV. Houve confusão e briga entre os vereadores. A Polícia Militar foi chamada para intervir na questão.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Morte no Casamento

RECIFE 20/12/2010 - O supervisor de vendas Rogério Damascena, 29 anos, assassinou a mulher, a advogada Renata Alexandre Costa Coelho, 25, o chefe dele e padrinho do casal, Marcelo Guimarães, 40, e se matou com um tiro na cabeça, na madrugada deste sábado, em Camaragibe, no Grande Recife, durante a festa do casamento.

O crime aconteceu no condomínio Casa Grande de Aldeia, no quilômetro 14, da estrada do bairro.

Na sexta-feira, o casal havia realizado a cerimônia no civil. O irmão da noiva, Tiago Guerra, ficou ferido. Ele foi atendido no Hospital Santa Joana e já teve alta.

Rogério Damascena chegou a ser internado no Hospital da Restauração, mas não resistiu e morreu na manhã deste domingo.

A irmã da noiva, Lúcia Helena Coelho afirmou que não existe a menor hipótese de crime passional.

- Não teve nada de passional. Minha irmã era uma pessoa maravilhosa, que amava e queria ser amada. Ele estava feliz, a festa estava linda. A família dele adorava ela e está sem entender nada. Ele se revelou um psicopata, que enganou a família inteira. Matou o melhor amigo dele, o chefe, que estava lá com a esposa e foi o padrinho do casamento - disse.

 

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

João Manoel é reeleito presidente

O vereador João Manoel dos Santos (PTB) foi reeleito ontem (15/12), com 11 votos, presidente da câmara municipal de Piracicaba, pela terceira vez.

José Aparecido Longatto (PSDB) assumirá, a partir de 1º de janeiro, a vice-presidência; Carlos Alberto Cavalcante, o Carlinhos (PPS), será o primeiro secretário, e André Gustavo Bandeira (PSDB), o segundo.

As suplências da vice-presidência e da segunda secretaria serão ocupadas, respectivamente, por Ary de Camargo Pedroso Júnior (PDT) e por Paulo Henrique Paranhos Ribeiro (PRB).

João Manoel dos Santos (PTB) foi reeleito presidente com os votos de André Bandeira (PSDB), Ary de Camargo Pedroso Júnior (PDT), Bruno Prata (PSDB), Carlos Alberto Cavalcante (PPS), Capitão Gomes (PP), José Aparecido Longatto (PSDB), José Benedito Lopes (PDT), José Luiz Ribeiro (PSDB), Marcos Antônio de Oliveira (PMDB) e Paulo Henrique Ribeiro (PRB), além do próprio João Manoel.

O candidato derrotado, Laércio Trevisan Júnior (PR) teve três votos: de José Antônio Fernandes Paiva (PT), José Pedro Leite da Silva (PR), além do próprio.

Márcia Pacheco (PSDB) faltou à sessão. Walter Ferreira da Silva, (PPS) também conhecido como o Pira votou em branco.

POR FALAR EM CÂMARA DE VEREADORES

O auditório da Câmara de Vereadores de Itaituba no Pará estava lotado para a escolha da nova mesa diretora. Mas quando a sessão começou dois componentes iniciaram uma discussão.

O bate boca passou para a agressão física e a briga tomou conta de todo o plenário. Uma vereadora passou mal e precisou de atendimento. A polícia teve de ser chamada para controlar o tumulto e a votação foi adiada.

Veja o vídeo.



segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Combate ou Adoração?

É notabilíssima a importância dada, no interior, e nas camadas mais pobres, à união das pessoas da mesma família.

Entretanto pouco se sabe a respeito do que realmente produz a tal coesão.

É notória, só não vê quem não quer, que na maioria dos casos, a concórdia é obtida não pela adoração do sagrado, mas pelo combate a um objeto externo.

Então surgem as pobres almas ingênuas propondo a evangelização dessas pessoas.

Mas será que elas desejam mesmo ser evangelizadas?

À semelhança do alcoólatra, que só deixa o vício por vontade própria, há pagãos que admitem a vivência do evangelho no exato momento em que desejarem.

Por outro lado, nas famílias onde se evidencia a aparente diversidade de interesses, nota-se também a preponderância da civilidade, do respeito às pessoas, à propriedade alheia e aos bons princípios morais.

Então pergunta-se: É mais interessante para a comunidade a família coesa, una, mas que violenta a integridade alheia, ou a família composta por pessoas com interesses distintos e obediente às normas da boa educação?

Sabe-se que o batismo não demove ninguém das práticas pagãs e que existem interesses políticos por trás do modelo familiar, cuja liga é conseguida com a demonização do algo exterior.

A quem mais compete evangelizar propondo a substituição do cimento coesivo “combate” pela louvação do sagrado?

sábado, 11 de dezembro de 2010

Batendo o Martelo



Quem poderia imaginar um encontro entre a tia Ambrosina e Van Grogue? Pois ele aconteceu mesmo. Foi assim:

O biriteiro Grogue, que já ostentava uma cabeleira quase toda branca, saiu do boteco do Maçarico, depois da pingaterapia do dia e, ao tentar atravessar a rua, quase foi atropelado pela velha senhora, proprietária do maior latifúndio urbano do Estado de São Tupinambos, a tia Ambrosina, que dirigia o Tucson recém-adquirido.

Além de acionar a buzina, com bastante indignação, por ter alguém tão estrumbicado, atrapalhado sua passagem, a mulher abriu a janela lançando impropérios contra o infeliz cambaleante.

- Sai da minha frente, ô pobre inferior! Será que me atrapalha só porque tenho parentesco com os donos da cidade? Vai querer chicote?

Então Van Grogue, bem atordoado, mas lembrando-se da pessoa que o ofendia respondeu:

- O quê, tia Ambrosina? Todo mundo sabe que a senhora quer regular a vida dos outros; que trata todo mundo como se fosse retardado mental. E todos sabem também que a senhora tem o que tem, por ter roubado a herança das outras pessoas. Quem a senhora pensa que é para responder por quem não lhe deu procuração? Quem a senhora pensa que é para difamar a todas as pessoas com quem não simpatiza?

Tia Ambrosina, percebendo que os gritos na rua chamavam a atenção dos vizinhos, puxou com força o freio de mão do caro e, pondo-se a esgoelar, botou a cabeça pra fora da janela:

- Van Grogue do inferno, vou mandar internar você, seu retardado mental, seu down fugitivo da psiquiatria; vou acionar o Silly Kone e garantir seu ingresso no sanatório, sua besta inútil!

- Devolve minha herança, velha maldita. Tire seus cachorros cancerosos de cima de mim! Ladra surripiadora do dinheiro que o povo entrega à prefeitura para pagar o que é imposto. Saia logo com sua corriola de mágicos da cidade!

A tia Ambrosina sentiu-se mal naquele momento. Pensou em ligar para Tendes Trame, Jarbas o caquético, mas conteve-se. Encolhendo-se no banco, fechou o vidro e arrancou sem dizer mais nada.

Ela estava mesmo ficando velha. Já não apreciava tanto os bate-bocas fenomenais do passado, que a celebrizaram tanto. Pensando em desistir de tudo, inclusive apagando um blog que iniciara para comentar a política de Tupinambicas das Linhas, Ambrosina pisou fundo no carrão, saindo de uma vez por todas, das proximidades donde estava aquele biriteiro energúmeno.

Na vizinhança alguém batia um martelo com alguma insistência.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Equívoco pode ter causado a morte de Stephanie

A menina Stephanie dos Santos Teixeira de 12 anos morreu no sábado passado (4/12), na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, depois de ser medicada com vaselina liquida, no Hospital São Luis Gonzaga.

Suspeita-se que tenha havido um equívoco no exato momento da escolha dos frascos que continham um o soro fisiológico, e o outro a vaselina.

A pessoa encarregada de atender a prescrição médica pode ter se confundido ao escolher os vasilhames, já que eram semelhantes na forma e cor. A distinção dos produtos vinha escrita nos rótulos colados na parte externa das embalagens.

A vaselina liquida é usada na pele, nos casos de queimaduras. Já o soro fisiológico tem a finalidade de reidratar.

Stephanie foi internada por volta das 15h na sexta-feira no Hospital São Luis Gonzaga, por estar com diarreia, vômitos e dores abdominais.

O médico que atendeu Stephanie, no Hospital São Luis Gonzaga, diagnosticou virose, tendo prescrito o soro fisiológico como terapia.





segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

As Taças

Eram cinco horas da tarde daquele domingo, 28 de novembro, quando Ana Júlia e eu nos sentamos à mesa da varanda.

A tarde estava nublada, mas não havia ventos fortes; a brisa amena trazia os odores e perfumes da vegetação densa do entorno.

Uma sensação esquisita apossava-se de mim; era causada pela ausência do bulício estressante das grandes concentrações citadinas.

O som dos pássaros, dos insetos e animais da fazenda, substituíam os ruídos dos automóveis, máquinas e vozes humanas que sempre nos envolviam no cotidiano.

Podíamos ver e ouvir o cortiço das vespas no topo de uma árvore distante; elas zumbiam e agitavam-se nervosas.

Ana Júlia trouxera uma garrafa de vinho tinto encorpado numa das mãos e, na outra, um prato com queijo Roquefort. Eu havia colocado as taças sobre a mesa antes de me sentar.

Os dois cães da casa, Magna e Justinho deitaram aos nossos pés; esperavam ser agraciados com as possíveis migalhas que sua linda e jovem proprietária pudesse dar-lhes.

Era a minha primeira visita à fazenda da futura sogra. Ana Júlia e eu chegáramos ao entardecer da sexta-feira. Depois do banho demorado, durante o qual fizemos amor, jantamos e fomos para a cama. Havia muito tempo que eu não dormia tão bem quanto naquela noite.

O sábado passou com muitas expectativas e surpresas; fomos ao curral onde ordenhamos a vaca e assistimos aos últimos momentos da gestação de uma cabra.

A prenhez deixou-a bem maior do que sempre fora. Por estar muito pesada, ela passava deitada aqueles momentos finais, antecedentes da parição.

À noite Ana Júlia e eu dormimos de “conchinha”; sob o edredom volumoso, nossos corpos nus repousaram saciados.

Agora ali na varanda, diante do brilho nos olhos verdes da Ana Júlia, do tom claro da sua pele e da alegria na sua voz, harmonizados com os sons da natureza, vi-me inspirado a dar-lhe um anel significante do meu desejo de noivado.

A satisfação de Ana Júlia, impressa naquele rosto lindo e seu sim tímido, estimularam-me a propor um brinde saudando a união.

Unidos erguemos as taças da vitória. Era o sucesso do nosso amor.



Leia Moderação.
Compre agora.

sábado, 4 de dezembro de 2010

A Ira Divina

Gelino Embrulhano era um sujeito mentiroso. Além disso, ele tinha o péssimo costume de, nas reuniões dos botecos que frequentava, quando contava seus casos escabrosos, apontar disfarçadamente com as mãos, as pessoas presentes a quem antipatizava.

Numa ocasião quando Embrulhano procurava mimar o meliante furtador de talões de cheques e um Chevette velho, ele parolava assim, no bar do Maçarico, repleto de simpatizantes:

- Imagine, o cara é um infeliz, um coitado, ele bebe porque o pai dele também bebia. Tem gente que não usa de paciência com esses desvalidos da sorte – enquanto expelia suas ideias, Gelino Embrulhano gesticulava dissimuladamente em direção ao Van Grogue.

Van recebia os recados, mas não atinava na motivação, que fazia o tal Embrulhano, envolvê-lo na quizumba, arrumada pelo libertino maledicente louco.

- Pois o cara é gente simples. Um pobre que não sabe a que veio neste mundo velho de meu Deus – continuou Gelino.

- Mas espera um pouquinho ai. Por favor: digam-me se o sujeito por ser débil mental pode fazer o que deseja na comunidade, inclusive furtar um Chevette e talões de cheques – aparteou Maçarico que esfregava, com certa energia, o guardanapo no tampo do balcão.

- É claro que não pode e não deve fazer o que lhe der na telha. Principalmente se tiver consciência de que não age de maneira correta – interferiu Van Grogue já bastante perturbado pelos gestos indicativos do Embrulhano.

- Gente! Vocês não entendem! Não podemos pagar o mal com o mal – implorou Embrulhano.

- Pelo que eu sei a comunidade paga com o bem, as maldades e maledicências que recebe desse patife, há mais de dez anos. E o miserável não se emenda. Assim não dá, assim não pode – reforçou Edgar D. Nall.

- É isso mesmo. Pra que dois pesos e duas medidas? Pau de dá em Chico dá em Francisco. “Ferro na boneca”. O tratante já deu provas de que não se emenda. Se quiser drogar-se que se mude pra bem longe – reforçou Maçarico.

- Imagine se tem cabimento isso: o retardado mental rouba o carro do trabalhador, o talão de cheques do comerciante, boqueja idiotices o tempo todo, e são elas, as vítimas, que precisam de amparo médico. Vá vendo. Que absurdo! – esgoelou Van Grogue tomado pela ira divina.

- Quem dá proteção a esses malefícios é o Jarbas, o caquético. Esses detonadores da comunidade fazem parte do curral eleitoral do prefeito e do deputado estadual Tendes Trame – informou Zé Cílio Demorais, o proprietário do Diário de Tupinambicas das Linhas, que até então se mantivera calado.

O consenso não convenceu Gelino Embrulhano, que no seu íntimo, achava ser preciso dar ao difamador, muito mais do que só bons conselhos ou repassar-lhe os princípios da boa educação.





quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O Gorjeio

Van de Oliveira Grogue pisou com o pé direito, naquela manhã de segunda-feira, a soleira da porta do bar do Maçarico.

- Estou com glaucoma. Já não enxergo mais nada direito. A catarata desandou, o diabetes atacou e olha ai, estou cego. – enquanto falava Van aproximava-se do balcão, onde o solitário Maçarico apoiava o jornal estendido, em que lia as últimas notas policiais.

Maçarico pôde olhar atentamente para os olhos do seu mais tradicional cliente e então disse:

- Por que você não limpa as lentes dos óculos?

Gelino Embrulhano, o novo habitante da Vila Dependência, que se mudara há menos de um mês, no exato momento em que os dois homens miravam-se nos olhos, entrou no boteco.

- A conversa insana daquelas bocas loucas não para assim tão fácil. – falou Embrulhano vendo Grogue que tirava os óculos, limpando-os num guardanapo de papel.

- Mas não é que melhorou mesmo? – informou Van aliviado – Pô maneiro, mano olha ai.

- Maça, me vê ai uma branquinha quente e a loura fresca – pediu Embrulhano.

Maçarico já se acostumara com os jeitos dos clientes do bairro. Ele sabia, por exemplo, que Gelino não gostava de conversa mole, do henhenhém de gente desocupada.

- E ai Embrulhano, meu bom jovem, aquele pessoal conseguiu algum emprego? – perguntou Maçarico servindo o recém-chegado.

- Arrumaram nada. Ficam o dia inteiro sem mover uma palha. Só no garganteio, no gorjeio. É a bolsa família e a tal da bolsa escola que se encarregam de botar o feijão naquelas panelas. Se pelo menos aproveitassem o tempo pra aprender alguma coisa.

- Eu sei como é isso – reforçou Van Grogue – eles ficam girando em volta igual a cachorro querendo pegar o próprio rabo. Viram, viram e não saem do lugar.

- É uma tristeza. Estou desconfiado que o problema ali não seja falta de serviço. Ali a questão é de saúde mental – arrematou Embrulhano.

- O Donizete tem se consultado com o psiquiatra doutor Silly Kone, mas acho que não está tomando os remédios – informou o Maçarico, limpando o tampo do balcão com um guardanapo alvo.

- Eu não sei não, mas estou desconfiado que a solução para aqueles problemas todos talvez seja uma boa sova de couro – concluiu Van Grogue fazendo um brinde ao calor do dia que principiava.

Em uníssono, todos os demais presentes concordaram com a proposta do maior e melhor biriteiro tupinambiquense.

- Só pode ser falta de pancada! – gritou um menino que, parado defronte o bar, escutava a conversa daquela gente importante.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Face de Madeira

Você sabe o que é um cara de pau? Cara de pau é aquele vereador que, sendo analfabeto, apresenta declaração falsa no ato da inscrição da sua candidatura, na justiça eleitoral.

Face de lenha tem o proprietário de jornal que promove “curso” e “exame” para candidatos a vereador.

Cara de pau é o sujeito que comparece ao vestibular de medicina, portando equipamento fraudador; depois que se forma estupra mais de 30 pacientes.

De pau tem a cara, o parente que numa quizumba, escolhe ficar ao lado de quem não conhece, em prejuízo da vítima parental.

Possui a cara de pau também, esse mesmo parente que se nega a testemunhar um fato notório e depois de passados alguns anos, vem com o maior espírito solícito, rogar a presença em festejos.

Cara de pau tem o diretor da escola que passou o ano acicatando os professores e, nas festas de finais do período, pede a todos que compareçam ao jantar que ele pretende ofertar.

Face de madeira tem o suposto colega que, contigo diante de alguém, fala uma coisa, mas quando você já não está por perto, afirma outra completamente diversa.

Cara de pau tem a vizinha que todo mês vem lhe trazer a santa, mas que quando volta pra casa, desanda a murmurar malefícios e a destilar ódio.

Na verdade o cara de pau é o incoerente, o inconstante, o hipócrita, o mentiroso, o inconsequente.

Cara de pau mesmo é o palhaço que não está nem ai com as possíveis consequências que seus atos possam ter.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Injustiça Gera Injustiça

Não se pode negar que o fortalecimento das ações criminosas, principalmente no complexo do Alemão e Vila Cruzeiro, tiveram a “contribuição” de alguns políticos omissos.

Então quando você, na sua cidade natal, percebe as falcatruas relacionadas com licitações, ambulâncias e superfaturamento de obras, cometidas pelos distintos ocupantes do poder, e não faz nada contra, certamente estará incentivando o surgimento de “governos paralelos” como esses desbaratados ontem no Rio de Janeiro.

O sucateamento das instalações hospitalares públicas, a deterioração dos salários dos professores, os abusos cometidos nos pedágios, o enriquecimento ilícito, o controle da imprensa, em cidades vulneráveis aos corruptos, são o resultado da completa omissão e alheamento da participação popular.

O que seu deputado federal tem feito para melhorar o conforto, o bem estar e a paz na sua cidade? Ele só se dedica a financiar programas culturais e jornalísticos objetivando acicatar adversários políticos?

Você pode imaginar qual é o salário do deputado federal que acabou de reeleger? Você consegue ter a noção de quanto tempo teria de trabalhar, recebendo um salário mínimo, para conseguir o que um só deputado federal recebe, entre verbas diversas e salários, num mês?

E aquele vereador analfabeto, que quando se candidatou, afrontou a constituição da república apresentando documentos falsos? Hoje ele comemora vinte, trinta anos de ocupação no cargo. Você teria a “cara de pau” para fazer isso?

São essas mazelas que induzem, de uma forma ou de outra, o surgimento do tal poder paralelo, que acabamos de ver derrotado no Rio de Janeiro.

Só para relembrar: seria difícil entender que a sensação de injustiça provocada pela vitória de uma única empreiteira, durante o mandato de um prefeito, conduziria a consequências tão graves, como o desencadeamento de ações criminosas e organizações semelhantes às que acabamos de ver pela TV?

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Vamos Trabalhar?

Parece que o deputado federal Antônio Carlos Mendes Thame (PSDB) não desfrutará da companhia do palhaço Tiririca no congresso nacional.

Uma perita técnica atestou, recentemente, que o cidadão obtentor de mais de um milhão e trezentos mil votos, ou seja, que recebeu mais sufrágios do que qualquer outro pretendente a cadeira no legislativo federal, é mesmo incapaz de ler e escrever.

Imagine você, meu amigo leitor, o choque “térmico”, o embate cultural, ou as reações produzidas pelas interações técnicas, entre o doutor formado pela USP, e o senhor Everardo, agora categorizado como analfabeto funcional.

Na verdade a posse do senhor Tiririca serviria como uma espécie de alento balsâmico consolador a todos os que nele votaram. É como se dissessem:

- Olha lá, está vendo? O Tiririca é analfabeto, mas ganha muito mais do que qualquer doutor por aí. Então, pra que estudar, não é verdade?

Dessa ironia do destino o senhor Thame está praticamente isento.

Já imaginou que chato seria se a vizinha da professora Carolina Thame, só para provocar, numa reunião rápida, à porta da casa, logo depois da mestra ter chegado de uma incursão ao mercado municipal e, ainda cheia de sacos e embrulhos, comentasse:

- Mas que coisa né comadre? Tem gente que estuda tanto pra conseguir um carguinho bom, no entanto podemos perceber que não é necessário esse esforço assim. A senhora não viu o Tiririca? Ele não sabe fazer o “ó” com o copo, mas também ganha igual aos catedráticos.

O Tiririca é uma amostra da atual realidade do ensino público brasileiro. Existem no mínimo, um milhão e trezentos mil analfabetos funcionais que, com certeza, justificariam essa condição anunciando o fato de que tinham de trabalhar e por isso não frequentaram a escola.

O nosso querido palhaço Tiririca não pode alegar ter sido pego de surpresa. Ele não pode alegar que não esperava esse tipo de atitude dos encarregados da defesa da constituição da república.

Tiririca, e os que o inscreveram, tentaram investir contra o preceito constitucional que veda o ingresso de analfabetos funcionais nas câmaras legislativas.

Aqui em Piracicaba muitos e muitos analfabetos foram eleitos, tomaram posse, criaram e empregaram seus filhos. A diferença entre esses políticos de Piracicaba e o palhaço, é que no caso dos ignorantes daqui, ninguém denunciou.

A solução para esse problema, criado pelo palhaço e sua equipe, seria ou erradicar o analfabetismo no Brasil, ou propor uma emenda à constituição que admita o acesso dos analfabetos.

Já que pensarão nesse assunto que tal preparar também um texto que garanta o direito do cidadão de, com sua ausência, poder dizer aos senhores políticos, o que ele realmente acha dessa patacoada toda?

Vamos lá senhor Thame? Vamos trabalhar?



sexta-feira, 19 de novembro de 2010

O frisson nas meninas

Onde você estava e o que fazia em 1964? Eu particularmente vivia em Piracicaba, estava com 13 anos de idade e como quase todo moleque rueiro do interior, pouco me importava com as críticas dos adultos que se preocupavam com o nosso futuro.

Não tínhamos televisão em casa e o rádio era usado por mim, mais para ouvir as radionovelas do que curtir as canções da época. Eu achava que Lupicínio Rodrigues, Maysa, Dalva de Oliveira, Nelson Gonçalves e os bambas do samba, daquele tempo, tocavam músicas digamos, tristes para o nosso gosto.

Então além das aulas ginasiais no Jerônimo Gallo, da piscina no Clube de Regatas, dos passeios de catraia pelo rio Piracicaba, dos filmes nos cines Broadway, Palácio, Politeama e Colonial, das visitas aos colegas da vizinhança, nós curtíamos também as caminhadas a pé e as praças onde se podia descansar.

Numa ocasião um moleque vizinho, filho de um comerciante de armarinhos da Rua Governador Pedro de Toledo, na praça que fizeram defronte ao grupo escolar Barão do Rio Branco, trouxe um disco de um “conjunto” novo que fazia sucesso.

Na eletrola portátil, que minha mãe comprara pra ouvir os discos do Roberto Carlos, da Wanderléia, do Erasmo Carlos e toda aquela turma da Jovem Guarda, ouvimos aqueles caras que provocavam muito frisson nas meninas.

Eram os Beatles.

Nós não entendíamos nada de política, renúncia do Jânio Quadros, de golpe de estado, militares tomando o poder, perseguição e morte de terroristas, muito menos compreendíamos o inglês. Mas o ritmo, a sonoridade e a alegria que se percebia no som daqueles caras, nos contagiaram de imediato. Não é preciso dizer que ouvimos o LP mais de uma vez naquela tarde.

Os Beatles marcaram um momento de mudança nos costumes daquele tempo. Antes deles era todo mundo muito comportado, cabelos curtos, roupas discretas, os tabus eram tabus mesmo e um simples relar de braços ou dedos no braço ou dedos da irmã do nosso colega, quando sentados no sofá da sala, podia significar intenção de compromissos eternos.

Foram tempos muito bons e que não voltam mais. Pra você que viveu aqueles momentos lindos, relembre-os ouvindo a sonoridade que os carinhas aí do vídeo transmitem.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

O ARMÁRIO PRATA

Pitirim Zorror acordou, naquela manhã de segunda-feira, com uma dor de cabeça horrível. Seu companheiro de quarto, ali no famoso Spa Naka, roncara a noite inteira. Apesar do adiantado da hora, aquele gogó ainda estrondeava.

Ambos internaram-se na clínica objetivando perder peso e livrar-se dos incômodos da intoxicação causada pelo uso diário do álcool. Pitirim arrancou o travesseiro debaixo da cabeça pesada e lançou-o contra a fonte insuportável de ruídos.

Ernesto Mail assustou-se com o impacto. Atordoado, ele pode ouvir o trinado dos pássaros, àquela hora da manhã. Nervoso ele exclamou:

- Que saco! Não se pode mais, nem ao menos, dormir direito nesse lugar.

Um odor de café coado naquele momento evolava no ambiente, aguçando a fome nos demais residentes.

Pitirim percebeu suas mãos trêmulas. Ele sabia que só as teria firmes, depois duma talagada generosa. E. Mail começou a falar:

- Eu notava que os vizinhos da minha casa conversavam, sobre mim, com os vizinhos daquele boteco, lá no centro. Eu tenho certeza que eles todos comentavam sobre minha... minha... nobre... pessoa, com os vizinhos da construtora onde eu aparecia todas as manhãs, para trabalhar.

Pitirim levantou-se e foi dizendo:

- Já está delirando a essa hora! Você não é oceano, mas tá cheio de ondas hein, ô da psicose! Vai se levantando rápido. Aquele enfermeiro maluco vem chegando aí. Você sabe que ele não vai com a tua cara.

Pitirim sentiu que fora um tanto quanto seco e rude com o parceiro. No fundo sabia que Ernesto Mail tinha razão e estava certo com as suas percepções. O pessoal da seita maligna do pavão-louco não era flor que se cheirasse. Aquela gente era de morte.

E. Mail, tossindo, botou os pés no chão. Seus cabelos estavam desgrenhados; o rosto mal barbeado e vermelho. Em tom de cochicho ele perguntou:

- E a mais lindinha? Acabou?

Pitirim, percebendo que aquela concorrência, poria em perigo o prazer da embriaguez do dia, asseverou:

- Acho melhor você se cuidar. Aquela turma do pavão-louco está todinha atrás de você. Eles estão com ódio e desejam ver-te mais seco do que roçado nordestino.

Ambos se preparavam para descer e tomar o café matinal. Vestiam-se vagarosamente. De repente, as palmas estaladas à porta, assustaram os internos. A enfermeira Lucila Mao Mé, magra à semelhança dum frango morto, depenado e dependurado, mostrando muita irritação, esbravejava:

- Vamos logo, se não vocês perderão a hora do desjejum. Parece que não sei... Parece que bebem...

E. Mail sussurrou:

- Ih rapaz! É aquela louca que confunde colega com Corega. Tamos ferrados!

Pitirim emendou:

- Essa capivara não tem carrapato com maculosa, mas pode te esquentar a cabeça. Vamos logo, ô praga de usineiro, sai da frente!

No refeitório, sentados um defronte ao outro, eles conversavam, entre goles compassados de café com leite. Ernesto Mail disse:

- Piti hoje tenho consulta com o endocrinologista. Ele pediu que eu escrevesse alguma coisa relacionada com o meu peso. Bolei essa cartinha. O que você acha?

Pitirim pegou o papel e mordendo um pedaço de torrada, passou a ler. O texto dizia assim:

"Quando era criança e já bastante gordinho, a molecada do bairro zoava-me muito durante as corridas pelo quarteirão. Eu sempre chegava por último. A gozação era geral: todos subiam na jabuticabeira e eu não podia nem ao menos passar pela segunda forquilha. Confesso a você que até mesmo as escadas conseguia descer. Eu próprio sentia compaixão por minha pessoa. Vá vendo... Mas do rio não é bom falar. Todos chegavam correndo às margens e, aos saltos, entravam n´ água. Saíam nadando, enquanto eu afundava igual a martelo."

"Diante desses fatos fui ficando assim meio caseiro, inferiorizado. Aquele senso de dessemelhança que se apossa do fofinho que vive num grupo de magros, obrigou-me a desenvolver a inteligência agressiva e a astúcia exuberante. Eles não contariam com a minha astúcia."

"Passei a escrever poesia quando estava supergamado e não tinha coragem para declarar meu amor."

"Os dias sucederam-se e eu ficava cada vez mais velho. Comecei a fumar. Pensei que fosse emagrecer com o tal hábito. Mas que nada. A adiposidade em meu corpo aumentou de tal forma que eu já não conseguia mais ver o biribiguá. Mas também pelo tamanho com que ele se apresentava, seria melhor que eu não me lembrasse da sua existência. Era humilhante."

"Reuni minhas poesias em alguns livrinhos xerocopiados e passei a oferecer às pessoas. Houve certa aceitação. Pelo menos em tais contatos sociais não haveria tantos rebaixamentos. Eles (os contatos sociais) se davam sob assuntos intelectuais e não por desempenhos físicos. Até aí tudo bem. Não encontrei nenhum concorrente que me pudesse fazer sombra."

"Reinei só durante alguns anos em nossa comunidade, sendo conhecido como Ernesto Mail Catão, o poeta pimpão."

"Mas você sabe como é: precisamos fazer algo de útil e remunerado durante essa nossa passagem pela terra. Se não, como sobreviveremos, não é verdade?"

"Ingressei então, pelo poder e graça dos grandes padrinhos, e por que não dizer, por minha capacidade intrínseca também, no serviço público municipal."

"Meu salário era ruim. Era tão minguado que me impedia de ver, e não via mesmo, outra alternativa para reforçar o orçamento, do que a da aceitação de bolas."

"A corrupção a que me submetia, quero deixar bem claro, não era prejudicial ao empregador a ponto de o fazer instalar uma CPI e me defenestrar do cargo. Tudo era muito leve e sutil. Espirituosamente sutil."

"Os anos passaram e agora, curto o diabetes, responsável pela minha disfunção erétil."

"Estou careca, gordo e com o bimbo mole. Mas escrevo minhas poesias. Gosto ainda de contar mentiras e, às ocultas, assoprar os defeitos alheios. Apesar dos laranjas e larápios viverem a dizer que não enxergo a trave no olho próprio."

"Nada mal para quem era um gordinho com nádegas flácidas e sem futuro. Não é verdade?"

Pitirim Zorror terminou a leitura e tossindo levemente disse:

- É bastante significativo. Tem conteúdo. O doutor vai entender que você era inferior e que por isso, para compensar, fazia essa poetagem toda. Seu caso assemelha-se aos demais integrantes dessas seitas malignas. Para ser aceito nelas é preciso estar separado do cônjuge, ser tabagista, obeso, alcoólatra, analfabeto, adolescente ou idiota. As maldades que praticam são compensações pela inferioridade material. Ajudam manter a autoestima.

Enquanto falava Pitirim não percebeu a aproximação de um novo interno. Era um sujeito alto, pelancudo, usava bigodes brancos e sujos; seus óculos estavam embaçados. Ele caminhava arrastando a perna direita. Calçava pantufas verdes e sua blusa era azul. O adoentado batia palmas e cantarolava: "É na palma da bota/ É na sola da mão..."

Ernesto e Pitirim se entreolharam e sem dizer palavra, saíram correndo a caminho do quarto. Lá no canto, no fundo do armário prata, estavam escondidas as garrafas de filha-de-senhor-de-engenho, néctares muletas que os fariam aguentar as chatices daquilo tudo.

Texto publicado originalmente em 14/10/2005 no site usinadeletras.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

O Conflito

Os Evangelhos afirmam que são bem aventurados, dentre outros, os pobres de espírito, pois deles será o reino dos céus.

Quero entender aqui, como pobres de espírito, os analfabetos, que já no tempo de Jesus, medravam aos milhares.

Imagine as ondas sucessivas de indignação, vindas das vísceras populares, ante os ensinamentos daquela criança, que no meio dos experimentados da lei, falava sobre os antigos profetas.

- Mas como é que pode isso, quem deu autoridade, de onde vem esse conhecimento, dessas coisas? – perguntavam os embasbacados senhores dos templos, daquele tempo.

Jesus queria ser profeta, sacerdote e rei, mas não contava com o apoio dos sacerdotes e nem dos políticos. E foi dessas áreas que vieram as tramas que o levaram à crucificação.

Ainda hoje os pobres de espírito podem ter o reino dos céus. Mas se esse reino depender da lei dos homens, alguns analfabetos não poderão entrar.

É o caso do palhaço Tiririca. Eleito com mais de um milhão e trezentos mil votos, identificáveis consigo, esse personagem da história brasileira, pode não usufruir das benesses do cargo, se a lei for seguida a risca.

Veja você o que está na balança: de um lado as intenções de mais de um milhão de pessoas. Do outro as determinações feitas por políticos também alçados aos cargos eletivos, pela vontade popular.

Na minha opinião o próprio interessado deveria resolver esse conflito entre o coração e a razão, entre as normas morais e legais dizendo, numa defesa por escrito, que é bem alfabetizado, tem interesse em ocupar o cargo e como poderia, com seus dotes circenses, auxiliar o progresso da nação brasileira.



sábado, 13 de novembro de 2010

Falta de Educação

Acho extremamente boçal essa atitude de intocabilidade que se tem diante de uma pessoa, ou grupo, que infringe diuturnamente as regras da boa educação e do viver em paz.

A comunidade justifica a omissão em praticar a correção dos maus costumes, apontando a total deficiência mental dos infratores.

Ora, dessa forma estaria a sociedade toda dizendo: “Não ligue pra isso. Eles são assim porque não batem bem da bola”. A deficiência mental seria então o passaporte para a impunidade.

Uma das conclusões a que induz esse tipo de alheamento comunitário, é a de que as pessoas têm, na verdade, medo de se envolver com os ignorantes praticantes da violência.

Ainda mais pelo fato de terem os tais meliantes, parentes funcionários públicos, simpatizantes nas igrejas e no legislativo municipal.

Ora, de acordo com esse tipo de mentalidade equivocada, observável na comunidade, um bêbado pode agredir tranquilamente a qualquer outro cidadão e ver-se livre das consequências dos seus atos, com a justificativa de que é um bêbado.

Não esposo a ideia de que as pessoas de boa índole devam ficar reféns dos maus carateres, por serem eles pobres portadores da idiotia ou do alcoolismo.

Chegamos a um estágio de evolução que não se permite mais a falta de educação, as grosserias e a estupidez impunes, justificadas por defeitos genéticos ou doenças mentais.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

O Insulto às Crianças

O sujeito desempregado, geralmente analfabeto, que fica o dia inteiro dentro de casa, falando asneiras sem parar, atrapalhando o andamento normal do lar, pode ter exacerbada sua patologia mental e agredir os familiares.

A violência ocorre, no mais das vezes, contra enteados, crianças menores de idade que, além de impossibilitadas de se defender, não conseguem convencer a mãe, avós ou até mesmo os tios, de que é vítima de agressões.

Se o pai do padrasto agressor tinha histórico de alcoolismo e praticava violência contra vizinhos, é provável que neste meio familiar, essas atitudes agressivas possam ser consideradas “normais”.

A personalidade criminosa, desejando manter o controle do ambiente usa mentiras, falcatruas, enganações e muito insulto, que comete às ocultas, contra as crianças.

Essa maneira de provar seus pontos de vista equivocados, fazendo uso desses expedientes indignos, produz cicatrizes emocionais indeléveis no espírito das vítimas infantis.

O exercício dessa autoridade criminosa dentro do lar, quando pratica, de forma velada, a violência contra os indefesos, deseja na verdade, obter o respeito, a admiração do parceiro ou dos demais integrantes do grupo familiar.

Veja que o sujeito busca a respeitabilidade usando meios inidôneos. Podemos comparar esse gesto com o do assaltante que consegue fortuna e honorabilidade assaltando bancos.

A demonstração ao agressor de que o que ele vem fazendo não é justo, humano, cristão ou lícito, incumbe aos parentes mais próximos. E se for o caso, ao conselho tutelar do município.



segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O Emprego

O vereador tupinambiquense Zé Lagartto, tendo sido reeleito, achou oportuno acumular os vencimentos da câmara municipal, com os salários pagos aos que ocupavam cargos nas secretarias municipais.

Diante dessa possibilidade, bastante plausível, ele teve uma ideia, laborando em seguida um plano.

Numa tarde de sábado, quando a empregada Zoraide preparava a janta, Lagartto pegou o telefone celular e simulando uma conversa com alguém, dizia de forma bem ostensiva:

- Pois é... Comentam no gabinete que o prefeito Jarbas me nomeará secretário da administração municipal... É... Sim, eu aguardo agora um comunicado oficial. Você entende?

Enquanto Lagartto falava, Zoraide, fritando os bifes e requentando o feijão, ouvia atentamente as palavras ditas pelo edil.

À noite quando chegou em casa Zoraide conversou com o marido Mário:

- Nossa! O Zé Lagartto além de ser reeleito e ter o direito de receber mais 48 salários de vereador, foi escolhido pelo prefeito, para ocupar a secretaria da administração. Então ele vai juntar a bufunfa de dois empregos. Isso é que é rabo.

Mário ouviu com atenção a notícia, mas não acreditou. Queria confirmá-la.

Então, no domingo, já no boteco do Maçarico, Mário comunicou os fatos aos colegas que bebiam cerveja.

O diretor proprietário do Diário de Tupinambicas das Linhas, Zé Cílio Demorais, que só bebia cerveja numa caneca de alumínio, enfeitada com o distintivo do Corinthians, que levava para o boteco, ouvindo as novas contadas por Mário, ligou ao repórter que, na redação do matutino, digitava um texto.

Marcelo ouviu atentamente as instruções de Zé Cílio e ao desligar o telefone, iniciou uma pesquisa de levantamento dos dados pessoais do vereador Zé Lagartto.

Na segunda-feira pela manhã, Lagartto que ainda não fora empossado no cargo de vereador, mas que desfrutava os últimos meses da gestão antiga, recebeu uma ligação. Era o repórter Marcelo do Diário de Tupinambicas das Linhas.

Depois dos cumprimentos formais, Marcelo perguntou se era mesmo verdade que o prefeito Jarbas o nomearia secretário municipal da administração.

Na terça-feira uma nota na primeira página do vetusto jornal tupinambiquense informava não ser verdadeira a informação de que Jarbas, o caquético, nomearia Zé Lagartto como secretário municipal. Mas se o prefeito o convidasse ele aceitaria prontamente.

Ao chegar à prefeitura, na terça-feira, Jarbas foi abordado pela chefe do gabinete, dona Francisca Bonoito, que lhe mostrou a publicação.

Jarbas tinha recebido o recado. Abrindo a agenda que continha a lista das pessoas que comporiam o seu futuro secretariado, anotou nela o nome do vereador Zé Lagartto.

domingo, 31 de outubro de 2010

Dilma Rousseff é eleita presidenta do Brasil






A candidata da coligação Para o Brasil Seguir Mudando Dilma Rousseff foi eleita hoje presidenta do Brasil. Com expressiva vantagem sobre José Serra do PSDB, Dilma assegura seu lugar na história como a primeira mulher a chegar ao cargo máximo da República.

Agora há pouco, Dilma fez o seu primeiro pronunciamento à nação agradecendo a Deus, ao povo brasileiro e à militância, assegurando que honrará a confiança nela depositada.

A presidenta afirmou ainda que reforçará as instituições republicanas e garantiu que todos terão chances iguais durante o seu mandato.

Dilma garantiu que manterá as portas abertas aos que se dispuserem a servir, a trabalhar pelo Brasil, independente da filiação partidária.

Durante o pronunciamento, transmitido ao vivo pela Rede Globo, durante a programação do Fantástico, os presentes homenagearam o presidente Lula com um coro emocionado.

Dilma Rousseff lembrou ter aprendido com Lula que quando se faz algo útil, em benefício das pessoas menos favorecidas, uma poderosa força vital se levanta em sentido favorável.

O primeiro pronunciamento da recém-eleita presidenta da República durou vinte e cinco minutos, sendo transmitida para milhões de brasileiros.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Os compromissos com o desenvolvimento social





Um governo justo não pode ser só para poucos e bons. O governo justo atende a todos, especialmente aos milhões e milhões de brasileiros que carecem das ações conducentes ao pleno desenvolvimento social.

Esse modelo elitizado, de uma aristocracia monárquica, que ainda se vê agregado ao poder, em algumas cidades brasileiras, tem a característica segregadora bastante acentuada.

Constata-se esse traço próprio da soberba monarquista, quando na viciação das licitações públicas, permite que somente as empresas do próprio grupo vençam-nas.

Em Piracicaba, logo depois que o senhor Barjas Negri (PSDB), foi empossado no cargo de prefeito, uma só empreiteira venceu mais de trinta licitações.

Tivemos também o caso da linha Lilás do Metrô de São Paulo, cuja licitação feita no governo do senhor José Serra, tinha só a aparência de licitude. Na verdade antes mesmo do início do processo licitatório a Folha de S. Paulo já sabia quem o venceria.

Esses crimes favorecem a esse tipo de político condenável, em detrimento de uma população inteira que deixa de ser atendida em seus direitos constitucionais mais básicos.

Não deixa de ser muito próprio do PSDB o agir às ocultas, às escondidas, longe da transparência, longe da luz e aos murmúrios.

Afinal como é possível somente alguns privilegiados vencerem as concorrências, se não houver os crimes efetivados às ocultas e aos sussurros?