domingo, 29 de novembro de 2009

Psiquiatra Suspeito de Estupro Continua Trabalhando

Um médico psiquiatra de 48 anos do Porto, indiciado há uma semana por suspeitas de violação de uma paciente grávida de 30 anos, residente na Vila Real, ainda exerce suas funções num organismo do Estado, ligado ao Instituto da Droga e Toxicodependência (IDT).


Mesmo depois da detenção e libertação, por decisão do juiz do Tribunal de Instrução Criminal do Porto, o médico tem dado consultas num Centro de Respostas Integradas do IDT, localizado numa zona central da cidade do Porto.

De acordo com informações recolhidas pelo jornal português on line Jornal de Notícias, a situação suscitou interrogações nas pessoas conhecedoras da existência do processo crime e da investigação. Mas o acusado explicou não ter quaisquer limitações de trabalho, no âmbito do seu cargo público.

"A medida de coação incide apenas na suspensão de exercício de clínica privada", explicou o seu advogado, Álvaro Cardoso Lima à reportagem.

A decisão judicial justificar-se pelo fato de que a alegada violação da doente ter acontecido durante uma consulta no consultório particular do psiquiatra, instalado na sua residência, na zona da Foz do Douro, no Porto.

A atividade pública do clínico consiste no apoio à recuperação da toxicodependência, não sendo conhecidos quaisquer casos similares envolvendo crimes sexuais.

Apesar disso, durante os últimos dias, a imprensa procurou saber se o psiquiatra foi alvo de qualquer averiguação interna no serviço onde se encontra. Por outro lado, a Ordem dos Médicos já explicou que abrirá um inquérito disciplinar, para averiguar o que pode ter causado o desrespeito aos deveres profissionais.

Como medidas punitivas adicionais, o médico acusado está ainda proibido de sair do país e obrigado apresentar-se semanalmente à polícia.

A mulher que teria sido manietada antes da violência sexual apresentou queixa à polícia, logo em seguida ao crime, tendo sido submetida a exames médico-legais.



sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Padrasto Violenta e Mata Criança

É mais um caso triste de criança que não teve tempo de ser feliz. Uma menina de três anos, supostamente agredida e violada pelo companheiro da mãe, morreu na quinta-feira (26) à noite no Hospital Universitário Nossa Senhora de Candelária, em Tenerife, Espanha.


O alegado agressor, de 24 anos, teria agredido e abusado da menor enquanto esta se encontrava sob sua guarda, na quarta-feira. Pelas 22h00, o jovem levou a menina a um centro de saúde, onde o primeiro diagnóstico deu conta de que a criança estava com uma parada cárdio-respiratória, além de ter distintos traumatismos no corpo e múltiplas lesões por queimaduras.


Avisados de imediato, os agentes da polícia detiveram o padrasto da criança, que foi acusado de cometer o delito de abuso de menor e de lesões corporais.


A menina não sobreviveu aos traumas, tendo falecido ontem à noite. Por ser menor de idade, as autoridades de saúde espanholas não revelaram maiores detalhes do seu quadro clínico, informou hoje o jornal português on line Correio da Manhã.





quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Anibal, o Cortador de Cana

Aníbal depois que chegava em casa, vindo da roça, onde passava a maior parte do dia cortando cana, tomava banho e arreava o burrão, atrelando nele a charrete, usada para comparecer ao bar do Maçarico.


Isso era o que comummente acontecia. Pois foi naquela tarde de terça-feira que Aníbal, cansado da lida no eito, chegou à choupana habitada por ele, a mulher, e os dois filhos.

O homem vinha nervoso, exausto, fedido, mal humorado e ansioso pra beber, junto com os companheiros, o primeiro gole de pinga num dos botecos da cidade.

- Cadê a canequinha pra tomar o banho? – gritou ele, cheio de ódio, à Murtinha. A mulher temerosa com os espancamentos habituais olhou para a porta do barraco; queria-a desimpedida, para no caso de algum influxo de piti virulento, acometer o marido, pudesse ela safar-se com sucesso.

- Não sei. Deve estar perto do poço. – respondeu ela parada defronte ao fogão à lenha, onde enxugava as mãos no avental amarrado na cintura.

- O Nelsinho brincava com a caneca lá perto da fossa. Será que não está lá? – completou Murtinha cheia de boa vontade.

- Na fossa? Mas esse moleque quer mesmo levar uma surra! Será que não aprende? – Aníbal já estava sem camisa, sem as botinas e de calção, queria lavar-se.

Depois que ele vestiu os chinelos, saiu em direção ao local por eles chamado banheiro. Na verdade o chuveiro não passava de uma lata cheia d´água fria, antes retirada do poço, mantida suspensa num poste e, inclinada ao ser puxada por uma cordinha, deixava cair o líquido sobre o banhista. Uma bacia posta sob os pés do usuário, reservava a água que depois era reutilizada para o enxágue com a caneca.

Aníbal lavou-se apressadamente, enxugou-se e de volta pra casa, vestiu-se aproveitando a privacidade relativa do quarto. A casa não tinha forro e as paredes chegando até certa altura, não vedavam completamente o cômodo. Permanecia um espaço grande do limite superior das paredes até o madeiramento que sustentava as telhas.

Não eram raros os momentos de amor entre Aníbal e Murtinha, cujos gemidos eram ouvidos pelos filhos, deitados no aposento contíguo.

Mas naquela terça-feira, com uma vontade incontrolável de beber a sua pinga necessária Aníbal, já vestido mandou laçar o burro que pastava na redondeza. Ele então preparando os arreios e a charrete, atrelou-os no animal que ruminava.

O lavrador pegou aquele seu rádio enorme e ligando a fiação numa bateria de automóvel mantida no assoalho da viatura, acionou-o podendo ouvir, naquele momento, a história do menino da porteira, cantada pelos violeiros famosos.

Ajeitando o chapéu de caubói no alto da cabeça, por sobre os cabelos que embranqueciam, e espancando o burro com um açoite, pôs-se o Aníbal a caminho da sua mais nova e esperada aventura etílica.

Momentos antes de sair da propriedade, de passar por seus limites, antes mesmo de chegar ao portão, ele parou e voltando-se pra trás gritou:

- Mulher! Ô mulher: não esquece de dar painço pros periquitos! Você ouviu criatura?

Murtinha apareceu à porta da cozinha e acenando pro marido, propiciou a ele a despreocupação que precisava, para beber sem atropelos.

Ao chegar ao bar do Maçarico Aníbal encontrou Van Grogue que sentado numa mesa de canto, lia a seção de esportes do jornal tupinambiquense.

- Ué, mas não houve coleta de lixo hoje por aqui? – perguntou o cortador de cana pro Maçarico, depois de apontar com o queixo o bêbado leitor.

Maçarico sabia que os dois não se davam. Primeiro porque Van Grogue era muito mais novo que Aníbal, segundo porque este não era letrado o que dificultava a compreensão dos ditos pelo primeiro.

Por ser incapaz de entender o que dizia Grogue, Aníbal considerava-o louco. Era o jeito que ele usava para manter a sua autoestima inalterada, geralmente abalada pelos discursos do homem, sabedor de tudo o que publicavam os jornais.

Maçarico abriu uma cerveja servindo o lavrador. E querendo ajudar disse:

- Eu também não tive tempo de aprender a leitura. Precisei trabalhar cedo. Meu pai cortava cana. Minha sorte foi que minha tia veio de São Paulo e me levou pra casa dela onde aprendi o bê-á-bá.

- E se não tivesse aprendido, hoje você seria babá de criança retardada, com certeza. – arrematou Aníbal para o espanto do Van Grogue que se desconectou da leitura.

- Ora, ora, mas vejam quem está aqui. O famoso Aníbal, o homem que gosta de caçar e prender periquitos. Você ainda está vivo criatura? O que sucede? – Grogue com a voz pastosa de quem já bebera a cota do dia, levantava-se para se achegar ao carroceiro.

Aníbal evitando qualquer contato com aquela figura detestável, pediu ao Maçarico que lhe vendesse um garrafão de pinga. Depois de pagar a mamãe-sacode e a cerveja, que deixou por terminar, ele saiu dizendo:

- Antes beber sozinho a baronesa do que a cerveja gelada, em má companhia.



Fernando Zocca.





quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Anibal, a Gazela

Aníbal, a bichinha, era analfabeta. Ela nascera no meio do mato e não pudera aprender a ler nem escrever. Mas não foi por isso que deixou de trabalhar. Muito pelo contrário, Aníbal desenvolveu uma enorme capacidade para cortar cana tendo, na adolescência, conseguido um emprego numa fazenda oligárquica de Tupinambicas das Linhas.


A gazela era alta, gorda, bastante grosseira e gostava de castrar porcos e cães na pancada. Suas mãos enormes, quando seguravam uma criança, faziam os pais temerem pela saúde do infante.

Depois que se tornou adolescente Aníbal passou a gostar de charretes e quando não tinha ainda os animais que as puxasse, reforçava seus músculos puxando-as ele mesmo, pelas estradas empoeiradas da periferia da cidade.

Quando chegou à velhice achava que podia controlar as mentes das pessoas e, em transes, imaginava comandar os moradores do bairro. Apesar de ter muitos parentes avessos ao trabalho, ele não se incomodava tanto com isso. Por não ter mais onde gastar os proventos da aposentadoria que recebia, abastecia a casa dos vadios, facilitando a eles as ações maldosas nos quarteirões.

Com a idade que chegava seus juízos já não correspondiam à realidade e não era raro aparecer, aos encontros marcados, depois de ter eles há muito terminado.

O analfabetismo fazia dele um bocó impotente para saber as verdades contidas nos livros dos doutores que ele sempre via nas estantes de longe. Apesar da curiosidade que o movia a folhear um ou outro impresso, detinha-o logo o desalento por nada entender.

Teimoso feito uma mula chucra, Aníbal gostava de ver prevalecer as suas opiniões ameaçando aqueles que ousavam discordar. “Um burro” diziam dele as pessoas depois que delas se afastava o mandão.

Quando percebia estar sua autoestima baixa, por chateações causadas pela surdez, ou cegueira senil, ele apressava-se em comprar uma paçoca ou cocada doando-as aos afilhados, amontoados no cortiço catinguento, que sustentava.

Diziam que Aníbal era cruel. Na verdade ele fora bêbado e tivera o privilégio de ser um dos primeiros pacientes a inaugurar a clinica psiquiátrica de Tupinambicas das Linhas.

A Clínica de Repouso BemBom de propriedade de alguns industriais tupinambiquences, ficou conhecida como a casa que mais se destacava na recuperação dos bebuns da região. Depois de ter permanecido por longos meses sob a custódia dos enfermeiros rígidos, Aníbal concordou que seria mais confortável manter-se sóbrio. Doía menos.

Como era aposentado e não tendo o que fazer com o dinheiro que recebia, além de sustentar os vagabundos do cortiço catinguento, ele comprava, reformava e vendia charretes, empregando o seu tempo no que ele achava ser útil.

As deficiências sensoriais faziam do infeliz, a cada dia que passava, um velho tolo que julgava poder punir aqueles a quem antipatizava, com as maldades nunca dantes imaginadas, nas plagas da cidade abandonada.

Por dizerem ser o Jarbas testudo caquético energúmeno, uma das vítimas preferidas pelo Van Grogue, punha na sua ingenuidade, o vovô gazela, suas forças objetivando gorar o bem estar do pingueiro.

O vovô antílope, usando o tempo que lhe sobrava, passeava pela cidade distribuindo balinhas e pregando razões contra a permanência do ébrio Grogue nas plagas tupinambiquences.

Aníbal o ruminante, chegava aos oitenta anos com facilidade; apesar das limitações impostas pela surdez e cegueira, tinha ainda muita lenha pra queimar. Era o que ele achava.




Fernando Zocca.

Leia O Telescópio.


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terça-feira, 24 de novembro de 2009

Deputados Usam Verbas de Reembolso nas Eleições

A Folha de São Paulo publicou nesta terça-feira, (24/11) matéria sobre o uso do dinheiro público por pelo menos sete deputados federais, nas eleições de 2008, pelas quais elegeram prefeitos e vereadores em todo o Brasil.


Segundo a reportagem os listados Fernando Gabeira (PV-RJ), Jader Barbalho (PMDB-PA), Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG), Narcio Rodrigues (PSDB-MG), Giovanni Queiroz (PDT-PA), Fábio Ramalho (PV-MG) e Paulo Rocha (PT-PA), usaram o numerário da Câmara dos Deputados para o pagamento dos aluguéis de aeronaves, carros, e hospedagem dos seus assessores durante o pleito.

Os recursos utilizados pelos parlamentares foram criados em 2001 e serviriam para o reembolso das despesas dos legisladores com a alimentação, hospedagem, gastos com escritórios, combustível e todos os demais relacionados ao exercício do próprio mandato.

Gabeira gastou R$ 6.600 no aluguel do carro que o transportou durante a disputa pela Prefeitura do Rio. “Os caras andavam comigo em um Gol, não dava para colocar quatro pessoas”, disse o parlamentar. “Gabeira disse não considerar incorreta a atitude, porque a Câmara permite o aluguel de carros e porque ele repassou um carro seu (um Gol) para uso do gabinete”, informa a reportagem.

Jader Barbalho apresentou R$ 22,8 mil em notas fiscais de uma locadora de veículos. Um dos sócios da empresa relacionou o aluguel a ônibus e caminhões, e o gabinete disse que eles não foram utilizados em campanha, de acordo com a reportagem. A Folha de São Paulo lembra que o deputado participou entre outras, da eleição que elegeu o peemedebista Helder Barbalho, filho de Jader.

Paulo Abi-Ackel disse que “transferiu o gabinete de Brasília a Governador Valadares”, sua base eleitoral, para coordenar as campanhas do seu partido em Minas. O deputado gastou R$ 8.898,52 com a hospedagem de sua equipe em uma pousada. “Se você é deputado, tem de participar das eleições municipais. Esse tipo de atividade é atividade do parlamentar. Eu não era candidato a nada”, afirmou Abi-Ackel.

Segundo a reportagem, repercutida também pelo G1 de Brasília, Narcio Rodrigues apresentou R$ 2 mil em nota de hospedagem, em Minas, dois dias após o primeiro turno das eleições. “Toda minha base de campanha é na região de Frutal, é a minha terra. É muito difícil você dizer em que hora você está no exercício do mandato e em que hora você está em uma atividade partidária”, disse o deputado.

“Giovanni Queiroz gastou R$28.296,00 em cinco empresas de táxi aéreo”, informa a Folha. “[Se] eu negar que tenha voado para o encontro de demandas eleitorais, estarei mentindo”, disse o parlamentar.

A reportagem informa que Fábio Ramalho foi reembolsado pelo aluguel de helicópteros para “percorrer municípios de sua região nas semanas anteriores às eleições”, mas não divulga o valor. “Usei porque eu posso usar para deslocamento. Não é vedado. A não ser que fosse para a minha campanha”, disse o legislador.

Cinco dias após o segundo turno, Paulo Rocha gastou R$ 4.960,00 em um hotel de Belém, onde participou da campanha de José Priante (PMDB) à prefeitura, diz a matéria da Folha de São Paulo.

Segundo a reportagem, “Rocha disse que seus assessores não atuaram na campanha, mas em trabalhos relacionados à sua atividade parlamentar”.



segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Espantando o Urubu

- Bando de incompetentes! Se perderam pro Van Grogue, me digam, de quem vocês ganharão? – Pery Kitto bastante irritado tentava convencer o time, formado por meninos, de que eles deveriam lutar sem choradeiras.


- Mas eles correm muito. - reclamava um jovem desanimado.

- Olha, veja bem, presta atenção: nem que eu tenha de passar noites inteiras falando na cabeça de vocês, um dia vocês aprendem. Não é com esses corpos moles que vocês vencerão. Assim, não vai não gente. Eu já estou cansado de falar. Mas digo e repito: vou falar e falar até que entendam. Se for preciso passaremos as noites em claro conversando, até que consigam notar que é importante a nossa vitória.

- Mas seu Pery Kitto, eu acho que essa estratégia não dá muito certo não. Já faz uns quatro ou cinco campeonatos que estamos batendo nessa mesma tecla e nada. A gente só se fodemos.

- É que vocês são muito burros. Se fosse no meu tempo já teríamos vencido aquele timeco de vagabundos do Van Grogue. – reforçou Pery Kitto esfregando a camisa 64, na água fria que caia do chuveiro.

- Mas seu Kitto, o senhor não disse que a turma do prefeito ajudaria o time? Até agora não vi ajuda nenhuma! – afirmou o goleiro desamarrando as chuteiras.

- O Jarbas é assim mesmo. Eles prometem, mas não cumprem. Eles só falam em licitação, pontes, e recapeamento de ruas que já têm calçamento. Eles pensam no bolso deles e não querem nem saber de time da periferia.

- Ah, o senhor prometeu que a gente teria ajuda até do deputado Tendes Trame. Mas pelo jeito ele também falhou. – disse choramingando um atacante. – Será que eu vou ter de gritar pra que eles ouçam a gente? – prosseguiu o menino jogando, com raiva, a camisa no banco.

- Eu só quero mais empenho de vocês. Só isso. Vocês são muito fracos. Assim não tem jeito. – ralhou Pery Kitto acendendo outro cigarro no vestiário.

De bermudas cinza, camiseta regata azul e chinelos de couro, o treinador caminhava de um lado pro outro pisando nas poças d´água. Quando o homem notou que as crianças fizeram silêncio ele mandou:

- Eu não quero nem saber. No meu time o cara tem que dizer a que veio. Se não já viu, né? Se não render em campo vai todo mundo bater lata ou puxar carroça. E olha: eu já estou ficando nervoso!

Um dos meninos foi acometido por um acesso de tosse. O cheiro de suor, a umidade e a fumaça do tabaco tornavam o ambiente bastante impróprio para a saúde.

- Vocês só querem saber de paçoca e chicletes. Querem bolacha e refrigerante dos bons, mas na hora de mostrar o serviço, ficam com essa má vontade que dá até nojo. Olha como já estou branco de raiva. Eu já falei: se a gente perder pro Van Grogue vocês vão puxar carroça!

Nesse instante a zeladora fofa do clube, sem se importar se encontraria os meninos nus, entrou no ambiente com um rodo na mão dizendo:

- Ah, seu Pery Kitto, não seja assim tão duro com as crianças. Quem sabe se o senhor não consegue melhores resultados ao mudar um pouco essa rijeza do coração, trocando o tom cruel das palavras, por uma conversa noturna mais suave?

- Não adianta dona Emengarda! Eles só querem ver desenho na TV, comer batatinha frita e pronto! Ninguém tem compromisso com nada. Eu é que tenho de me virar espancando amassado o dia inteiro. – respondeu o homem arfando. E depois apontando para as palmas das mãos disse entredentes:

- Olha como é que está minha mão!

A zeladora serena que tinha os cabelos pretos e longos enrodilhados atrás, num coque, passava o rodo puxando as águas acumuladas no chão. Ela dizia:

- Não adianta o senhor brigar desse jeito com a molecada. Deixa eles brincarem um pouco na rua. Eu vejo que o senhor não dá sossego. O senhor fica em cima dessas crianças como se elas fossem escravas. Isso aqui até parece uma senzala. O senhor quer controlar até o pensamento delas. Que maldade seu Pery Kitto! Veja quanto lamento!

- Eles têm que fazer pro gasto que dão! – reclamava o treinador acendendo outro cigarro.

- Dá uma folga pras crianças seu Kitto. Desaperta um pouco. Olha, cuidado se não espana! – o tom de voz baixo e grave da Emengarda assustou o homem que tentava conter a tosse.

Depois que todos tomaram banho e já vestidos com as roupas comuns, caminhando em direção ao veículo, que os levaria de volta pra casa, perceberam que sobre o muro, defronte ao portão do clube de onde saíam, havia um urubu que os espreitava. Ele mantinha as asas abertas, como se as esperasse secar ao sol.

Pery Kitto nervoso, coçou a cabeça, e num ato incontido atirou no bicho o par de chuteiras que levava nas mãos. Assustado o abutre voou pra longe.

O goleiro que viu seu instrumento de trabalho se perder no telhado reclamou:

- Mas justamente minhas chuteiras, seu Kitto?

Sem dar muita atenção pro menino ele resmungou:

- Depois te dou outra. – Kitto estava satisfeito: perdera as chuteiras, mas espantara o jereba.

Fernando Zocca.









quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Os 40 anos do milésimo gol

Edson Arantes do Nascimento, o Pelé vinha buscando o milésimo gol há muito tempo e não havia jeito de o conseguir. Ele já estava com 29 anos e o tempo passava rapidamente. Athiê Jorge Cury, um dos presidentes do Santos, que mais se destacou na história do clube, tinha interesses particulares, pessoais diretos no evento. Além disso, a sua carreira como político também carecia de algo mágico como esse projetado.




Na verdade não houve falta. O zagueiro Fernando do Vasco teve a infelicidade de ver o rei cair na sua frente, ali na área, quando então o juiz marcou a penalidade. Nada mais oportuno.



Essa história de pedir que as autoridades olhassem pelas criancinhas do Brasil, com certeza, vinha sendo planejada há muito tempo. Nada mais correto politicamente, para quem desejava manter cargos políticos como o presidente santista, que também foi vereador em Santos, assim como Emílio Reinaldo Adâmoli em Piracicaba.



Fazer mil gols não é difícil se o sujeito começar cedo e não sofrer injustiças como aconteceu recentemente com o Maurício do Palmeiras

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

A Verdade Sempre Aparece

Van Grogue bastante apreensivo naquela manhã de quinta-feira, 10 de Dezembro, caminhava lentamente pela rua central de Tupinambicas das Linhas. As notícias dos jornais e das rádios preparavam a população para algo que há muito se projetava no cenário político Tupinambiquence: pelos desmandos, equívocos e desvios das verbas públicas o mandato de Jarbas, o caquético seria cassado.

Os noticiários davam conta de que o prefeito já fora condenado em primeira instância a deixar o cargo, mas aguardava ansioso o desfecho do próximo julgamento. Tendes Trame, o Fuinho Bigodudo, tia Ambrosina e outros integrantes da seita maligna, que se aboletaram no poder, torciam para que os julgadores se enganassem, livrando a todos da confirmação do castigo.

Van percebeu a intensidade dos raios solares incidindo sobre a cachimônia exatamente no momento precedente à sua chegada no bar do Maçarico. Ao entrar notou que, além do proprietário, não havia mais ninguém. Sentindo-se aliviado pela sombra refrescante, ele foi logo dizendo:

- O mandato do prefeito será cassado. Você ouviu as informações Maçarico?

- Ouvi sim. Está em todos os noticiários das rádios e o Diário Tupinambiquence, geralmente capenga, também confirmou. – respondeu o velho Maçarico limpando o balcão com o guardanapo alvo.

Com um gesto discreto Van Grogue fez com que o homem lhe servisse antes uma dose média de pinga, e em seguida a cerveja geladíssima.

Acendendo um cigarro Van de Oliveira preparava-se para expor o que sabia sobre o assunto quando percebeu a entrada afoita do Pery Kitto.

- Quanta mentira sobre o pobre Jarbas! Vocês não têm mesmo piedade. Imagine só dizer que ele falseia licitações, que prejudica o estado superfaturando ambulâncias, mas isso é um absurdo. – despejou o Kitto pedindo uma cerveja.

- Constataram que Jarbas, Tendes Trame e o Fuinho Bigodudo, que já têm mais de vinte anos de ocupação nos cargos públicos eletivos, receberam milhares de votos de eleitores fantasmas. – acrescentou Van Grogue à fogueira que se iniciava.

Maçarico notou que o rosto vermelho e suado do Pery Kitto contraiu-se à semelhança da face do boxeador que recebe um golpe violento no baço.

- Ninguém tem provas de nada. O povo fala, a imprensa publica, mas não há provas que garantam ser isso tudo verdade. – afirmou com segurança o Kitto.

- Mas onde há fumaça há fogo. – rebateu Virgulão que chegava com um jornal dobrado debaixo do braço esquerdo. No bolso traseiro direito havia também outro exemplar.

- Fala Virgulão! Ai está o homem que vende geladeira pra esquimó! – recepcionou Van de Oliveira.

- Todo mundo comenta que a turma do Jarbas sacaneou os cofres públicos e que está com medo de ser condenada a deixar o governo. – concluiu Virgulão.

- É. O conceito dos caras ruiu. Eles vão terminar num lugar bem medíocre no ranking dos mais produtivos; da opinião dos eleitores. – arrematou Maçarico abrindo a cerveja do recém-chegado.

- Vocês estão todos loucos. Ninguém pode afirmar que a vovó Bim Latem, que o Tendes Trame, que o nosso querido Fuinha Bigodudo estejam envolvidos nas fraudes das eleições. Como provarão que eles se valeram de eleitores fantasmas para se manter no poder por tanto tempo? – Pery Kitto era o único que ousava defender a turma do Jarbas.

- Sabe o que eu acho? Eu acho que existe uma onda muito forte indicando irregularidades na prefeitura de Tupinambicas das Linhas. E não é de hoje. Faz tempo que isso ocorre. O problema, como sempre, é que ninguém consegue sustentar a tese até uma condenação final. Esse é o problema. – Falou Grogue bebendo um gole de cerveja.

- Esse era o problema! Porque agora eu mesmo vou contar a verdade pra todo mundo. – Depôs com firmeza o Zé Lagartto que chegava pisando com o pé direito a soleira do bar.

O pessoal todo se espantou com a declaração abrupta. Silentes eles voltaram-se para o informante que prosseguiu:

- É verdade. Fiz parte dessa turma e a ajudei em duas eleições, mas agora cansei. Esse governo do Jarbas é um governo para os ricos. Na sua frente eles são de um jeito, mas às ocultas demonstram outra personalidade. São hipócritas, insinceros, fariseus, incoerentes. Posso dizer que eles têm traços consideráveis da esquizofrenia. Vocês sabem né? Eu manjo dessas coisas. Eles negam merenda escolar e até passe de ônibus para os alunos que residem distante dois quilômetros das escolas. Assim não dá. Assim não pode. Vou contar tudo.

- Lagartto, você enlouqueceu! Onde já se viu isso? Um vereador conhecido como o braço direito do prefeito dizendo disparates. Mas você bebeu demais, mano!- Pery Kitto estava indignado.

- Nada disso. Estou são. Um pouco fora de forma, bastante pesado, mas são. A bem da verdade e para a alegria do povo contarei tudo o que sei sobre as tretas do Tendes Trame, do Fuinha e do Jarbas. – confirmou Lagartto.

Pery Kitto, demonstrando muita contrariedade, tirou com um gesto grosseiro o dinheiro do bolso pagando sua conta. Em seguida, bufando, saiu sem dizer nada.

Van Grogue, Virgulão, e Maçarico felizes da vida, comemoraram a vitória:

- Lagartto! Lagartto! Lagartto!

Fernando Zocca.




segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Vicentinos Coletam Alimentos no Independência

Parte do grupo de Vicentinos momentos antes do início da coleta. Da direita para a esquerda: Olívio, Pacheco, Osmir, Carlos, Jandiro, Francisco e José. Foto: Fernando Zocca/arquivo/monitornews. blog


As Conferências São Judas Tadeu, São Norberto, Menino Jesus de Praga e outras agregadas ao Conselho Particular Centro, da Sociedade São Vicente de Paulo em Piracicaba SP, realizaram ontem (15/11/09) mais uma coleta de alimentos no bairro Independência.


A ação dos Vicentinos é tradicional na cidade, tendo sido iniciada na década de 1960 pelo padre Henrique da Igreja Matriz de São Judas Tadeu.


Conforme o costume, sempre no terceiro domingo de cada mês, aproximadamente 40 confrades se reúnem na esquina das Ruas Osório de Souza e Pedro Chiarini às nove horas da manhã, quando então, munidos com as cestas caracterizadoras da entidade, saem a coletar os alimentos.


Os paroquianos sabem de antemão sobre a ação vicentina, preparando os alimentos que doarão aos necessitados, por meio dos confrades. Geralmente nas missas que precedem as coletas os padres avisam sobre o evento.


Uma grande quantidade de arroz, feijão, macarrão, café, bolachas, leite, açúcar, óleo, trigo, fubá, produtos de higiene e limpeza como detergentes, sabonetes, sabões, que lotam uma perua Kombi e uma caminhonete são arrecadados e depois de repartidos entre as Conferências é encaminhada às pessoas carentes.


As Conferências Vicentinas, que atuam na paróquia da Igreja São Judas, podem assistir até dez famílias simultaneamente. Compõem os critérios de escolha dos necessitados, dentre outros, o estado de saúde e a idade dos auxiliados.


Para integrar uma Conferência Vicentina o interessado precisa antes de tudo sentir satisfação em auxiliar alguém. Um grupo vicentino pode ter até 13 confrades. As reuniões semanais, onde se tratam os assuntos referentes aos necessitados, são relatadas em atas que são arquivadas nos Conselhos Particulares.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Funileiro Polui Ar do Bairro




O funileiro Carlos Harder Morais, vulgo “Carlão”, residente à Rua Napoleão Laureano, 164 no bairro Vila Independência continua poluindo o ar com a emissão de tinta automotiva, prejudicando a saúde de pessoas residentes na vizinhança.



Na oficina não há regras e muito menos observância de horários de trabalho e descanso. A emissão de poluentes ocorre inclusive durante o período das refeições. Não são raras as vezes em que durante o almoço e a janta é-se surpreendido pelo odor forte de tinta e solventes prejudiciais à saúde.



No dia 27 de Dezembro de 2007 na esquina das Ruas Fernando Febeliano da Costa e Napoleão Laureano Carlão agrediu com tijoladas um dos seus vizinhos. Na ocasião, sob surto psicótico, depois de jogar pedras no morador, o agressor chamou seus dois filhos para também perseguirem e agredirem a vítima.



Os agressores Carlão, Gabriel e Carlinhos perseguiram o homem, que se queixava do mal estar provocado pelos poluentes, até a Lan House situada à Rua do Trabalho 356 onde, com muita violência quase derrubaram o portão da garagem.



Um dos agressores já tem passagem pela polícia pela prática do crime de furto.




quinta-feira, 12 de novembro de 2009

O Apagão

Daquela reunião com o vereador, no final da tarde, ali no gabinete, resultou o consenso de que Rosalva fundaria uma associação cujos objetivos seriam os de promover a pessoa humana, prestar serviços sociais, filantrópicos e educacionais.

Ela então metódica, diligente e atenciosa, sabendo de antemão que poderia contratar outras interessadas, mobilizou sua comunidade e na semana seguinte “abaixou” com mais vinte mulheres na espremida Câmara.

O edil assustou-se e não acreditou que Rosalva pudesse ter levado a sério aquela que fora uma simples brincadeira, no final do expediente de uma sexta-feira, de uma semana que tinha sido estressante.

Algumas mulheres, instruídas com antecedência haviam comprado roupas pelo crediário, comprometendo o minguado dinheirinho, e outras chegaram a trancafiar seus filhos menores em casa, a fim de que pudessem exercer a nova função.

O representante do povo, naquele momento, sentindo-se premido pela situação encontrou uma saída: todas teriam consolidadas suas perspectivas, desde que se filiassem ao partido e conseguissem, no mínimo, mais cento e dez ou cento e vinte fichas de novos correligionários.

Elas todas nervosas, não aceitaram a proposta, e lideradas por Rosalva juraram vingança. Delatariam tais atos canhestros para a sociedade, pelos meios competentes.

Agoniado, o edil sofreu um surto de rinite vasomotora. Espirrava seguidamente. Seu narigão escorria e coçava. A obstrução nasal punha-o mais tenso ainda.
Jurou aos céus que marcaria uma consulta com o especialista ainda naquela semana.

Rosalva com o rosto túmido, vestindo uma blusa verde, parada na porta, continha com os braços aquela turba afoita, que pedia linchamento.

A cor verde evocou nele a figura do pai. Ele fizera parte do movimento Integralista na década de trinta. As mulheres usavam blusas verdes e os homens camisas da mesma cor.

Um turbilhão invadiu-lhe a mente. O calhamaço do projeto de lei que obstruía, com o aumento das exigências legais, o exercício da profissão de taxista, caiu-lhe na cabeça, derrubado pelo vento que invadia o gabinete.

Embasbacado, com o queixo caído e babento, foi atingido pelo vórtice que esparramava os papéis na sala.

“É o Saci-Pererê”, gritava uma aflita. Na confusão o projeto que concedia aumento para as passagens de ônibus rodopiou e foi parar na calçada.

As componentes do grupo, frustradas, dirigiram-se em passeata à rádio local, e depois de longo diálogo com o locutor, acertaram que uma comissão participaria do programa fazendo a denúncia e cobrando providências das autoridades competentes.

Convocados pelo telefone, o vereador e seus assessores, preparavam-se para o combate mortal que transcorreria no ar.

Mas trêmulos e suando frio, respiraram aliviados, quando no exato momento do início do programa, caiu sobre a cidade o famigerado apagão. A galera vibrou e em estrepitosa gritaria soltou rojões de comemoração.

O poder das trevas havia vencido o primeiro round.

Fernando Zocca.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

O Maior Vendedor do Mundo

Virgulão considerava-se o melhor vendedor que Tupinambicas das Linhas jamais tivera em toda sua história. Diziam que o “turco” vendia até geladeira pra esquimó e máquinas de bronzeamento nas praias mais bem frequentadas do Brasil.

O homem se estabelecera na região central da urbe no início dos anos 1940 e muitos apostariam que ainda hoje, época dos computadores, ele seria capaz de vender milhares de máquinas de escrever pras repartições públicas.

- Só se for o Jarbas o responsável pelas compras – dissera mal humorado o Pery Kitto já cansado de ouvir as loas que se faziam ao caixeiro sedentário.

Pery Kitto e Adam Oly bebiam aproveitando a modorra que dominava a manhã da terça-feira ensolarada no bar do Maçarico quando adentrou ao recinto o festejado Virgulão. Ele trazia debaixo do braço uma coleção de partituras de chorinhos.

- E ai, mano, vai ter espetáculo no saguão hoje? – perguntou Pery Kitto ao ver o homenzarrão entrar boteco adentro.

Virgulão pediu uma cerveja ao Maçarico e, sentando-se ao lado dos colegas informou:

- Pretendo montar uma gráfica lá naquele prédio. Imagine que hoje em dia dá o maior lucro fazer talonário de notas fiscais.

- É mesmo? – Adam Oly demonstrava interesse sincero.

- Mas você já tem o seu comércio de relógios de ponto e material pra escritório. O que mais vai querer? – quis saber o Maçarico trazendo a cerveja e abrindo-a à vista do freguês.

- Eu preciso arrumar uma ocupação pro meu filho. Ele tem mania de poeta. Vive escrevendo umas besteiras. Ele tenta levar pro dono do Jornal de Tupinambicas das Linhas, mas eles não publicam. – confidenciou Virgulão.

- Mas o menino escreve muito mal? – quis saber Adam Oly.

- Ah, você sabe né? Vate geralmente carece de parafuso, às vezes de porca e arruela também. Mas não quero contrariar o moleque. Se precisar, eu compro até um jornal pra ele.

- Isso é que é gostar do menino, hein seu Virgulão! – sorriu o Maçarico passando um guardanapo sobre a mesa vizinha.

- Os médicos disseram, quando ele nasceu, que era down, que tinha essa síndrome. Mas eu não acredito. Imagine o Zé Cílio retardado. Nem pensar! – indignou-se Virgulão ingerindo o seu primeiro gole de cerveja.

- Ah, mas você sabe né Virgulão, que essa oposição existente aqui na cidade é coisa de gente das trevas. Essa cidadezinha não deslancha no cenário nacional exatamente por causa da política mesquinha dessa turma do pavão louco, que se aboletou no poder e não deixa mesmo o osso, nem com reza brava. - ensinava Adam Oly.

- Olha Virgulão, você precisa de cuidado pra não ferir as suscetibilidades, se não fica mais difícil driblar o miserê. Entendeu? – aconselhou o Pery Kitto.

- Acho que o menino tem mesmo um parafuso solto quando afirma haver a necessidade de se fantasiar, fantasiar, e fantasiar, criando ilusões pro povo. Será que ele está certo?- a dúvida do Virgulão era sincera.

- Eu acho que é por isso que o Jarbas, o Tendes Trame, Zé Lagartto, Fuinho Bigodudo, vovó Bim Latem e titia Ambrosina conseguem desancar os cofres dos dinheiros do público e ainda permanecerem sem castigo. É a lorota que eles criam que os protege das punições, das garras da lei. Agora imagine você um escândalo público sendo amenizado por gabolices difundidas pelos jornais. Seria o fim do estado. Não sobraria falange, falanginha e muito menos falangeta. – ponderou Pery Kitto.

- Ah, mas o que é de gosto, não deixa mesmo de ser o regalo da vida. Seu eu puder vou dar um jornal pro Zé Cílio. Ele merece. – garantiu Virgulão levantando-se.

- Mas é cedo ainda. Onde vai com tanta pressa? – perguntou Adam Oly.

- Tenho gaiolas e uma população imensa de periquitos no saguão do prédio que comprei. Preciso alimentar os bichos. Faz tempo que não ganham nada. Um abraço pra vocês.

Ao sair Virgulão, com um gesto conhecido, indicou ao Maçarico que anotasse no rol dos seus débitos, a despesa que pagaria no fim do mês.


Fernando Zocca.


terça-feira, 10 de novembro de 2009

Irritando Luisa Fernanda

Luisa Fernanda experienciava momentos difíceis naquele já distante princípio de janeiro. Diziam as más línguas que o banco em que ela trabalhava demitiria muita gente e que ela, considerada funcionária inábil, seria uma das que estavam na lista das demissões.

O estado emocional disfórico predominante na Luisa Fernanda contaminava os que viviam ao seu redor e por isso mesmo, naquela manhã de segunda-feira, Célio Justinho, ao notar os resmungos da parceira, achou melhor não dar-lhe um bom dia com aquele entusiasmo característico de quem tivera uma boa noite de sono.

Justinho lembrou-se que Luisa Fernanda tentava descontar no filho do barbeiro vizinho, os dissabores sofridos com a figura maligna. Realmente na noite passada a mulher, com identidade falsa, passara algumas horas na Internet dialogando com o menino.

Célio Justinho achava que Luisa Fernanda procurava atormentar o garoto para que ele brigasse dentro de casa, punindo dessa forma, o barbeiro malvado.

- Não vai comprar o pão e o leite hoje? – perguntou bastante tensa Luisa Fernanda ao Célio que, depois de escovar os dentes, ligara a TV.

Por ser o Célio dependente da Luísa Fernanda, fazia ele tudo o que ela mandava. E mal pudera acomodar-se para ver os telejornais matutinos, quando sentira os maus humores da mulher que o faziam mexer-se.

- Vai, vagabundo, faça alguma coisa! Você pensa que minha vida lá no banco é fácil? Retardado mental! Faz dois mil anos que tenta tocar o hino do Corinthians e não consegue! Nem pra isso você presta!

Já passava das oito da manhã quando Célio entrou no bar do Maçarico. Num canto Virgulão, o homem que vendera de uma só vez, duzentas e sessenta e quatro máquinas de escrever pra Prefeitura de Tupinambicas da Linhas e que gostava de tocar cavaquinho pra periquito engaiolado ouvir, bebericava da sua segunda garrafa de cerveja.

Célio Justinho ao pegar os pães, embalando-os viu que também entrava no recinto o Van Grogue. Foi então que Virgulão disparou:

- Van Grogue carrapato de capivara tuberculosa; pó de bosta de urubu catinguento; coprofágico inaugural da maior cidade do estado de São Tupinambos. É verdade que você é adepto da coprofagia?

Van de Oliveira já estava atordoado e não pudera evitar o abalo maior que lhe produziu a detonação daquelas palavras.

Van Grogue aprumou-se, tirou um cigarro do maço e, com gesto exagerado, com a mão direita pediu o seu produto preferido. Então ele se voltou para Virgulão e se defendeu:

- Isso tudo não passa de brutalidade dessa gente incompetente. São pessoas paranóides; elas têm delírios de referência; são incapazes de fazer qualquer coisa. Essa turma só sabe falar mal de quem faz. Eles não conseguem produzir nada e por isso inventam essas grosserias pra desqualificar quem provoca a inveja neles. As indelicadezas são ditas pra desmerecer a quem sabe fazer.

Virgulão riu e convidou Grogue para sentar-se ao seu lado.

Célio Justinho pagando o pão e o leite que pegara, saiu apressado. Ele tinha que chegar rápido em casa, antes que esquecesse o que ouvira. Ele precisava contar logo pra Luisa Fernanda que Van Grogue era mesmo um besouro coprófago.
Fernando Zocca.


sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Ouvindo os chorinhos

Tupinambicas das Linhas estava agitadíssima. Circulara a notícia de que um prefeito, colega do Jarbas, o caquético testudo, fora apanhado recebendo propina de um empreendedor.

Logo pela manhã, daquela sexta-feira, Jarbas telefonara pro deputado estadual Tendes Trame e ao vereador Zé Lagartto, convocando-os para uma reunião a portas fechadas, no seu gabinete do paço municipal.

Tendes fora acordado naquele mesmo dia por um telefonema da mentora espiritual do partido, a titia Ambrosina que lhe informara ter sido capturado, “recebendo bola” o prefeito da cidade vizinha a Tupinambicas das Linhas. Ambrosina ressaltara que o preso fazia parte do mesmo partido e que por isso deveriam preparar-se elaborando estratégias defensivas bem boladas, sob pena de verem “a casa cair”.

Depois que desligou o telefone Tendes ainda na cama, resmungou:

- Eu não posso acreditar! Já cedo assim? Primeiro me liga Ambrosina com aquele nhenhenhém infernal, agora o Jarbas. Mas eu já desconfiava que tinha alguma coisa diferente no ar, e que não era das melhores.

Tendes levantando-se, higienizou-se, tomou o café da manhã e convocando o motorista que o servia, durante o tempo em que vigorava o seu mandato parlamentar, seguiu rumo à prefeitura.

Ao se aproximar da sede do poder executivo municipal, Tendes pôde observar que os carros particulares, tanto do vereador Zé Lagartto quanto do prefeito Jarbas, já estavam estacionados ali.

Com aquela fleuma que o caracterizava Tendes, trajando o seu indefectível terno azul pavão, entrou no gabinete onde se reuniam Jarbas e Zé Lagartto. Sentando-se Trame ouviu o que Jarbas dizia:

- Olha essa negadinha que diz ser honesta, na verdade é incapaz de roubar. No fundo essa gente moralista não tem oportunidade pra meter a mão no que está disponível e mesmo que tivesse, não teria coragem. Eu sempre disse que o cara esperto sabe como fazer e depois, se for pego, tem que ter aquele “feeling” pra se livrar solto.

- É! Os caras são honestos porque são burros, ignorantes, incapazes de bolar planos de aliviamento dos dinheiros do público. Como você quer receber votos se não pagar as contas de luz, de água, comprar dentaduras e botijões de gás pros eleitores? Assim, não dá mano; assim não vai. – reforçou Lagartto, com ênfase, os argumentos do prefeito.

- Como podem as sãs cabeças conceber licitações sem engodo, sem um lucrozinho esperto, da hora, num pais onde impera, há séculos a mumunha? – manifestou-se Tendes, com um perceptível mau humor, ajeitando depois a gravata.

- Ah, olha, eu acho que se o cara não souber “meter a mão” ele vem logo com o discurso moralista de que não pode fazer isso, não pode fazer aquilo e piriri-pororó. Você está me entendendo? Qual é? Sempre foi assim. E agora vão querer mudar o sistema? Não é desse jeito não, gente. A banda toca mais solta, mais livre, compreende? – O prefeito estava indignado e demonstrava sentir algum desconforto. Por isso, pelo interfone, mandou que servissem o café.

- Mas por falar em licitação, como ficou a compra dos 200 computadores para a Prefeitura? Indagou Zé Lagartto ao caquético testudo.

- O contrato já está fechado. Temos que efetuar o pagamento. Liguei pro “turco” ontem, mas a mulher dele disse que ele estava num ensaio. – respondeu Jarbas alisando a calva.

- Ele gosta de tocar chorinho, né Lagartto? – interrogou o fofinhoTendes Trame.

- É.O cara pensa que é músico. Formou uma turma que toca bandolim, cavaquinho, pandeiro, violão e flauta. O grupo se mete a ensaiar, durante as tardes dos finais de semana, diante das gaiolas cheias de periquitos verdes, azuis, amarelos e cinzentos. – respondeu o testudo, coçando o olho esquerdo.

- Ele o “turco” tem parentesco com a Luisa Fernanda, a gerente daquele banco, o Brafresco. Dizem que essa mocréia vive tentando tocar o hino do Corinthians de orelhada. Mas que nunca consegue. – informou Zé Lagartto.

- Esse “turco” é amicíssimo do Adam Oly. Lembram do Adam Oly que gostava de remar pilotando aqueles barcos verdes no rio Tupinambicas das Linhas? Então. É ele mesmo. – informou o prefeito.

- Ele é meio boboca. Acredita em tudo o que dizem. E o pior é que sai espalhando a titica por ai igual a essa turma da imprensa marrom. – concluiu Zé Lagartto.

Quando pairou o silêncio entre os dialogantes entrou o garçom que, com muita habilidade, serviu o café aos homens do poder.

- Bom, fiquemos então ligados e cientes de que qualquer vacilo pode trazer consequencias gravíssimas aos responsáveis e ao partido todo. Vocês compreenderam, não é? Bobeou o cachimbo cai. – Disse Jarbas com segurança, tomando o seu café e encerrando logo em seguida a reunião.

O pessoal saiu satisfeito, mas preocupado. As coisas mudavam. Devagar, mas mudavam.


Fernando Zocca.



quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Os Vitoriosos

Você já viu a quantidade dos escândalos públicos provocados por políticos, mostrados quase que diariamente na TV?

É governador que recria dutos desviantes da “seiva” dos seus caminhos oficiais; é outro que se envolve nas embrulhadas nos Departamentos de Trânsito; é prefeito que supervaloriza preços de móveis, cobra propinas de empreiteiros, valendo-se depois do dinheiro do público para oprimir adversários e por aí vai.

Na sociedade eles se autodenominam vitoriosos, frequentam as páginas sociais dos jornais e das TVs, passando a idéia de que todo o patrimônio que possuem é fruto do trabalho honrado.

Até parece.

Eu já lhes disse que quando era moleque fui vendedor de máquinas de escrever e relógios de ponto?

Se não contei passo agora a fazê-lo. Minha tia Olanda, irmã de meu pai preocupou-se, numa determinada ocasião, ao me ver assim de léu em léu, sem ter o que fazer, numa cidade tão pujante como era Piracicaba daquele tempo.

Então ela me apresentou a um representante comercial, vendedor de máquinas de escrever e relógios de ponto, que denominarei Eliseu, estabelecido no Centro da cidade. Depois de algum tempo de conversação fui admitido e passei a circular a pé pelas ruas com os prospectos do material que vendia.

Ante os sucessivos dias sem qualquer resultado positivo, o representante que me recrutara disse que desejava ter “uma palavrinha” comigo. Por isso eu precisaria estar com ele antes do início do expediente lá na loja, num dia determinado.

E lá fui eu.

Quando cheguei o estabelecimento ainda estava fechado e parado na calçada defronte a casa comercial, esperei o Eliseu que chegava. Ele abriu a porta metálica que ocluía o ambiente e, depois de vê-lo arejado convidou-me a sentar diante de uma mesa dessas de escritório.

Eliseu então passou a fazer uma espécie de palestra num tom baixo, suave, monocórdico e grave, com a qual me aconselhava a deixar a cidade, pois não podia ver nela um futuro bom para mim.

Depois de me dizer que aqui até o delegado responsável pelo Departamento de Trânsito “levava o dele na maciota” garantiu-me o Eliseu que não existia político honesto, mas sim muitas investigações falhas.

O representante comercial Eliseu foi falando, falando, contando que tinha de vender tantas e tantas máquinas de escrever e relógios ponto por ano, pra Prefeitura, para a Câmara Municipal, para o Dedini, pra Esalq, para as escolas estaduais, e não sei mais pra quem.

Ele me garantia que se eu continuasse com aquela produção que demonstrara, morreria logo de fome. O espertíssimo Eliseu dizia que eu deveria acordar o meu lado “esperto” e que não me preocupasse em não praticar atos ilícitos, pois os vitorioso não tinham tantas amarras éticas ou pudores excessivos.

E Eliseu exemplificava dizendo-me que quando renovava o patrimônio da Prefeitura, substituindo as centenas de máquinas de escrever usadas, por outra centena de novas, sempre ganhava um dinheirinho a mais.

Naquele tempo eu não podia conceber qual seria a fórmula aplicada para receber, além do preço do material, o algo mais, arrancado por meio de ardil.

Hoje qualquer estudante adolescente sabe que essa “esperteza” chama-se superfaturamento de preços.

Pra quem ainda não teve contato com o assunto explica-se usando um exemplo da história recente de alguns políticos bem conhecidos. Se uma ambulância custa, para uma Prefeitura, o preço x, o nosso esperto homem de negócios, travestido de político, faz com que ela seja paga com o valor de 2x pela instituição que representa. O fornecedor recebe o seu x e o nosso habilidoso político embolsa o outro x, que após rateado entre os demais participantes da estratégia, incorpora-o ao rol dos seus bens particulares.

Depois então de uma ou mais gestões, impunes, gordos, saciados, satisfeitos, e debochadores, mostram-se vitoriosos nos programas de TV, pagando para estamparem suas fotos nas colunas sociais dos jornais e financiando outras mídias correligionárias.

Bom, eu não tinha vocação nenhuma pra vendedor de máquinas de escrever e, mesmo sem levar algum dinheiro a que teria jus por negócio entabulado, me mandei pra nunca mais voltar.

Você acredita que só porque lhes conto essas coisas um vizinho – funileiro louco – enche minha casa de tinta todos os dias?


Fernando Zocca.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Fazendo maldade

Imagine o meu amigo leitor a cena em que o comerciante de máquinas de escrever ao vender o seu produto e não recebendo o seu crédito, intenta a cobrança de outra pessoa que não tem nada a ver com o assunto.

No mesmo sentido, pode o meu nobre amigo considerar justa a punição feita pelo Estado a um sujeito que não cometeu qualquer delito?

Tanto o comerciante quanto o Estado, nas hipóteses acima, ao agirem cobrando e punindo o sujeito alheio às questões, estarão cometendo injustiças gravíssimas, que por sua vez originarão outras, e mais outras, até o final dos tempos.

É princípio básico do Direito Penal a individualização da pena. Dessa forma não pode o pai pagar por um crime cometido pelo filho e muito menos o filho ser condenado por um crime cometido pelo pai dele.

Como posso exigir o pagamento de uma conta a alguém que não a fez se não estiver imbuído de muita má-fé e ódio?

Ocorre que em determinados momentos da nossa vida podemos escolher entre o bem e o mal. E se a prática do mal a um ingênuo, nos trouxer as vantagens que necessitamos, por que então não fazê-lo?

Quando se abraça a causa de alguém, deve-se ter em mente os princípios da justiça sob pena de, agindo equivocadamente, aumentarmos a proporção do problema. Então como podemos pagar por algo que não fizemos, sem sentir uma forte indignação, batalhando para desmontar os esquemas injustos?

A justiça é coisa séria. É muito mais do que pode imaginar a nossa filosofia frívola. A prática da injustiça causa um sentido de revolta tão intenso, fervilha tanto que induz aos desejos cegos de violência, podendo porém, produzir o contrário: a chamada depressão reativa.

As vítimas das maldades agindo sob o descontrole são um prato cheio para os vingadores, os cruéis.

O comerciante de máquinas de escrever, ao se apropriar de parte do pagamento de um dos seus vendedores, como forma de fustigação, agiria de má-fé se tivesse a consciência de que possivelmente aquela sua vítima não merecesse o castigo.

Mas agiria tomado por muita ignorância se considerasse que o ódio brotado da frustração, fosse descontado em qualquer um, no primeiro que aparecesse, independente de mérito ou culpa.

Do rol de maldades que se faz contra alguém está o bullying nas escolas. Imagine o estrago que uma professora poderia fazer num aluno, se o pai ou a mãe da criança lhe devesse alguma coisa ou lhe tivesse causado algum prejuízo.

Imagine a crueldade do patrão contra um empregado se o pai daquele trabalhador pudesse ter originado algum dano a qualquer parente, mesmo que distante, do tal proprietário comerciante.

Essas fustigações, antes das denúncias feitas pela imprensa, batizadas de Assédio Moral, eram praticadas há muito tempo, levando suas vítimas ao crime, às doenças psicossomáticas e à morte.

Os procedimentos condenáveis desonram não só a quem os pratica como também a empresa onde o desmerecedor trabalha.

Ainda que tenhamos o cocoruto fervente com tanta maldade recebida, não percamos a paciência, façamos o bem.

Fernando Zocca.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

O Cru e o Cozido

Com muita alegria no coração e bastante desprezo na alma, era assim que o titio malvado e o priminho do Van Grogue o trataram quando se viram a sós com ele, na sala mal arejada do pequeno apartamento no Centro de Tupinambicas das Linhas.

O ódio todo que compunha aquelas estruturas do adulto agressor, impossibilitado de se dissolver nas agressões contra o pai do menino ingênuo, voltava-se contra o fofinho, retardado mental, que a tudo suportava, sem conhecer a etiologia da insensatez dos prejudicados.

Eles estavam no apartamento modesto situado numa das ruas centrais mais movimentadas da cidade, no final da década de 1960. O marmanjo frustrado, agressor de criança, vivera um passado em que, na gandaia permanente, perambulava de bar em bar buscando a felicidade. Encontrara no jogo de baralho um lenitivo para sua angústia, loucura e violência.

Diziam que durante um momento da vida errante que tivera, o tio do Grogue perdera, no carteado, parte da fortuna deixada por seu pai, - avô do menino -. E que numa tentativa vã de se estabelecer por contra própria, iniciara uma empresa comerciante do mais puro café tupinambiquence.

Mas por ser necessário muito juízo e bom senso, a quem quisesse se firmar no comércio, falhou logo a empreitada do tio perverso. De derrocada em derrocada, não tinha como explicar sua impotência se não a atribuísse à incúria do pai do Grogue.

E como não conseguia atingir o próprio irmão, valia-se do menino tonto, descarregando nele as tensões das frustrações. Groguinho, por sua vez, ante as constantes situações em que se via humilhado, buscou aprender novas habilidades que pudesse demonstrar, obtendo respeito.

Foi nessa época que Groguinho comprou e leu “O Cru e o Cozido” do antropólogo francês Claude Lévi-Strauss.

O tio do Van, quando viu a obra, que o menino lhe mostrava, ali naquela sala mal ventilada, pensou tratar-se de um livro de culinária e lhe perguntou se faria o cozido no forno do seu fogão quatro bocas. E percebendo o vacilo do menino, o tio feroz disse:

- Se você não souber cozinhar chame logo a Claudete. Você conhece a Claudete?

Quanta maldade! Os covardes, sem dúvida nenhuma, seriam capazes de, em atos puros de vingança, se aproximar do leito do paciente de recente cirurgia cardíaca, provocando-lhe a morte ainda na UTI.

A questão que não queria calar na mente do menino retardado era: estariam certos os herdeiros prejudicados, em praticar maldades às ocultas, contra seus primos e sobrinhos, diante dos prejuízos que sofreram?

É claro, nobre leitor, que os cruéis julgavam agir de forma correta diante das injustiças que padeceram. E foi assim, com essa convicção, que disseminaram durante dezenas de anos, os venenos mortais contra Groguinho, seus irmãos e tios, na cidade, matando-lhes a alma.

As ações praticadas pelos ruins poderiam ser traduzidas assim: “Quero o que me pertence, mesmo que isso implique na morte ou na doença de quem o possua”.

Muito macho isso, não?



Fernando Zocca.