quarta-feira, 11 de novembro de 2009

O Maior Vendedor do Mundo

Virgulão considerava-se o melhor vendedor que Tupinambicas das Linhas jamais tivera em toda sua história. Diziam que o “turco” vendia até geladeira pra esquimó e máquinas de bronzeamento nas praias mais bem frequentadas do Brasil.

O homem se estabelecera na região central da urbe no início dos anos 1940 e muitos apostariam que ainda hoje, época dos computadores, ele seria capaz de vender milhares de máquinas de escrever pras repartições públicas.

- Só se for o Jarbas o responsável pelas compras – dissera mal humorado o Pery Kitto já cansado de ouvir as loas que se faziam ao caixeiro sedentário.

Pery Kitto e Adam Oly bebiam aproveitando a modorra que dominava a manhã da terça-feira ensolarada no bar do Maçarico quando adentrou ao recinto o festejado Virgulão. Ele trazia debaixo do braço uma coleção de partituras de chorinhos.

- E ai, mano, vai ter espetáculo no saguão hoje? – perguntou Pery Kitto ao ver o homenzarrão entrar boteco adentro.

Virgulão pediu uma cerveja ao Maçarico e, sentando-se ao lado dos colegas informou:

- Pretendo montar uma gráfica lá naquele prédio. Imagine que hoje em dia dá o maior lucro fazer talonário de notas fiscais.

- É mesmo? – Adam Oly demonstrava interesse sincero.

- Mas você já tem o seu comércio de relógios de ponto e material pra escritório. O que mais vai querer? – quis saber o Maçarico trazendo a cerveja e abrindo-a à vista do freguês.

- Eu preciso arrumar uma ocupação pro meu filho. Ele tem mania de poeta. Vive escrevendo umas besteiras. Ele tenta levar pro dono do Jornal de Tupinambicas das Linhas, mas eles não publicam. – confidenciou Virgulão.

- Mas o menino escreve muito mal? – quis saber Adam Oly.

- Ah, você sabe né? Vate geralmente carece de parafuso, às vezes de porca e arruela também. Mas não quero contrariar o moleque. Se precisar, eu compro até um jornal pra ele.

- Isso é que é gostar do menino, hein seu Virgulão! – sorriu o Maçarico passando um guardanapo sobre a mesa vizinha.

- Os médicos disseram, quando ele nasceu, que era down, que tinha essa síndrome. Mas eu não acredito. Imagine o Zé Cílio retardado. Nem pensar! – indignou-se Virgulão ingerindo o seu primeiro gole de cerveja.

- Ah, mas você sabe né Virgulão, que essa oposição existente aqui na cidade é coisa de gente das trevas. Essa cidadezinha não deslancha no cenário nacional exatamente por causa da política mesquinha dessa turma do pavão louco, que se aboletou no poder e não deixa mesmo o osso, nem com reza brava. - ensinava Adam Oly.

- Olha Virgulão, você precisa de cuidado pra não ferir as suscetibilidades, se não fica mais difícil driblar o miserê. Entendeu? – aconselhou o Pery Kitto.

- Acho que o menino tem mesmo um parafuso solto quando afirma haver a necessidade de se fantasiar, fantasiar, e fantasiar, criando ilusões pro povo. Será que ele está certo?- a dúvida do Virgulão era sincera.

- Eu acho que é por isso que o Jarbas, o Tendes Trame, Zé Lagartto, Fuinho Bigodudo, vovó Bim Latem e titia Ambrosina conseguem desancar os cofres dos dinheiros do público e ainda permanecerem sem castigo. É a lorota que eles criam que os protege das punições, das garras da lei. Agora imagine você um escândalo público sendo amenizado por gabolices difundidas pelos jornais. Seria o fim do estado. Não sobraria falange, falanginha e muito menos falangeta. – ponderou Pery Kitto.

- Ah, mas o que é de gosto, não deixa mesmo de ser o regalo da vida. Seu eu puder vou dar um jornal pro Zé Cílio. Ele merece. – garantiu Virgulão levantando-se.

- Mas é cedo ainda. Onde vai com tanta pressa? – perguntou Adam Oly.

- Tenho gaiolas e uma população imensa de periquitos no saguão do prédio que comprei. Preciso alimentar os bichos. Faz tempo que não ganham nada. Um abraço pra vocês.

Ao sair Virgulão, com um gesto conhecido, indicou ao Maçarico que anotasse no rol dos seus débitos, a despesa que pagaria no fim do mês.


Fernando Zocca.


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