sexta-feira, 30 de outubro de 2009

As revelações de Adam Oly

Adam Oly foi um dos provocadores mais sutis de Tupinambicas das Linhas. Você já viu aquele tipo de jogador que, durante uma partida de final de campeonato, ao passar perto do adversário, diz já ter saído com a sua mãe ou irmã?

Quase ninguém nota. São imperceptíveis as tentações até o momento em que a vítima volta e desfere uma violenta cabeçada no peito do agressor. A expulsão desfalca o time que pode ser derrotado.

Esse era o “jeitão” de ser do Adam Oly um dos colegas do Van Grogue que vivera até na Inglaterra, onde aprendeu enfermagem. Diziam que o sujeito era perito em tramar estratégias conducentes dos adversários à ruína total.

Ele buscava saber da vida daqueles a quem se propunha danar, utilizando depois as informações nas armações degradantes. É claro que nem sempre seus ardis funcionavam e não eram mesmo raros os casos em que a frustração lhe custava bem caro.

Van Grogue estava numa ocasião no bar do Bafão, o mais famoso de Tupinambicas das Linhas, quando se surpreendeu ao ver Adam Oly que entrava depois de muito tempo sem aparecer na cidade.

- Ora, mas veja quem está aqui, não é outro senão o famoso tocador de violão nas serestas, Adam Oly, que quando era menino gostava de remar, pilotando os botes verdes no rio Tupinambicas das Linhas. – disse esfuziante Van Grogue estendendo a mão em cumprimento ao recém-chegado.

- Que mané famoso nada! – respondeu Oly mostrando timidez e apertando a mão do Grogue.

- Dizem que glamour você tem, mas que só lhe falta o dinheiro, é verdade Adam? – provocou Van.

- Nada disso, meu amigo. – garantiu Oly, puxando uma cadeira e pedindo uma cerveja ao Bafão. – E depois convidando o Grogue - Sente-se comigo aqui.

Van tirou sua garrafa e copo do balcão e se acomodou com o parceiro que há muito tempo não via.

- Mas que novidades nos trazes? Faz tempo que chegaste da Europa? – Van estava ansioso por saber das novidades.

- Que nada. Não estive na Europa. Passei uma temporada na Argentina. Mas como a situação aqui está melhor resolvi permanecer uns dias. – contou Oly sorvendo o seu primeiro gole de cerveja gelada.

- É verdade que você tinha um irmão vereador aqui em Tupinambicas das Linhas e ele possuía tanto poder que conseguia nomear, transferir e destituir até diretores das escolas estaduais? – a pergunta do Grogue fora tão direta e certeira que Oly quase engastou com a cervejinha.

- É verdade. Meu irmão foi vereador e por meio da sua influência política ele podia indicar ou até destituir qualquer professor ou diretor de escola. – respondeu Oly com aquela segurança que o passar do tempo lhe proporcionava. - Você sabe, e eu me lembro muito bem, que houve uma temporada em que o meu mano vereador estava envolvido com quatro eleitores que o encarregaram de induzir o abandono do curso ginasial por um menino filho de um desafeto deles.

- Ele conseguiu? – indagou Grogue bastante interessado ao mesmo tempo em que deglutia um saboroso gole de cerveja.

- Conseguiu. Mas para isso ele teve que remover o cidadão que ocupava o cargo de diretor do ginásio, colocar outro de sua confiança e só depois então, por meio de muita pressão fazer o moleque “espirrar” que nem azeitona na ponta do garfo. Confessou Adam Oly.

- Pô seu irmão era foda hein Oly?

- Ah o cara era fodido, meu. Pois você não sabe que ele fazia até nego vir dos Estados Unidos atrás de mulher aqui no Brasil? – Oly estava empolgado por ter alguém interessado nos segredos do irmão falecido.

- Não me diga! Até isso ele fazia? – Grogue estava atônito.

- Fazia sim. Olha, ele soube durante aquele tempo em que legislava, por meio de um amigo chamado Emílio, que um sujeito lá nos Estados Unidos tinha muita herança pra receber. Soube também que o herdeiro era meio “pancada” e por isso, com uma mulher conhecida dele – do vereador, meu irmão - resolveram atrair a vítima até o Brasil. – desabafou Oly.

- E o herdeiro veio? – perguntou Van Grogue interessadíssimo.

- Veio. Só que a mulher não o recebeu e ele então já sem dinheiro, não tendo onde ficar e nem ter o que comer, permaneceu na rua onde a turma do hospital psiquiátrico o prendeu. Bom, pra resumir a história, o herdeiro enganado morreu depois de uma sessão de eletroconvulsoterapia e seus irmãos receberam todos os seus direitos. É claro que pagaram uma comissão fofa pro meu irmão. - Adam Oly sentia-se feliz por ter compartilhado o segredo.

- Nossa! O cara era foda, mano! – Grogue estava boquiaberto.

- Você ainda não viu nada. Depois eu te conto mais. Agora preciso ir embora. Espero um e-mail importante e pelo horário já deve ter chegado. – Dizendo isso num tom fraternal Adam Oly abraçou Van Grogue com entusiasmo deixando no boteco um clima de espanto.

- Você ouviu a história Bafão? – perguntou Grogue.

- É claro que ouvi. Esse parente vereador do Adam Oly tem muitas semelhanças de personalidade e ideológicas com o Jarbas, Tendes Trame, Zé Lagartto, Fuinho Bigodudo e outros lutuosos de Tupinambicas das Linhas. E é por isso que essa cidade não vai nem pra frente nem pra trás.

- É isso aí. – garantiu Grogue fazendo um brinde à noite que chegava.

Fernando Zocca.





quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Sem sunga

Van Grogue na manhã de sexta-feira, no boteco do Bafão, sacou um cigarro do maço e acendeu-o com maestria. Levantando o cotovelo na altura da cabeça, segurou o pito com os dedos médio, indicador e polegar da mão direita. Mantendo então em paralelo a bagana e o chão, levou-a a boca, aspirando profundamente a fumaça.

Quando a soltou percebeu que os insetos voadores do local sofreram turbulência nos seus vôos. Muriçocas, pernilongos, moscas e pequenas borboletas perderam altitude despencando com perigo rumo ao chão.

Sorumbático pôs-se a pensar na causa de estar Tupinambicas das Linhas em retrocesso. Foi então que ele viu um menino vestido com a camisa da seleção brasileira de futebol chutando uma bola na parede da casa vizinha ao bar do Bafão. Notou o Isaac Newton tupinambiquence que a pelota voltava quando encontrava obstáculo maior do que ela. Então era assim: o desenvolvimento da urbe parava e regredia por não ter capacidade para seguir adiante.

De fato! Tupinambicas das Linhas, sob comando do Jarbas bigodão, caquético-testudo, dava sinais de retorno ao passado. As reformas feitas nas praças públicas pela prefeitura, financiadas por latifundiários, traziam os desenhos dos tempos em que o povo, por não ter TV em casa, caminhava em círculos, em torno do jardim central. Era uma distração provinciana.

Alguns antropólogos afirmaram ter o movimento circular daqueles habitantes de Tupinambicas das Linhas a origem no gesto de girar o indicador em volta da orelha, sinalizador da loucura.

Alguns diziam que só faltava mesmo o empresário Pitirim Zorror reconstruir o edifício Luiz de Queiroga, desabado em meados do século XX, quando matou muita gente. A maioria dos observadores duvidava de que até Freud pudesse explicar a ocorrência do fenômeno retrocedente.

Servino Pires constrangido por estar perdendo hora, entrou apressado no boteco. Ele havia prometido ao amigo Van que lhe traria, antes das dez, um elmo verdadeiro. Bafão ao ouvir dias antes a história não deu importância ao fato, classificando-o como coisa de pingueiro.

Pires aproximou-se do amigo e disse: "Eu queria vir antes, mas não deu. Fiquei enrolado com o fusca branco do meu irmão. Ai eu pensei: já já eu vou. Mas não vim. Quando fiquei livre apareceu minha irmã querendo que eu a levasse de carro ao clube. Ai eu fiquei brabo e sai correndo. Esqueci o elmo.”

Van Grogue escorado com o cotovelo esquerdo sobre o balcão, apoiado no pé esquerdo, folgava tendo o direito relaxado sobre a ponta do sapato. Ele olhou Servino Pires de alto a baixo e bateu a cinza do cigarro com o indicador direito. Queria ver notado o seu desdém.

Charles boca-de-porco passou "pisando em ovos" defronte ao boteco. Temia ser visto. Ele devia mais de R$ 500 só de pinga e a oficina de conserto de sapatos não rendia nada. O pessoal vinha, trazia o serviço, mas não voltava para pegar os calcantes.

Em volta da garrafa, que Servino mandou abrir, procuravam os parceiros desenvolver a prosa boa. Mas um sacripanta abusado, com estardalhaço, manejava uma furadeira na casa ao lado, tentando abrir rombo no batente de peroba. O zunido abafava a conversa dos mortais desejosos de momentos descontraídos.

Van Grogue acendeu outro pito e percebeu que o falar alto tirava o gosto da palestra. O zumbido prosseguia. Um motor elétrico possante, logo em seguida lançava um jorro d´água na calçada da casa defronte ao botequim. Aquilo virou um inferno.

Dizendo: "Vou viajar pro Espírito Santo" Servino Pires saiu deixando Van Grogue só. A barulheira prosseguia. Em cima do balcão um embrulho, aberto depois por Bafão, indicava ter o Pires esquecido a sunga.
Fernando Zocca.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

O besouro

- Pery Kitto era ladrãozinho safado desde o tempo em que, quando criança, jogava futebol de mesa na casa da tia. A marmota improvisava os botões dos times colando figurinhas dos jogadores no que ele chamava de “celulose” dos relógios de pulso. - A afirmação gravíssima saiu dos lábios do já atordoado Ado Henrique, logo pela manhã no bar do Bafão.
O barman se acostumara com o jeitão de macho rústico do forasteiro, chegado à Tupinambicas das Linhas há uns trinta dias, que justificava a agressividade gratuita com o bordão “aqui o sistema é bruto - O senhor tem mesmo certeza de que pode beber? Não vai lhe fazer mal tanta pinga já cedo? – Na verdade Bafão preocupava-se mais com a integridade do seu mobiliário, que estaria sujeito a danos sérios, em decorrência de um possível descontrole do bebedor, do que propriamente com a saúde do cachaceiro.
- Bah, que dúvida! Sou curtido na pinga tche! Mas como lhe dizia esse tal de Pery Kitto antes de começar os jogos falava que valia o “leva-leva” pra tocar os botões. Mas quando chegava a vez do adversário ele trocava tudo, garantindo que a regra era a de três toques. Você acredita seu Bafão, que numa tarde quando Pery Kitto, com o time do “Curintcha”, perdia o jogo pro primo dele, teve a coragem de soltar o gás dentro da cozinha? O cara era safado, meu! Sabe o gás? Esse de botijão? Então meu, o cara empestou o ambiente só pra melar a vitória do melhor. Mas pode uma coisa dessas, mano?
- É verdade tudo isso? – Bafão simulava interesse. Seu objetivo era mesmo o “carvão” do freguês.
- É sim, seu Bafão! Com certeza! O Pery Kitto odeia porco. Nem toque no assunto de torresmo que ele enlouquece. E feijoada então? Sabe dessas que vai pé de porco, orelha e joelho? Então, o cara se enfurece. Nem toque no assunto!
- Não tenho visto o Pery Kitto. Ele sumiu, dizem que está doente. Será que é verdade? – indagou o barman ligando o rádio.
- Está com o pé esquerdo inchado, mas muito cuidado com esse tal de Pery Kitto. Ele é mais falso do que dólar com esfinge de galo.
- Olha, essa aqui é a segunda cerveja que tomo hoje. E já acabou. Aproveita e me dá outra super gelada. – Ado Henrique queria se esbaldar na gandaia a partir daquele momento.
Quando servia o cliente, Bafão percebeu que Van Grogue entrou em silêncio. Ele não foi visto por Ado Henrique.
- Assombração, de onde vieste? O que desejas aqui na terra do testudo? – murmurou Van Grogue num tom baixo e grave. E depois:
- Olha o gambá! O gambá vai te cercar... Vai te comer os cornos...
- Engraçado, seu Bafão, mas bah! De repente me veio a idéia daquele tal de Grogue. Por onde andaria o fulano? – indagou Ado Henrique sentindo os pêlos dos seus braços eriçarem.
- Ah, aquele tem uma chácara lá no bairro Floresta. Trabalha no Detran; ganha quatro mil e quatrocentos reais por mês; quase não aparece por aqui. Ele possui um fusca e a namorada dele chama-se Terezinha. Sabe seu Ado, o Grogue foi muito mal tratado aqui em Tupinambicas das Linhas. O Jarbas e a chefe de gabinete dele, a tal de vovó Bim Latem, lançaram a seita maligna do pavão-louco contra o miserável. Envenenaram a caixa d´água da casa do infeliz e quase mataram todo mundo. O Grogue não pode nem ouvir falar em Jarbas que vomita – informou o prestativo Bafão, passando o guardanapo branco sobre uma mesa.
- Vade Retro satanás! – murmurava Van Grogue oculto atrás de um armário postado na parede oposta a do balcão – Ô carniça, besouro cascudo de cocô de vaca, você não tem outra camisa a não ser essa cor de rosa?
- Seu Bafão! Que esquisito! Sinto a presença do Van Grogue. Mas não o vejo. Estou enlouquecendo?
- É, o senhor não está muito bem, não. Acho melhor procurar ajuda. Conhece o doutor Silly Kone?
- Hum... Silly Kone? Quem é? – o tom de voz do Ado Henrique denunciava dor, inquietação e sofrimento.
- É gente fina. Dizem que os choques que ele aplica não passam dos 120 volts. Dão umas entortadas no cara, mas tudo fica bem depois. O senhor não quer experimentar? – havia certa ironia no falar do Bafão. - Olha, não quero me gabar, mas acho que um ou dois poderiam resolver o seu problema.
- Vamos deixar quieto esse assunto – afirmou Ado Henrique pagando a despesa e saindo sem perceber a presença do Grogue.
Depois que se viram a sós Van perguntou:
- Já imaginou se eu trabalhasse mesmo no Detran de Tupinambicas das Linhas e recebesse R$ 4.400 por mês?
- Seria o esplendor. Quem gosta de besouro é entomologista – arrematou Bafão, abrindo a primeira garrafa de cerveja.



Fernando Zocca.


terça-feira, 27 de outubro de 2009

Maltratando o gambá

Ado Henrique era um sujeito alto, magro, louro, e branquíssimo que amava churrascos temperados só com sal grosso. Ele chegara a Tupinambicas das Linhas de passagem para a capital, mas gostara tanto do lugar que resolveu residir na cidade.
Depois de mais ou menos trinta dias perambulando pra lá e pra cá, em busca de uma atividade econômica que o pudesse sustentar, ele achou que se se estabelecesse com um bar poderia viver muito bem.
E foi pensando em adquirir um boteco já tradicional que Ado Henrique entrou, naquela tarde quente de segunda-feira, no bar do Bafão.
Na mesa pequena que ficava sempre encostada no canto esquerdo, próximo da porta frontal, estavam Charles mais conhecido como “boca de porco”, que nunca tirava aquela ressequida camisa regata verde-limão, encardida pela graxa e resíduos de tinta; o carroceiro Edbar B. Túrico, que aproveitando a calmaria da hora deixou na calçada a carroça que puxava, para tomar aquela gelada refrescante e, Van Grogue, o mais conhecido biriteiro tupinambiquence.
Quando Ado Henrique entrou olhou logo para aqueles prováveis futuros fregueses cumprimentando-os vigorosamente. Era com se um capitão-do-mato, feitor de fazenda monarquista ou general nazista adentrasse ao ambiente para tomar as providências rigorosas contra algumas supostas irregularidades ocorrentes.
- Boa tarde, senhores! – o tom formal e severo assustou os pingueiros amolecidos, mas não os impediu de responder educadamente.
Pigarreando Ado Henrique aproximou-se de Bafão, que como sempre, asseava o balcão, passando sobre ele uma toalha alva. O recém-chegado sinalizou ao barman aproximando o indicador do polegar a uma distância que o remetesse à desejada dose de pinga, mandando também com voz solene:
- E uma cerveja bem gelada!
O burburinho que havia no ambiente, momentos antes da entrada do ilustre cavalheiro, cessou ante a visão da figura. Em silêncio os copos eram agora levados aos lábios, ao mesmo tempo em que os bebedores observavam as cenas decorrentes.
Ado Henrique depois de emborcar, de uma só vez, a dose reforçada da “três martelos”, agarrou a garrafa de cerveja pelo gargalo e, ajeitando o copo na outra mão procurou assentar-se à mesa próxima do pessoal que ali estava.
- Pois ora, veja que Tupinambicas das Linhas é mesmo grandiosa, enorme. Há trabalho para todos que a procuram. Não é verdade? Como é que se chama mesmo o prefeitinho daqui? É Nero? – o atordoamento de Ado Henrique, provocado pela ingesta do álcool, tornava-se já perceptível ao grupo, simultaneamente em que via também o rosto do forasteiro avermelhando-se.
- Hum... – disse Van Grogue em voz baixa – Pelo jeito a coisa vai desandar.
Edbar B. Túrico dobrou-se todo sobre o ventre esticando o pescoço para observar a carroça parada ali perto da porta. Ele pensou que se tivesse de sair correndo, não se importaria muito com a carga de papelão que ajuntara.
Charles tirou do bolso da bermuda o maço de cigarros e, com o isqueiro verde ornado com a figura de uma arara, acendeu um deles, murmurando algo em tom grave.
Diziam, os maus beiços pequenos da Vila, que Charles mais parecia um sapo banguela arfante. Mas quem o conhecia sabia ser ele um sujeito tão forte quanto um jumento. E bem burro também.
Van Grogue tentando manter o clima cordial respondeu, num tom suave, a pergunta do forasteiro:
- O prefeito daqui chama-se Jarbas. Ele é bem caquético, testudo, gabiru e ratazana de bueiro fedido.
Ado Henrique então, já não conseguindo distinguir no grupo, aquele que falava, erguendo um copo cheio de cerveja, fez outras altas indagações:
- É verdade que o presidente da Câmara Municipal já passou mais de vinte e cinco anos no cargo? Por que só ele é reeleito e mais ninguém consegue? Qual é o segredo dessa... Múmia? Como ela consegue isso? É difícil acreditar na existência de cargos municipais eletivos vitalícios. Mas ela é uma prova cabal disso. Qual é mesmo o nome da figura?
Van Grogue percebeu que apesar das perguntas não terem sido direcionadas a alguém específico, achou que poderia respondê-las a contento e então disparou:
- O presidente da Câmara Municipal é o José Lagartto, mais conhecido como Zé Lagartto das quebradas. Faz um século que ele é vereador e não larga o “osso” de jeito nenhum. A “carniça fedorenta” não sabe fazer outra coisa. Nunca soube.
Van Grogue percebeu que Ado Henrique não tinha mais condições físicas para manter a conversação. O homem já babava na camisa vermelha.
De repente um gambá assustado entrou correndo bar adentro atemorizando a todos os que ali estavam. Então assim como que num passe de mágica, Ado que dormitava sobre os braços dobrados na mesa, acordou irado. O ébrio ao levantar-se com muita rapidez derrubou a cadeira, manifestando-se em seguida aos berros:
- Um gambá? Misericórdia! Um maldito gambá? Um gambá sujo aqui dentro? Eu não acredito! – esgoelando isso e segurando a garrafa pelo gargalo, Aldo Henrique corria pelo salão ralhando com todos, tentando matar o animal.
- Calma, moço. É só um bichinho que saiu ali do campinho de futebol da molecada. Ele já foi embora. Pode ficar sossegado. Não faz mal a ninguém. É um bicho bom. Um bicho gente fina. Pode confiar. – lecionou Bafão preocupado em receber o pagamento das bebidas.
Aldo Henrique enfiou as mãos nos bolsos a procura do dinheiro. Ele cambaleava, mas depois de localizar algumas notas, jogou-as sobre o balcão. Não esperou o troco saindo logo em seguida com destino ignorado.
Van Grogue olhou para os amigos boquiabertos e depois de beber o ultimo gole de cerveja, daquela tarde, passou as mãos sobre os cabelos bastos saindo em seguida.
- Eu não agüento mais Tupinambicas das Linhas – disse ele ao entrar no carro com o qual se mandou para o bairro Floresta.

Fernando Zocca.




Visite Piracicaba.

domingo, 25 de outubro de 2009

A guitarra e a bandeira

Até que ponto pode a astrologia influir em nosso comportamento? Eu não sei, mas o fato de ser, pisciniana, aquela senhora velha, induzia sempre seu marido, louco de pinga, crente que era pescador, a correr atrás dela, brandindo a peixeira, quando se sentia, assim como direi, ofendido e com fome de vingança. O fuzuê era corriqueiro. Aos gritos e desesperada, a coitada corria em torno da mesa velha, encardida e cheia de cupim, procurando defender-se. Esbaforido, o pescador tabagista pançudo, via-se safo da sanha, depois que, arfando, punha a língua de badalo pra fora. Mas, naqueles velhos idos anos dourados (por favor, nobre leitor, não confundir com ânus ictéricos), quando Roberto e Erasmo Carlos eram ainda principiantes imberbes e o Gordini, quatro portas, um dos melhores carros para se levar libertinas a passeio, havia um cidadão, meu vizinho, que teimava em tocar guitarra. Porém quando o "músico" punha-se a tanger o instrumento, os cães uivavam, os gatos que antes dormitavam sonolentos, nas soleiras aquecidas, fugiam com olhares desconfiados, e os pardais esvoaçavam, mudos e assustados, pra bem longe. Diante de tantas reações desgostosas, o moço resolveu vender o instrumento. Mas nas maracutaias que armava, cria que sempre deveria levar vantagens e, por isso, a caixa da guitarra ficou com ele. Mas o que faria com aquela coisa marrom por fora, com o formato dum violão, e revestida de veludo vermelho por dentro? Ele não sabia até que, num 7 de setembro, o Exército Brasileiro expôs parte das suas armas na praça da cidadela. No vacilo do recruta sentinela, que fora ao bar ingerir o café predecessor do Minister curto, o ex-músico, rápido feito um felino, furtou o mosquetão 1908, que jazia na carroceria do caminhão camuflado. Acelerado, colocou a arma dentro da caixa da guitarra e, acendendo um cigarrinho, caminhou nervoso, porém sem dar bandeira, de volta pro refúgio. Existem pessoas malucas que sob influências de fatos significativos, não sabem como reciclar aquelas emoções negativas a não ser por meio de, como direi, efetivação de "simpatias" correlatas. Por isso, quando o músico fajuto, leu no jornal a publicação da ocorrência, ensandeceu e apatetou-se. Mas no fundo do seu coração, achava que só se livraria daquele incômodo todo se caminhasse célere atrás duma pessoa, como se tivesse perseguindo um ladrão, passando-a, porém, na esquina. Pode soar estranho, mas para o maluco, aliviava-o o fato de imaginar, que ao invés de perseguido, ele era o perseguidor. Com o tempo a ansiedade foi desanuviando e o ladrão vendeu a arma para um colecionador. Porém, sob os resquícios do transtorno causado pelo crime, numa catarse desopilante, o ladro esculpiu, com seu canivete afiado, um tacape monstruoso de madeira branca. Com parte do zinco, apurado na venda do fuzil, comprou a passagem do ônibus que o levou pra bem longe. Anos depois, já maduro, o matuto maluco, durante as tardes, do início da primavera linda que se avizinhava, gostava mesmo era de sorver seu chá de catibiriba, deitado sobre sua bundinha mole e marmórea, na espreguiçeira instalada na borda da piscina de águas turvas. Beberrão, o careta apreciava a abusada e sorubínica cachorra podlee que se esvaia nos ladridos birrentos e punidores. Naquele ano haveria eleições. Ele não gostaria que o rei momo se tornasse prefeito. Mesmo que, em o sendo, pudesse distribuir, de graça, milhares de cadeiras-de-rodas pra população. Aquela sua bandeira até que poderia ser nobre, mas quem, na sã consciência, nos garantiria que, às escondidas, ele não desejava que milhões e milhões de pessoas saudáveis, se tornassem aleijadas, para que depois, durante as eleições, pudesse comprar seus votos eletivos com as bandeirosas cadeiras rodadas?

sábado, 24 de outubro de 2009

JUSTIÇA CASSA O MANDATO DE 13 POLÍTICOS

Com base nas provas da denúncia do Ministério Público Eleitoral, de que para as eleições de 2008, teriam recebido doações ilegais no valor de R$ 10,8 milhões, da Associação Imobiliária Brasileira e SECOVI, o Juiz Aloísio Sérgio Rezende da Silveira da 1ª Zona Eleitoral de São Paulo, em 19/10, segunda-feira, cassou os mandatos dos vereadores Adolfo Quintas Neto (PSDB), Carlos Bezerra Júnior (PSDB) Cláudio Roberto Barbosa de Souza (PSDB) Gilson Barreto (PSDB), Dalton Silvano (PSDB), Ricardo Teixeira (PSDB), Carlos Apolinário (DEM), Domingos Dissei (DEM), Marta Freire da Costa (DEM) Ushitaro Kamia (DEM), Adilson Amadeu (PTB), Wadih Mutran (PP) e Paulo Abou Anni (PV).

Negando o recebimento de qualquer donativo, os cassados apelaram ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e, nesta sexta-feira, 23 de outubro, obtiveram o efeito suspensivo da sentença até o próximo julgamento, conforme informou o Última Instância.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Médico é preso, acusado de furtar paciente

Um médico clínico geral, de 65 anos, foi preso em flagrante delito ontem no pronto atendimento do SUS em Jundiaí, SP, acusado de ter furtado R$ 170 do ajudante geral Cristian Caetano da Silva, que o consultava.

“Ele foi apalpando, que eu ´to` com dor na coluna, ele começou a pegar nas minhas pernas, subiu mais pra cima, na altura onde estava a carteira, chegou a empurrar ela pra cima, entendeu, na hora, só que eu jamais ia imaginar que ele tava arrancando a carteira do meu bolso”, disse a suposta vítima à reportagem do Bom Dia São Paulo.

O médico pagou fiança de R$ 10 mil livrando-se da prisão em flagrante, mas responderá ao processo em liberdade.

O doutor já tinha três passagens pela polícia. Em 2005 ele foi preso tentando furtar um eletrodoméstico num supermercado.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

A defesa da mulher

A chamada lei Maria da Penha é um mecanismo legal que possibilita a vitima da violência doméstica, prevenir e se defender das agressões.

Toda a mulher, independente da raça, cor, religião, orientação sexual, nível de educação, renda ou cultura, tem o direito de preservar a sua integridade física, saúde, aperfeiçoamento intelectual e moral.

São consideradas violências domésticas as ações e omissões que lhe causem sofrimento físico, psicológico, sexual, danos materiais e morais.

Compreende-se por doméstico, ou ambiente doméstico, o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar.

Veja a seguir, como define o Art. 7º da lei Maria da Penha a violência praticada dentro do lar.

Art. 7o São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:

I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal;

II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da auto-estima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;

III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;

IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;

V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.

Depois de agredida a mulher deve procurar a autoridade policial, na delegacia que abrange o local onde ela reside. As estatísticas dão conta de que o agressor não se limitará a uma única ação delituosa, podendo repetir o crime outras vezes com violência crescente. Saiba o que a autoridade fará depois de registrada a ocorrência.

Art. 12. Em todos os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, feito o registro da ocorrência, deverá a autoridade policial adotar, de imediato, os seguintes procedimentos, sem prejuízo daqueles previstos no Código de Processo Penal:

I - ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência e tomar a representação a termo, se apresentada;

II - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e de suas circunstâncias;

III - remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, expediente apartado ao juiz com o pedido da ofendida, para a concessão de medidas protetivas de urgência;

IV - determinar que se proceda ao exame de corpo de delito da ofendida e requisitar outros exames periciais necessários;

V - ouvir o agressor e as testemunhas;

VI - ordenar a identificação do agressor e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes criminais, indicando a existência de mandado de prisão ou registro de outras ocorrências policiais contra ele;

VII - remeter, no prazo legal, os autos do inquérito policial ao juiz e ao Ministério Público.

§ 1o O pedido da ofendida será tomado a termo pela autoridade policial e deverá conter:

I - qualificação da ofendida e do agressor;

II - nome e idade dos dependentes;

III - descrição sucinta do fato e das medidas protetivas solicitadas pela ofendida.

§ 2o A autoridade policial deverá anexar ao documento referido no § 1o o boletim de ocorrência e cópia de todos os documentos disponíveis em posse da ofendida.

§ 3o Serão admitidos como meios de prova os laudos ou prontuários médicos fornecidos por hospitais e postos de saúde.

Em minha opinião, se a ofendida estiver dividida entre o proceder conforme os ensinamentos religiosos, perdoando a ação maldosa, ou como determina a lei, ela deverá agir conforme dispõe a legislação.

Fernando Zocca.


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Roube lá e me dê cá

Os escândalos no meio político do Brasil são tantos, provocam o maior bebuliço, mas, no entanto a impunidade vem logo em seguida, para fechar com aquelas suas chaves de ouro os estardalhaços, fazendo tudo voltar à calmaria novamente.

E o dinheiro público surripiado, o meu leitor sabe para onde vai, como é utilizado?

É claro que uma autoridade pública envolvida nesses escândalos nunca está só. Uma governadora de estado, por exemplo, dispõe de uma miríade de cúmplices com os quais deve repartir o produto dos crimes.

Os milhões e milhões de reais, além de acrescentarem mais e mais bens móveis e imóveis, ao rol das propriedades do corrupto, servirão também para o fortalecimento do grupamento que abriga o corruptor.

Sedes, mobiliário, veículos, serão adquiridos e pagos com o fruto dos esquemas minuciosos de burla elaborados contra o eleitor.

Campanhas publicitárias, veículos de comunicação social, produções artísticas, e doações a entidades filantrópicas serão receptáculos dos prêmios conseguidos com a audácia, a cara de pau e o maior cinismo.

Rádios, TVs, jornais, revistas, autores teatrais, e todos aqueles que possam contribuir com a limpeza da imagem pública do político flagrado roubando, serão arregimentados e remunerados com o dinheiro maldito.

Enquanto isso acontece, nos centros, nos palácios governamentais, sedes de governos estaduais, prefeituras municipais, a periferia indigente convulsiona-se com a escassez humilhante conducente ao comportamento antissocial.

Isso não é novo na história de humanidade. Na Rússia, no tempo dos czares a situação era assemelhada. Enquanto os mais espertos usufruíam os privilégios conseguidos com a injustiça, a população penava com a carência.

Não adiantou a revolução feita, os crimes todos cometidos e as vantagens alcançadas. Depois de 70 anos de um regime bem comunista, tudo voltou a ser do jeito que era antes.

Escândalos como os cometidos no Ministério da Saúde do governo federal, naquele tempo do professor Fernando Henrique Cardoso, não conseguem ter os responsáveis punidos.

Não poderia haver dúvidas de que a seiva nutridora da instituição, desviada para galhos mais receptivos, serviria também para serenar as poderosas forças antibióticas coercitivas.

A injustiça criminosa é notável, observável, destaca-se no cenário político nacional, mas não pode ser coibida. E é claro que essa tolerância com o delito estimula comportamentos criminosos parecidos.

Os crimes cometidos por traficantes nos morros cariocas equiparam-se às violações dos políticos bacanas, no momento em que ferem as normas jurídicas instituídas.

Os bandidos das favelas e os políticos corruptos estão em lugares diferentes, têm seus cotidianos diversos, mas possuem algo semelhante entre si: violentam as regras, transgridem as convenções, saqueando a moral e os bons costumes.

Não que o tráfico não deva ser reprimido, longe disso. Mas a corda poderia começar a arrebentar no lado que não fosse tão fraco assim.

Fernando Zocca.


terça-feira, 20 de outubro de 2009

Esmeralda? Que Esmeralda?


Quem seria a Esmeralda sempre aludida por Jô Soares no encerramento dos seus programas?


No fechamento da última edição, levada ao ar na madrugada deste 20 de outubro, o apresentador disse ter “adorado a sua bermuda” e que seria ela “transparente”.


Além de Estância no Estado de Minas Gerais, esmeralda é uma pedra semi-preciosa, que teve importância relevante durante os primeiros anos do desbravamento do Brasil. Os Bandeirantes Domingos Jorge Velho, Fernão Dias Paes, Manuel Borba Gato e Jerônimo Leitão vasculhavam o interior do atual Estado de São Paulo, justamente atrás desse tipo de riqueza.


Algumas crônicas da época citariam o fato deles reunirem-se, com seus liderados, na cozinha das habitações em que se preparavam para as longas expedições de busca dos tesouros a serem descobertos?


Quais penas daquele tempo narrariam que durante os preparativos das Bandeiras, eles se alimentariam com pães adormecidos, postos a secar no forno, depois comidos com o café forte, feito na hora?


Além dessas relevâncias todas o que diriam os nossos Bandeirantes Antonio Pedroso, Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhanguera ou "Diabo Velho", sobre o escritor português José Saramago, prêmio Nobel de Literatura, que garantiu numa entrevista publicada em 18/10/09 no jornal lisboeta Público, ser a Bíblia “um manual de maus costumes”?


Teria mais do que a ira quem sempre fez a mira, principalmente nas crianças? E os atuais provectos seresteiros, hábeis também na execução das chamadas “modas de viola”, chorinhos e rock and roll, interpretados nos cenários com barcos verdes ou periquitos estridulantes, mandados judiciais, além das antigas alusões às canções da Carmem Miranda, feitas nas calçadas, quem diriam ser a Esmeralda do Jô Soares?


E o dito pintor afamado, conhecedor do Vincent Willem van Gogh, seria mesmo tão adamado?


Na ilustração acima você vê o autorretrato de Willem van Gogh.




segunda-feira, 19 de outubro de 2009

O bar

- E aí pantera, tudo bem?
Ele entrara duma forma tão silenciosa que quando o vi estava já ao meu lado quase fungando no meu cangote. Assustada, achei que poderia ser mais um aproveitador. Não respondi. Continuei lavando meus copos. Era um moreno jambo, alto pra caramba, cara de safado, cabelos divididos à esquerda, igual ao John F. Kennedy, e tinha um bafo de cigarro dos infernos.
Ele pediu uma cerveja. Sentou-se à mesa do meio. Foi o primeiro cliente do inicio da noite daquela quinta-feira triste. Com um movimento rápido, feito felino, capturou com a mão direita, o jornal que dormia sobre o balcão. Ao sentar-se buscou o maço dos cigarros, no bolso esquerdo da camisa de mangas curtas.
Ajeitei meus cabelos encaracolados, curtos e louros. Eu achava que deveria tingi-los de cobre, já que o amarelo-palha dava um destaque muito bem feio pros meus olhos azuis. E depois tinha mais: aquela minha pele alva era terrível. Não podia tomar um minutinho só de sol que tudo ficava ardendo feito um não sei quê.
Eu via unicamente momentos de tristeza. Meus pais acabavam de separar-se. Ouvia eu, às escondidas, as conversas, e disfarçava, assim como quem não entendia nada. Mas pude perceber que minha mãe traíra meu pai. Ele fora motorista de caminhão e enquanto estava fora ela aproveitava, enfeitando a fronte dele com os galhos ostensivos e exuberantes.
Imaginava que mamãe fizera aquilo como vingança eis que ele a enchia de sopapos e pancadas, todos os dias, quando chegava da rua, torto com tanta cana.
O silêncio incomodava-me. Liguei o rádio. Estava quase na hora do resultado do bicho. Minha tia, lá no andar de cima, daquele sobrado antigo, junto com outro tio, seu irmão, tramava algo que eu cismava ser a captação de apostas. O telefone funcionava incessante e o radio a pilhas informava o necessário pro deslinde da banca.
Um outro meu tio, xarope nato, a verdadeira ovelha negra da família, deveria substituir-me, já naquela altura do campeonato. Eu estava exausta. Fizera, na máquina primeva, os sorvetes de massa que seriam vendidos, no dia seguinte, aos escolares da escola velha e chata, plantada defronte ao bar. Mas o louco, que lembrava Adolf Hitler, estava fechado no banheiro, quem sabe fumando mais um baseado enorme feito com a erva maldita.
Não poderia dizer, o que aquele matuto tinha em comum com a besta apocalíptica. Talvez fosse o parentesco em satã, evidenciado nas estripulias que aprontava pelas madrugadas, movido à maconha e mamãe-de-luanda, quando a cidade ainda ronronava.
Aquele tio, como já disse, era análogo ao demônio. Um dia, chamou-me ao banheiro, onde simulava fazer xixi, e mostrou-me aquela coisa cabeçuda, vermelha e que parecia crescer quando cheguei perto. Senti meu rosto afoguear-se. Meu coração pulava. Ele mandou-me segurar na pontinha. Virei o rosto enojada, e corri. Imagine! O que era aquilo, minha amiga?
Nos dias subseqüentes, quando percebia que eu estava encerrada no banheiro, batia de leve na porta, pedindo-me com voz sussurrante, que a abrisse. Se relutasse, ele colocava logo pelo vão, uma nota de cinco mangos. Aquela agonia, que me dava, não impedia de recebê-lo e fazer o que mandava sua loucura.
Contei a história pra minha tia-dona-da-banca e ela achou que deveria rogar uma praga bem forte nele. O arrenegado seria perseguido por onde quer que fosse. Até ao Rio de Janeiro, por caronas, o danado seria conduzido; e se fosse possível, deixado lá com os malvados que dariam um fim naquela sua vida fodida e nefasta.
Se o cancro fizesse cursinho, seria perseguido. As opiniões que se formariam ali junto aos professores, funcionários e alunos seriam das piores com relação a ele.
Se o porco entrasse na faculdade, todos menos ele saberiam, que era uma besta e que deveria ser deixado de lado, no ostracismo. Ele não teria consciência que a maioria saberia sobre seu passado tenebroso e maligno.
Aquele destino estava traçado: sanatório, cadeia e cemitério.
- Outra cerveja, meu bem!
O moreno, de pé, quase ao meu lado, fazendo cara de tarado e, soltando os bagos com espalhafato, olhava-me em meu devaneio. Aquela olhadela eriçou-me os pêlos do meu braço esquerdo. Será que meu destino seria pecar? Sempre soube que vida de marafona era dose.
Que Deus me livrasse dos maus desígnios. Afinal, apesar de estar um tanto quanto gorda, ainda assim, com algum treino, tinha absoluta certeza, poderia fazer bonito em qualquer maratona.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Coisa de bêbado

Naquela tarde quente de quinta-feira, dez de janeiro, haveria na casa da Luisa Fernanda, mais uma reunião festiva regada com muitos fluídos alcoólicos. Primeiro a chegar, Van Grogue tinha o rosto afogueado e brilhante, sinais indicativos de que já estava “mamado”.

A piscina caseira, no fundo do quintal, continha águas turvas e apesar das queixas constantes dos vizinhos, sobre a possibilidade óbvia da disseminação da dengue, Luisa pouco se importava com os reclamos considerados inoportunos.

Van foi recebido pela anfitriã, que agindo com certa exaltação eufórica, puxou-lhe uma cadeira metálica componente de um grupo de quatro em cada mesa. Havia um conjunto de cinco mesas brancas também metálicas, dispostas ao redor da piscina verdolenga.

Luisa passou a conversar com Grogue, ofereceu-lhe um copo de cerveja e este acendeu um cigarro. Entretidos na conversa foram logo interrompidos pelos demais convidados que chegavam; estes bem descontraídos e à vontade, acomodavam-se nos locais que escolhiam.

O clima estava tranqüilo, no ar pairava um aroma de salgadinhos, perfume e cerveja, quando de repente, o poodle da Luisa, tomado por um acesso incontido de agitação, passou a latir desenfreado.

Lá em cima do muro, Isauro o vizinho chato, conhecido nos bares do bairro como boca-de-porco, por causa da halitose repugnante, gritava pedindo silêncio.

O burburinho emanante da reunião arrefeceu. Todos olharam para aquele ponto inflamado sobre a parede O cachorro continuava latindo.

Isauro diante do silêncio que se formou, e torcendo para que a dentadura não lhe escapasse da boca, disse:

- Gente, pelo amor de Deus! Eu preciso dormir. Tenho que levantar cedo para pegar no meu serviço. Assim não tem quem agüente.

As pessoas voltaram-se umas para as outras e todas buscando, com o olhar para Luisa Fernanda uma orientação, viram pelo gesto que ela fez, que poderiam continuar divertindo-se sem maiores problemas. Que não se preocupassem.

Luisa Fernanda girara o indicador da mão direita em torno da orelha do mesmo lado, dizendo com aquilo que Isauro era maluco, e que desmerecia atenção.

Isauro calou-se diante da zoada que recrudescia, arrumou os fios rebeldes da peruca nova, descendo então do muro.

Mas logo os comensais tensos puderam ver horrorizados que tijolos eram lançados contra eles. Houve um alvoroço, um corre-corre e alguns caíram empurrados por outros.

Ameaçando de morte aquela gente toda, Isauro ofegante, por causa do tabagismo, atirava tijolos enormes contra os festeiros sem, no entanto, acertar nenhum em ninguém.

Esquivando-se, protegendo-se e sentindo-se seguros, os convivas puderam observar até que ponto ridículo e absurdo a insanidade provocada pelo alcoolismo, analfabetismo, e tabagismo podem levar alguém, apesar da idade avançada.

Isauro vestia uma bermuda verde suja, um par de chinelos rotos e uma camiseta azul sem mangas. Seu rosto congestionado indicava intoxicação; ele só não invadiu a casa da Luisa Fernanda por absoluta falta de preparo físico. A taquicardia e taquipnéia impediram-no de coordenar os pensamentos e, o máximo que ele podia pronunciar para a vizinha era a frase: “vou te matar”.

Na verdade Isauro estava louco, impregnado pela pinga ruim, cerveja de garrafa com tampinha enferrujada e cigarros baratos.

Apesar dos esforços da Luisa Fernanda, feitos para impedir a debandada, não houve mesmo jeito.

A festa acabara e a reunião fora desmanchada num clima lúgubre de revolta que se apoderou das pessoas. Todos foram embora indignados.

Arrasada, envergonhada e prometendo revanche, Luisa Fernanda sentou-se ao seu teclado, onde passou a dedilhar velhas melodias.

Ela tocava de ouvido e apesar do medo que sentia, diante de uma outra provável investida de Isauro, deixou-se levar pelo encantamento dos sons mágicos.

No dia seguinte Luisa, ainda bem ressentida, tratou logo de esquecer as ocorrências partindo, bem cedo, para a academia onde dançaria boa parte do tempo.

Fernando Zocca.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

FUNILEIRO BÊBADO MATA A FILHA COM UM TIRO NA CABEÇA

Agência Folha - São Paulo (SP)

A Polícia Civil prendeu ontem o funileiro Nailton Nonato de Freitas, 42, acusado de ter matado a filha Simone Maria de Freitas, 19, em 3 de setembro do ano passado. O crime ocorreu na casa de Freitas, na Rua Igarapé Vintém, no Parque Edu Chaves, zona norte de São Paulo. Segundo o chefe dos investigadores do 73º DP (Jaçanã), Talma Bauer, responsável pelas investigações, no dia do crime Freitas chegou em casa bêbado e tentou agredir sua mulher, Débora Maria Zarameli, 50. Durante a briga, as filhas Simone e Kátia Maria de Freitas, 22, intervieram. Freitas atirou contra Simone, acertando-a com um tiro na cabeça. O funileiro ainda tentou atirar três vezes contra Kátia, mas a arma teria travado. Após o crime, segundo o investigador, Freitas tentou roubar o carro de um vizinho, que também foi atingido no ombro.

O funileiro conseguiu roubar outro carro, que abandonou em seguida no Jardim Brasil, zona norte, e fugiu.

Freitas foi detido ontem à tarde, após denúncia, em uma oficina mecânica no Parque São Rafael, zona leste da cidade. O investigador afirmou que o funileiro confessou o crime e disse que já teria matado outra pessoa em Maceió, há anos, porque o rapaz teria estuprado sua irmã. ‘‘Ele confessou o crime e disse que matou a filha porque ela era malcriada. Estávamos atrás dele desde o dia do homicídio na zona norte.’ Segundo Bauer, Freitas saiu de Alagoas e veio para São Paulo em 1973, onde conheceu Débora. Eles moravam juntos até o dia do crime e tiveram quatro filhos: além das duas meninas, outros dois rapazes, um de 11 e outro de 12 anos.

Débora disse à polícia que Freitas sempre bebia e batia nela. Disse ainda que o funileiro ameaçava matá-la caso denunciasse as agressões. Segundo o investigador, Freitas já tinha passagem pela polícia por latrocínio, mas foi absolvido da acusação pela Justiça.

Homem mata a mulher e depois se suicida

Um homem matou a mulher a tiros e depois se suicidou por volta das 19h30 na Avenida Rebouças, informou a Polícia Militar (PM). Ainda de acordo com os primeiros dados da PM, os dois morreram na hora e não chegaram a ser socorridos.

A polícia ainda não tem detalhes do suposto homicídio. O 15° Distrito Policial (Itaim Bibi) atende a região do fato e o caso deve ser encaminhado para registro nesta delegacia.
250808.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

A saia justa da Maitê Proença

A atriz Maitê Proença gravou em 2007 um vídeo lá em Portugal tirando o maior sarro das coisas portuguesas, terminando ainda aquela sua obra, com uma cuspida numa fonte histórica.

Não se sabe por que a produção só veio à luz, na internet, por esses dias e não bastou muito tempo para gerar uma onda tremenda de protestos contra a agressão moral. Fizeram até um abaixo assinado contra a manifestação infeliz, pedindo a ela que não pusesse mais os pés lá onde era sempre bem recebida e tinha seus livros consumidos.

Foi patifaria gratuita. Maitê Proença tem dois avôs portugueses, viajava constantemente para Portugal, era querida pelo povo que adquiria os livros que escrevia.

Qual seria a intenção de Maitê Proença ao agredir o povo português, sua história, costumes e tradições?

Se a atriz brasileira ao caminhar pelas ruas de Lisboa e outras cidades fosse, digamos vítima do que se conhece por bullying, assédio moral ou provocasse uma rejeição imotivada, certamente teria razão em defender-se. Mas não. Os ataques foram gratuitos, sem razão que os justificasse.

Esses motivos ocultos deveriam ser revelados. Maitê, ante as ondas gigantescas dos protestos que gerou, pediu desculpas ao povo português, dizendo que tudo tinha sido uma brincadeira.

Até as novelas brasileiras, compradas pelos portugueses, podem deixar de ser adquiridas por causa do vacilo da atriz e escritora. No vídeo de 54 segundos, que ela gravou pedindo desculpas, afirma que o “brasileiro é brincalhão” e que “brinca com tudo”.

A ira que Maitê despertou nos portugueses veio expressa nos milhares de comentários feitos aos pés das notícias que divulgavam o vexame. A agressão que a senhora Maitê Proença produziu foi levada ao ar em 2007, no programa Saia Justa, da GNT.

Os xingamentos a Maitê Proença foram tantos que ela, visivelmente numa saia bem justa, pede desculpas pelo mal causado. A repercussão negativa foi tamanha que sumidades da imprensa brasileira puseram-se logo a campo em defesa da ilustre senhora.

A atriz brasileira recentemente viu-se numa outra saia justa quando a escritora Ligia Fagundes Telles queixou-se que o título As Meninas, usado por Maitê numa peça de sua autoria, seria plágio do nome de um romance dela, da Ligia.

Portugal pode ser considerado uma porta legítima pela qual passem os produtos brasileiros rumo à Europa toda. Que a maluquice da Maitê não seja o início de uma política de esquiva do povo português ao consumo dos produtos brasileiros feitos por gente de boa vontade.


Fernando Zocca.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

A toada

Falta de respeito, de educação. Assim é que se define a atitude dos saciados zombadores frente àquilo que pra eles nada pode significar. Mas o que se pode esperar para quem rouba, sem ser roubado, destrói sem antes ter sofrido a destruição?
Por que agiria de forma tão deletéria o comportamento diruptivo? Estaria o tal agente sujeito pelas pressões insustentáveis a ponto de sair agredindo, ou agiria sob o manto da vingança?
Atua de forma legítima o indivíduo que, a guisa de defender um irmão prejudicado, direciona seu repertório de maldades, contra o filho indefeso do prejudicador?
A mãe atarefada, atribulada nos afazeres do lar, insensível ao fato de que se torna tão ou mais importante ouvir do que manifestar-se, não seria eximida da culpa pelos acontecimentos futuros desagradáveis que acometeriam sua prole?
Pode alguém não ter consciência de que promessas podem ser quebradas, esperanças frustradas, ou um desejo ardente insatisfeito, por incúria no manifestar-se e negligência no ouvir?
Quem negaria que as paredes têm ouvidos e que há milhões de ouvidos emparedados, insensíveis às realidades do dia-a-dia? Há aqueles que fechados em si mesmo, fascinados, absortos, não se preocupariam com as palavras emitidas, não podendo crer que elas gerariam tragédias pessoais indeléveis.
Não podemos nos esquecer que não estamos sós. Mesmo no lar, entre as paredes, existe a percepção dos acontecimentos. Os passarinhos verdes das palmeiras, ávidos de novidades, se encarregariam de levar aos outros pássaros verdes, também das palmeiras, as novas sobre as nossas atitudes.
Há quem tenha consciência disso tudo e, no seu proceder verbal utilize manobras objetivando confundir os emplumados. Mas não podemos nos esquecer que a percepção é um fenômeno fisiológico. Assim como a acuidade visual varia de pessoa para pessoa, todos os demais sentidos, como a audição e o tato, são mais desenvoltos em uns do que em outros.
É importante que saibamos que as toadas prejudiciais nascem também do que coletam os tais passarinhos verdes das palmeiras. Os compromissos firmados com a moral, os bons costumes, a religião, a religiosidade, não poderiam ser esquecidos ante as novas perspectivas que surgem no horizonte.
Mas seriam moralmente condenáveis, os pássaros verdes das palmeiras, que ao coletarem as gotículas vaporosas esvoaçantes, as levassem para alimentar a toada dos outros bípedes de penachos?
Não daríamos motivos para fofocas mortais, destruidoras, se tivéssemos mais cuidado com o que dizemos. O futuro, a saúde, o bem estar, o trabalho, as amizades e todos os demais valores estão sujeitos ao que expressamos, seja em público ou entre as quatro paredes.

sábado, 10 de outubro de 2009

PAIXÕES A ARDER




È inegável que a violência grassa nas grandes concentrações humanas. Não são incomuns as reuniões de pessoas que passam horas a bebericar, para depois, por um me da cá aquela palha, agredirem aos próximos com chutes no peito ou garrafadas nos costados.


De quem seria a culpa de tanta selvageria, de tanta falta de educação? Como você pode dizer ao pai de um moço amancebado, viciado em drogas, que seu filho agride pessoas com palavras, fisicamente com pontapés e garrafadas, se o próprio pai do meliante também passou por condenação penal e não está nem aí com o problema?


Como pode o cidadão comum dirigir-se à gordurosa mãe do proxeneta a fim de lhe pedir a frenação da loucura daquele produto podre do seu ventre? Ô carniça! Que tipo de conversa teria você, meu amigo leitor, com um assassino em potencial, que faz do ócio dos seus dias inúteis, momentos de perturbação do sossego alheio?


Que diria você, minha amiga leitora, para uma pessoa sustentada com o dinheiro que recebe a concubina, em decorrência de uma ação de alimentos proposta contra um pobre infeliz ingênuo, apanhado na armadilha da barriga de aluguel?


O que diria o senhor delegado de polícia, a senhora assistente social da prefeitura, para as pessoas amontoadas em cortiços de onde não se vê sair nada de bom que não seja drogas ilícitas?


Observa-se, em alguns trechos, da abandonada Vila Independência muitos cistos, cabeças-de-porco, verdadeiros chiqueiros formados por amontoados de pessoas vindas de famílias desfeitas, totalmente privadas de boas maneiras e civilidade.


Onde estão os pais responsáveis por esses selvagens? Onde está a autoridade policial a quem incumbe a repressão ao tráfico de drogas ilícitas?


Onde estão as autoridades legislativas e do executivo dessa cidade? Estariam por certo em lugares diversos dos demais trechos em que permanecem imobilizadas nas perenes poses para as fotos com as quais se exibem ao púbico?


Cadê a educação das jovens adolescentes abandonadas pelo pai irresponsável, quiçá agalhado pela mulher leviana? Onde está a responsabilidade do avô libertino, que nada faz pela educação das aprendizes de meretriz, a não ser esperar com avidez o pagamento efetivado constantemente pelo poder público? Onde está a sensatez da velhota ocupante do lugar da avó morta em circunstâncias ocultas?


Onde estão os pais da moça que vive no bem-bom usufruindo as pensões alimentícias, pagas por homens diversos, genitores dos filhos adulterino e natural?


Que segurança se pode ter nestes bairros distantes onde no mínimo você pode levar um pontapé no peito ou uma garrafada nas costas?


Piracicaba é maior do que esse lixo hospitalar, lixo de cadeia, lixo de prostíbulo, e lixo de botequim que se acumula nos cortiços obscuros e tenebrosos da cidade, justamente neste começo do fim do mundo.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

O gole generoso




Mariel Ardeu Demorais na tarde de quinta-feira, entrou já bastante cansado, no bar do Bafão pra comprar o seu costumeiro maço de cigarros. Assim que o recebeu leu a tarja “CIGARRO PROVOCA IMPOTÊNCIA SEXUAL”. No mesmo instante devolveu-o perguntando:
- Você não pode trocar este por aquele que PROVOCA SÓ CÂNCER?
Bafão considerou as altas taxas de pinga contidas naquele corpo, evidenciadas pelo olhar zonzo, rosto afogueado e pés inchados, como as motivadoras dos disparates. Mas mesmo assim respondeu:
- Já está mais do que na hora de você encomendar o espírito. O corpo já foi. É ou não é, Mariel?
- Ah, deixa disso, mano! Trabalho o dia inteiro naquela oficina e quando vou refrescar a goela tenho que ouvir essas loucuras? Ora, faça-me o favor. Ocê sabe que se eu só fumasse corria o risco de ficar doente. Mas não. Ocê não vê que eu gosto de tomar muita cerveja? É isso que me livra a cara.
- Hum... Tá bom. Vai querer pinga antes da cerveja? – no mesmo instante em que falava Bafão asseava o tampo do balcão com uma toalha branca.
- Bota o de costume.
Bafão percebeu que Mariel estava irritado. Talvez o serviço na oficina não estivesse muito agradável. As cobranças eram constantes e o esperado retorno financeiro não se mostrava à altura de produzir a satisfação plena.
- Você não ficou sabendo o que aconteceu com o Van Grogue? – perguntou Bafão, ao servir o freguês com a pinga.
- Faz tempo que não vejo o Grogue. Por onde anda aquela desgraça?
Bafão tirou da geladeira uma garrafa geladíssima de cerveja, abriu-a a vista do consumidor e ao ajeitar um copo limpo ao lado da vasilha, continuou:
- Van Grogue esteve trabalhando como colocador de carpetes. Foi por isso que não apareceu mais por estas bandas. Dizem que está ganhando muito dinheiro.
- Ele esteve lá na oficina, no mês passado. Reclamou do barulho, mas depois foi embora. A turma diz que ele voltou a beber. Será verdade?
Bafão respondeu:
- Olha, que eu saiba, o Grogue nunca parou de beber. Foi o pessoal que deixou de ver ele encharcando a cara. Disseram que um dia ele estava tão louco, mas tão louco de vontade de fumar, que depois de ter colado o carpete na sala do Cidão Boyola, viu uma elevação que se destacava bem perto do meio. Ele achou que era o maço de cigarros que havia esquecido ali. Com preguiça de refazer o serviço, ele simplesmente pegou o martelo e amassou, à pancadas, o calombo. Bom, quando já se preparava pra ir embora, a mulher do Cidão Boyola apareceu trazendo o maço de cigarros dele, - do Grogue - esquecido em cima da mesa da cozinha. Depois que Van o guardou bolso, a mulher lhe perguntou se não tinha visto o filhote de gato que viera para a sala. Ocê acha que o Grogue teve a coragem de responder que tinha visto o filhote de gato?
- Eu acho esse Van Grogue um tremendo chato. Dizem que ficou amigo do Jarbas. É verdade? – Mariel demonstrava, já com a voz embargada, interesse inusitado em saber algo a mais sobre o famoso pinguço de Tupinambicas das Linhas.
Bafão emendou criticando:
- Imagine que o Grogue fez amizade com o Jarbas! É mais fácil uma vaca voar! Depois que a seita maligna do pavão-louco, a serviço do prefeito caquético testudo, “sujou a água” dele na cidade, o Grogue tem medo até de ir à praça ao entardecer. Ocê sabe muito bem Mariel: gato escaldado tem medo de água fria.
- Pois eu acho que fez muito bem esse prefeito! – enquanto falava Mariel Ardeu segurava o copo de cerveja suspenso diante dos olhos – Tinha mais é que dar uma sova nesse cara sujo.
Aquietadas as emoções, depois da ingesta de mais um gole generoso da cerveja que já não estava tão fria assim, Mariel Ardeu Demorais pôde ver a beldade loura que entrava no recinto. Era Luisa Fernanda, a gerente que tentava “há séculos”, tocar de orelhada o hino do Corinthians naquele seu teclado vetusto.
Rebolando aquela sua bundinha flácida Luisa disse categórica:
- Seu Bafão, me embrulha, por favor, 360 gramas de mortadela da boa. Mas olha: é da boa, hein! Não quero enganação.
- Sim, senhora. É pra já. – Respondeu Bafão solícito.
Notando que o silêncio do ambiente o incomodava Mariel Ardeu estendeu a mão em direção à mulher dizendo:
- Olá, como vai dona Luisa? E a greve já acabou?
Luisa Fernanda afastando-se do homem, como alguém que se afasta de um cão fedorento, murmurou algo parecido com “o que é isso?”, mas disse em voz alta:
- Não ponha a mão em mim!
Sem impedir a vazão dos sentimentos horríveis que lhe bagunçaram a alma naquele momento, Mariel Ardeu de Morais disse às costas de Luisa Fernanda enquanto ela saia carregando o embrulho.
- Vai ficar louca!
Bafão anotando o débito na conta da freguesa, nem deu tanta importância ao fato. Sabia que aquilo era ainda o reflexo da quizumba antiga havida entre aqueles pobres “cachorros pequenos”.

Fernando Zocca.
(texto revisado)






quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Bandidos ameaçam queimar gerente de banco

Vende-se um compressor de ar comprimido. Tratar com Joãozinho pelo fone 2216 4612


A gerente de uma agência do banco Santander foi sequestrada, na noite de terça-feira, quando chegava em casa na Vila Isabel, Zona Norte do Rio. A vítima ficou quatro horas em poder dos bandidos, e acabou libertada pelos criminosos após a perseguição de policiais do 19º BPM (Copacabana). Durante esse período, foi levada pela quadrilha à agência onde trabalha, em Copacabana, levou coronhadas e foi ameaçada.


A vítima foi abordada pelos bandidos por volta das 22h30m, em frente ao prédio onde mora. Bombeiros do quartel de Vila Isabel presenciaram a ação dos sequestradores e chamaram a polícia.


A quadrilha planejava assaltar a agência do Santander na Avenida Nossa Senhora de Copacabana. A gerente foi colocada num Fiat Doblô roubado e numa das tentativas de entrar na agência, o carro dos criminosos foi interceptado por PMs.


Os policiais iniciaram a perseguição, trocando tiros com o bando, até a Rua Pintora Djanira, em Santa Teresa, onde os bandidos libertaram a gerente abandonando o carro. Ela contou que os sequestradores ameaçaram queimá-la viva:


- Eles faziam ameaças o tempo todo, dizendo que, caso eu não os ajudasse , iriam atear fogo em meu corpo, disse a mulher à reportagem do Extra Online.





terça-feira, 6 de outubro de 2009

Falando sobre a datilografia


É, veja bem: como poderia um escritor escrever sem nem ao menos saber de que jeito se colocava o papel na máquina, fixando-o antes de iniciar a datilografia? Sim porque também nas redações dos jornais, daqueles tempos de antanho, se o sujeito não soubesse escrever à máquina, não estaria habilitado a produzir de forma correta.


Era imprescindível, para quem quisesse manifestar o seu pensamento, suas emoções e vivências, o saber datilografar. Se não soubesse, neném, fim de papo.


É notório que só o conhecer datilografia não habilitava o sujeito a produzir qualquer tipo de texto digerível. Mas a escrita à maquina foi importantíssimo. Era necessário aprender de qualquer forma.


Em Piracicaba, naqueles tempos em que havia, nas proximidades do mercado municipal o Bazar do Baiano, existiam algumas escolas de datilografia. Eu particularmente tive a felicidade de freqüentar, inicialmente, uma que ficava ali na Rua Benjamim Constant, quase defronte ao Cine Colonial.


Não cheguei a terminar o curso, mas a experiência valeu-me para iniciar a prática há muito desejada por mim.


Bom, como tudo de bom, naqueles terríveis anos de 1973, 1974 e 1975 a datilografia foi deixada pra trás, por conta dos danos causados pelo canhoneio da guerrilha louca, suja e covarde.


Depois de uma temporada no estaleiro e recuperadas as energias, tive a oportunidade de freqüentar, e concluir, o curso numa escola de Campinas. É claro que tudo era financiado por minha tia Maria.


A instituição que freqüentei cuidava também do pessoal que morava nas ruas e que se dedicava a coletar material reciclado. Era uma entidade espírita.


Bom, sei que a prática exercida ali me valeu a destreza no teclado e quando já advogava, anos mais tarde, percebia que a agilidade no manuseio da bendita maquina de escrever, suscitava comentários elogiosos de alguns colegas na sala da OAB.


Eu seria uma besta bem pior do que sou se não reconhecesse, publicamente, os benefícios obtidos ao freqüentar aquele educandário. A verdade seja dita.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

O fluxo palavroso



Calma crianças! Não se desesperem, chega de brigas e discussões. Que tal se pararmos um pouco só com a verborreia infecunda e passarmos a admirar, em silêncio, o que a natureza tem a nos oferecer de melhor?


O falar compulsivo indica um certo desequilíbrio emocional, passível de correção pelo pessoal especializado. A verbalização, sem a busca do sentido lógico do pensamento, objetivaria a redução da tensão emocional, presente num ambiente retesado e desconfortável.


Porém a prática tem demonstrado que esse procedimento pode causar opressão e mal estar, especialmente nas crianças. Temos de lembrar que os seres pequeninos judiados nos dias presentes, no futuro, serão os que praticarão, contra os mais velhos, essa espécie de sadismo logorréico.


Para os que vivem inseridos dentro dos ambientes fechados, onde as percepções sensoriais são limitadas pelas paredes, nada mais salutar do que ter à nossa frente, os horizontes expandidos, o ar fresco a refrigerar a alma e o sol aprazível aquecendo o cocoruto.


Os hábitos têm consequencias diretas sobre a nossa saúde e daqueles que vivem ao redor. O que poderíamos esperar daqueles adultos, que ainda em tenra idade, seriam levados por padrastos e avôs aos bares, onde estariam expostos aos tais vícios nefastos?


Vemos que há muita privação do bom senso, carência mesmo, daquele espírito de Jesus, que tudo releva e perdoa. Ninguém gosta de ficar com a “batata quente”. Todos desejam, a todo o momento, livrar-se, seja a qualquer custo, da “bagaça” do desconforto. Foi Jesus Cristo quem nos ensinou que, para termos uma sociedade mais justa, mais digna, devemos suportar as dores todas, ofertando ainda, em troca o perdão. É por isso que, louvando a todo momento, o nosso Senhor Jesus Cristo, ele deva sempre ser louvado.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Capital fluminense sedia os jogos de 2016

O presidente Luis Inácio Lula da Silva, o governador do Estado do Rio de Janeiro Sérgio Cabral, o prefeito do Rio Eduardo Paes, juntamente com todos os demais membros da delegação brasileira que foram à Copenhague, na Dinamarca defender a realização dos Jogos Olímpicos em 2016 na cidade maravilhosa, vibraram eufóricos com a notícia da escolha da capital fluminense.

O Rio participou de um jogo duríssimo disputando o privilégio com Chicago, a cidade norte-americana que tinha o aval de Barack Obama; com Tókio que alegava ter quase todas as instalações prontas e, Madri que informava possuir a maior aceitação popular para o evento.

Pela escolha dos jurados, Chicago foi a primeira eliminada, cabendo à Tókio vir em seguida. Os fluminenses esperavam ansiosos a decisão que se daria entre o Rio ou Madri.

Depois de muita expectativa os responsáveis emitiram seus votos, mas o anúncio do resultado foi postergado para depois das 12 horas, (horário de Brasília).

Lula, bastante convincente, no discurso que fez em defesa da escolha da cidade brasileira, falou com serenidade, sendo seguido pelo Governador Sérgio Cabral e pelo prefeito Eduardo Paes. Também sustentaram oralmente o desejo nacional, o presidente do Banco Central Henrique Meirelles, o ex-presidente da Fifa João Havelange, o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro Carlos Arthur Nuzman e a medalhista olímpica Izabel Swan.

Escolhido por 66 votos contra 32 de Madri, o Rio de Janeiro presenciou uma festa enorme realizada na praia de Copacabana, onde houve até show de artistas brasileiros consagrados.

O Rio inaugura um nova era na história dos jogos olímpicos porque nunca foram antes realizados na América do Sul. Aliás, esse foi um ponto importante tocado pelo discurso de Lula, que salientou a oportunidade dos integrantes do COI em vencerem o desafio de expandir os Jogos Olímpicos.

Os governos federal, estadual e municipal pretendem, juntamente com a iniciativa privada, resolver os problemas que dificultariam a realização do empreendimento, utilizando a verba de R$25,9 bilhões, a serem empregados principalmente na hotelaria e sistema público de transporte.

Fernando Zocca.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Fugindo do dentista



- Sabe seu Zé, essa negadinha fica falando que eu sou um cara relaxado, que não ligo pra cuidar dos meus dentes e piriri-pororó. Eles não sabem que sem os dentes minha boca fica maior, cabendo mais comida. E depois tem mais, viu seu Zé: quem agüenta tanta dor pra tratar os canais? Veja bem: quando eu era ainda menino, meu pai me mandava ir pro dentista por qualquer motivo. E lá no consultório aquele homem alto, chato e feio, me mantinha com a boca aberta, contando os casos que ele tinha com as namoradas. Quando o cara percebia que eu estava ficando excitado, empurrava com força aquelas suas brocas terríveis nas minhas covas inflamadas. Sabe, quem é que agüenta tanta maldade e judiação? Assim a gente não resiste. E vai deixando de lado essa história de tratar os dentes. E depois tem mais viu seu Zé: o cara não se preocupava se aquele amálgama que ele preparava continente de mercúrio me intoxicaria ou não. Os resíduos das obturações não eram retirados imediatamente, permanecendo, às vezes, durante o tempo todo da estadia no consultório, debaixo da língua. Sabe seu Zé a gente não somos paranóicos, mas sofremos muito nas mãos dessa turma de malvados. E por falar nisso, eu me lembrei de uma visita rotineira que fazia ao oculista, o cara depois de algum tempo, olhou-me bem de perto, tendo aproximado seu rosto do meu, quase o tocando. Eu acho que ele intencionava observar os capilares da retina. E depois que lhe respondi uma pergunta que fizera, sabe o que ele afirmou? Ele disse: - Você é louco. Tudo bem, mas precisava ser assim tão direto, convincente, declarado, e verídico? “Ora direis, ouvir estrelas, certo perdeste o senso”, lembrei-me eu do que aprendera na escola. Mas voltando ao assunto você não acha que se eu for agora ao dentista não perderei um tempo importantíssimo, em troca de uma “perereca” fajuta que vai mais me importunar do que proporcionar satisfação? Ora, ora. E depois tem mais, viu seu Zé: pra que preciso de dentes se no meu serviço eu não os uso? Meu trabalho é endireitar, com marteladas, as latas que se encontram tortas e amassadas. Veja que dos 32 nem mesmo tenho os 28. Quem é que dorme com um barulho desses?