sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

O Fermento

Já se passaram uma ou duas vintenas de anos, talvez até mais, que a hipocrisia e a predisposição para a hostilidade, se manifestam assim, sem mais nem menos.

São componentes do caráter, como a cor da pele ou a estatura compõem o corpo; por isso não cremos haver a possibilidade de sucesso de qualquer tentativa para a domesticação.

Da mesma forma que o alcoólatra só deixa o vicio no momento em que decide fazê-lo, o pagão hostil só aceitará a paz no tempo que desejar.

São consequências do meio, da genética, da morfologia. Esses verdadeiros focos infecciosos são mencionados no velho testamento e considerados por Cristo como fermento.

Nessa ebulição eterna, a coesão interna do grupamento, só é conseguida com a demonização e a agressão dos alvos exteriores.

A hipocrisia tem muito do camaleão; é inconstante, incoerente e vibra energia podre, negativa. Os quistos são inatacáveis, intocáveis e muito preferidos por políticos sedentos de poder.

São refratários aos ensinamentos cristãos, não compreendem as mensagens de afeto; calcinam as estruturas limítrofes. Respondem com maldades a qualquer bem que se lhes faça.

Desertificam cidades, corrompem mulheres honestas e induzem a conflitos generalizados. Só sai de perto quem pode.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

O Cunhado de César



Não é só a mulher de Cesar, que além de ser honesta, deve aparentar a honestidade. Os cunhados de Cesar também.

Já imaginou o escangalhamento que ocorreria no gabinete do imperador, se o povo prejudicado expusesse, pelos murais, os desatinos cometidos com o pão destinado aos cidadãos de bem?

Cesar nomeava representantes, eleitos pelo povo, para os cargos administrativos do seu palácio. Isso provocava uma mistura dos elementos do executivo e do legislativo.

Um dos objetivos de César era o de conseguir a menor oposição possível, entre os fazedores de leis, aos seus desígnios.

Nas províncias distantes de Roma esse fenômeno repetia-se de tal forma que os simples gestores municipais, obtinham também os apoios maciços dos legisladores para as suas decisões.

Assim quando havia a necessidade de construção de uma ponte, o gestor da cidade idealizava, planejava e conduzia – sem oposição nenhuma - todos os planos de execução. É claro que a dinâmica atendia as necessidades financeiras do tal representante de Cesar.

Além dos impostos que, ao serem cobrados a mais, possibilitavam a remuneração dos agentes cobradores, as construções das obras também tinham esse mecanismo.

Então era comum ver líderes das cidades, que antes de Cesar, eram considerados desprotegidos e enriqueceram à pampa durante o exercício do mandato.

Cesar e seus seguidores usavam as pitonisas loucas em seus cortiços escuros para exercerem a influência considerada necessária, ao bom deslinde dos desejos políticos.

Cesar não era brinquedo não.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Fugindo da Guerra



Diante da iminência de uma guerra toda a nação se prepara. As forças armadas convocam o pessoal da reserva, a indústria é mobilizada para a produção do material bélico e a população se resguarda.

O poderio industrial de um país será responsável também por reparar, modificar e devolver ao front, os engenhos destinados à defesa e ao ataque.

Nesses casos os antigos planos serão adiados. O comércio exterior sofrerá alterações e enquanto durarem as hostilidades, os projetos de expansão industrial serão postergados.

Além da possibilidade das ações de um dos beligerantes serem atingidas no exterior, há a necessidade da concentração das forças produtivas no país de origem.

Mesmo assim se uma indústria multinacional não adia as intenções de expansão, haverá uma forte dispersão da energia passível de ser utilizada na defesa do próprio território, das suas instituições e do povo do seu país.

Os Estados Unidos sofreram uma derrota terrível no Vietnam em meados da década de 1970. Naquela oportunidade uma poderosa e tradicional indústria de tratores pesados, expandia-se pela América Latina.

Os americanos enfrentaram seus inimigos em território alheio, ou seja, os conflitos deram-se nas terras vietnamitas e a derrota não causou maiores danos do que tremores morais na ideologia e nos militares norte-americanos.

A situação diverge, e se agrava muito, quando a ameaça inimiga, da qual faz parte o uso das bombas atômicas, lança suas garras diretamente contra as cidades e à própria população.

Se a implantação de uma fábrica multinacional em território amigo for vista como provável refúgio após um possível revés militar, ela não deixará de ocorrer.



quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Injustiça Gera injustiça

Teoricamente os poderes componentes da estrutura dos Estados democráticos são três. O legislativo, cuja incumbência seria a de elaborar as regras norteadoras do agir na sociedade, o executivo cuja proposta é a de praticar as ações determinadas, e o judiciário que se incumbiria de julgar as condutas havidas no meio social.

Em tese haveria independência entre essas três instituições, mas na prática não é bem isso o que acontece. Observa-se que não é incomum a obtenção da disfunção de uma entidade, ao contaminá-la nomeando correligionário.

Numa administração municipal, o prefeito teria grande poder neutralizador da câmara de vereadores, ao nomear legislador para o exercício das funções secretariais.

A hegemonia política representada pela subserviência legislativa é obtida assim, também pela inibição das funções crítica e fiscalizadora.

Em não estando o judiciário imune à corrupção, promovida pelo abuso do poder político e econômico, teria em tese, o tal prefeito, um completo domínio político no seu território.

Nesse cenário sombrio e autoritário seriam frequentes a consumação da injustiça geradora dos vários conflitos graves, conducentes a enfrentamentos físicos e até homicídios.

Os desvios das grandes fortunas públicas conseguidas com as licitações viciadas, a cumplicidade legislativa municipal e a inocuidade judiciária, seriam fatores desencadeadores dos desentendimentos e crimes de morte.

08/03/2010 - O vereador de Águas de Lindóia Edson Âmbar chamou de chifrudo o presidente da Câmara Municipal, Joel Raimundo de Souza, durante a sessão na cidade localizada a 170 km de São Paulo. O insulto ocorreu diante das câmeras de TV. Houve confusão e briga entre os vereadores. A Polícia Militar foi chamada para intervir na questão.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Morte no Casamento

RECIFE 20/12/2010 - O supervisor de vendas Rogério Damascena, 29 anos, assassinou a mulher, a advogada Renata Alexandre Costa Coelho, 25, o chefe dele e padrinho do casal, Marcelo Guimarães, 40, e se matou com um tiro na cabeça, na madrugada deste sábado, em Camaragibe, no Grande Recife, durante a festa do casamento.

O crime aconteceu no condomínio Casa Grande de Aldeia, no quilômetro 14, da estrada do bairro.

Na sexta-feira, o casal havia realizado a cerimônia no civil. O irmão da noiva, Tiago Guerra, ficou ferido. Ele foi atendido no Hospital Santa Joana e já teve alta.

Rogério Damascena chegou a ser internado no Hospital da Restauração, mas não resistiu e morreu na manhã deste domingo.

A irmã da noiva, Lúcia Helena Coelho afirmou que não existe a menor hipótese de crime passional.

- Não teve nada de passional. Minha irmã era uma pessoa maravilhosa, que amava e queria ser amada. Ele estava feliz, a festa estava linda. A família dele adorava ela e está sem entender nada. Ele se revelou um psicopata, que enganou a família inteira. Matou o melhor amigo dele, o chefe, que estava lá com a esposa e foi o padrinho do casamento - disse.

 

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

João Manoel é reeleito presidente

O vereador João Manoel dos Santos (PTB) foi reeleito ontem (15/12), com 11 votos, presidente da câmara municipal de Piracicaba, pela terceira vez.

José Aparecido Longatto (PSDB) assumirá, a partir de 1º de janeiro, a vice-presidência; Carlos Alberto Cavalcante, o Carlinhos (PPS), será o primeiro secretário, e André Gustavo Bandeira (PSDB), o segundo.

As suplências da vice-presidência e da segunda secretaria serão ocupadas, respectivamente, por Ary de Camargo Pedroso Júnior (PDT) e por Paulo Henrique Paranhos Ribeiro (PRB).

João Manoel dos Santos (PTB) foi reeleito presidente com os votos de André Bandeira (PSDB), Ary de Camargo Pedroso Júnior (PDT), Bruno Prata (PSDB), Carlos Alberto Cavalcante (PPS), Capitão Gomes (PP), José Aparecido Longatto (PSDB), José Benedito Lopes (PDT), José Luiz Ribeiro (PSDB), Marcos Antônio de Oliveira (PMDB) e Paulo Henrique Ribeiro (PRB), além do próprio João Manoel.

O candidato derrotado, Laércio Trevisan Júnior (PR) teve três votos: de José Antônio Fernandes Paiva (PT), José Pedro Leite da Silva (PR), além do próprio.

Márcia Pacheco (PSDB) faltou à sessão. Walter Ferreira da Silva, (PPS) também conhecido como o Pira votou em branco.

POR FALAR EM CÂMARA DE VEREADORES

O auditório da Câmara de Vereadores de Itaituba no Pará estava lotado para a escolha da nova mesa diretora. Mas quando a sessão começou dois componentes iniciaram uma discussão.

O bate boca passou para a agressão física e a briga tomou conta de todo o plenário. Uma vereadora passou mal e precisou de atendimento. A polícia teve de ser chamada para controlar o tumulto e a votação foi adiada.

Veja o vídeo.



segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Combate ou Adoração?

É notabilíssima a importância dada, no interior, e nas camadas mais pobres, à união das pessoas da mesma família.

Entretanto pouco se sabe a respeito do que realmente produz a tal coesão.

É notória, só não vê quem não quer, que na maioria dos casos, a concórdia é obtida não pela adoração do sagrado, mas pelo combate a um objeto externo.

Então surgem as pobres almas ingênuas propondo a evangelização dessas pessoas.

Mas será que elas desejam mesmo ser evangelizadas?

À semelhança do alcoólatra, que só deixa o vício por vontade própria, há pagãos que admitem a vivência do evangelho no exato momento em que desejarem.

Por outro lado, nas famílias onde se evidencia a aparente diversidade de interesses, nota-se também a preponderância da civilidade, do respeito às pessoas, à propriedade alheia e aos bons princípios morais.

Então pergunta-se: É mais interessante para a comunidade a família coesa, una, mas que violenta a integridade alheia, ou a família composta por pessoas com interesses distintos e obediente às normas da boa educação?

Sabe-se que o batismo não demove ninguém das práticas pagãs e que existem interesses políticos por trás do modelo familiar, cuja liga é conseguida com a demonização do algo exterior.

A quem mais compete evangelizar propondo a substituição do cimento coesivo “combate” pela louvação do sagrado?

sábado, 11 de dezembro de 2010

Batendo o Martelo



Quem poderia imaginar um encontro entre a tia Ambrosina e Van Grogue? Pois ele aconteceu mesmo. Foi assim:

O biriteiro Grogue, que já ostentava uma cabeleira quase toda branca, saiu do boteco do Maçarico, depois da pingaterapia do dia e, ao tentar atravessar a rua, quase foi atropelado pela velha senhora, proprietária do maior latifúndio urbano do Estado de São Tupinambos, a tia Ambrosina, que dirigia o Tucson recém-adquirido.

Além de acionar a buzina, com bastante indignação, por ter alguém tão estrumbicado, atrapalhado sua passagem, a mulher abriu a janela lançando impropérios contra o infeliz cambaleante.

- Sai da minha frente, ô pobre inferior! Será que me atrapalha só porque tenho parentesco com os donos da cidade? Vai querer chicote?

Então Van Grogue, bem atordoado, mas lembrando-se da pessoa que o ofendia respondeu:

- O quê, tia Ambrosina? Todo mundo sabe que a senhora quer regular a vida dos outros; que trata todo mundo como se fosse retardado mental. E todos sabem também que a senhora tem o que tem, por ter roubado a herança das outras pessoas. Quem a senhora pensa que é para responder por quem não lhe deu procuração? Quem a senhora pensa que é para difamar a todas as pessoas com quem não simpatiza?

Tia Ambrosina, percebendo que os gritos na rua chamavam a atenção dos vizinhos, puxou com força o freio de mão do caro e, pondo-se a esgoelar, botou a cabeça pra fora da janela:

- Van Grogue do inferno, vou mandar internar você, seu retardado mental, seu down fugitivo da psiquiatria; vou acionar o Silly Kone e garantir seu ingresso no sanatório, sua besta inútil!

- Devolve minha herança, velha maldita. Tire seus cachorros cancerosos de cima de mim! Ladra surripiadora do dinheiro que o povo entrega à prefeitura para pagar o que é imposto. Saia logo com sua corriola de mágicos da cidade!

A tia Ambrosina sentiu-se mal naquele momento. Pensou em ligar para Tendes Trame, Jarbas o caquético, mas conteve-se. Encolhendo-se no banco, fechou o vidro e arrancou sem dizer mais nada.

Ela estava mesmo ficando velha. Já não apreciava tanto os bate-bocas fenomenais do passado, que a celebrizaram tanto. Pensando em desistir de tudo, inclusive apagando um blog que iniciara para comentar a política de Tupinambicas das Linhas, Ambrosina pisou fundo no carrão, saindo de uma vez por todas, das proximidades donde estava aquele biriteiro energúmeno.

Na vizinhança alguém batia um martelo com alguma insistência.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Equívoco pode ter causado a morte de Stephanie

A menina Stephanie dos Santos Teixeira de 12 anos morreu no sábado passado (4/12), na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, depois de ser medicada com vaselina liquida, no Hospital São Luis Gonzaga.

Suspeita-se que tenha havido um equívoco no exato momento da escolha dos frascos que continham um o soro fisiológico, e o outro a vaselina.

A pessoa encarregada de atender a prescrição médica pode ter se confundido ao escolher os vasilhames, já que eram semelhantes na forma e cor. A distinção dos produtos vinha escrita nos rótulos colados na parte externa das embalagens.

A vaselina liquida é usada na pele, nos casos de queimaduras. Já o soro fisiológico tem a finalidade de reidratar.

Stephanie foi internada por volta das 15h na sexta-feira no Hospital São Luis Gonzaga, por estar com diarreia, vômitos e dores abdominais.

O médico que atendeu Stephanie, no Hospital São Luis Gonzaga, diagnosticou virose, tendo prescrito o soro fisiológico como terapia.





segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

As Taças

Eram cinco horas da tarde daquele domingo, 28 de novembro, quando Ana Júlia e eu nos sentamos à mesa da varanda.

A tarde estava nublada, mas não havia ventos fortes; a brisa amena trazia os odores e perfumes da vegetação densa do entorno.

Uma sensação esquisita apossava-se de mim; era causada pela ausência do bulício estressante das grandes concentrações citadinas.

O som dos pássaros, dos insetos e animais da fazenda, substituíam os ruídos dos automóveis, máquinas e vozes humanas que sempre nos envolviam no cotidiano.

Podíamos ver e ouvir o cortiço das vespas no topo de uma árvore distante; elas zumbiam e agitavam-se nervosas.

Ana Júlia trouxera uma garrafa de vinho tinto encorpado numa das mãos e, na outra, um prato com queijo Roquefort. Eu havia colocado as taças sobre a mesa antes de me sentar.

Os dois cães da casa, Magna e Justinho deitaram aos nossos pés; esperavam ser agraciados com as possíveis migalhas que sua linda e jovem proprietária pudesse dar-lhes.

Era a minha primeira visita à fazenda da futura sogra. Ana Júlia e eu chegáramos ao entardecer da sexta-feira. Depois do banho demorado, durante o qual fizemos amor, jantamos e fomos para a cama. Havia muito tempo que eu não dormia tão bem quanto naquela noite.

O sábado passou com muitas expectativas e surpresas; fomos ao curral onde ordenhamos a vaca e assistimos aos últimos momentos da gestação de uma cabra.

A prenhez deixou-a bem maior do que sempre fora. Por estar muito pesada, ela passava deitada aqueles momentos finais, antecedentes da parição.

À noite Ana Júlia e eu dormimos de “conchinha”; sob o edredom volumoso, nossos corpos nus repousaram saciados.

Agora ali na varanda, diante do brilho nos olhos verdes da Ana Júlia, do tom claro da sua pele e da alegria na sua voz, harmonizados com os sons da natureza, vi-me inspirado a dar-lhe um anel significante do meu desejo de noivado.

A satisfação de Ana Júlia, impressa naquele rosto lindo e seu sim tímido, estimularam-me a propor um brinde saudando a união.

Unidos erguemos as taças da vitória. Era o sucesso do nosso amor.



Leia Moderação.
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sábado, 4 de dezembro de 2010

A Ira Divina

Gelino Embrulhano era um sujeito mentiroso. Além disso, ele tinha o péssimo costume de, nas reuniões dos botecos que frequentava, quando contava seus casos escabrosos, apontar disfarçadamente com as mãos, as pessoas presentes a quem antipatizava.

Numa ocasião quando Embrulhano procurava mimar o meliante furtador de talões de cheques e um Chevette velho, ele parolava assim, no bar do Maçarico, repleto de simpatizantes:

- Imagine, o cara é um infeliz, um coitado, ele bebe porque o pai dele também bebia. Tem gente que não usa de paciência com esses desvalidos da sorte – enquanto expelia suas ideias, Gelino Embrulhano gesticulava dissimuladamente em direção ao Van Grogue.

Van recebia os recados, mas não atinava na motivação, que fazia o tal Embrulhano, envolvê-lo na quizumba, arrumada pelo libertino maledicente louco.

- Pois o cara é gente simples. Um pobre que não sabe a que veio neste mundo velho de meu Deus – continuou Gelino.

- Mas espera um pouquinho ai. Por favor: digam-me se o sujeito por ser débil mental pode fazer o que deseja na comunidade, inclusive furtar um Chevette e talões de cheques – aparteou Maçarico que esfregava, com certa energia, o guardanapo no tampo do balcão.

- É claro que não pode e não deve fazer o que lhe der na telha. Principalmente se tiver consciência de que não age de maneira correta – interferiu Van Grogue já bastante perturbado pelos gestos indicativos do Embrulhano.

- Gente! Vocês não entendem! Não podemos pagar o mal com o mal – implorou Embrulhano.

- Pelo que eu sei a comunidade paga com o bem, as maldades e maledicências que recebe desse patife, há mais de dez anos. E o miserável não se emenda. Assim não dá, assim não pode – reforçou Edgar D. Nall.

- É isso mesmo. Pra que dois pesos e duas medidas? Pau de dá em Chico dá em Francisco. “Ferro na boneca”. O tratante já deu provas de que não se emenda. Se quiser drogar-se que se mude pra bem longe – reforçou Maçarico.

- Imagine se tem cabimento isso: o retardado mental rouba o carro do trabalhador, o talão de cheques do comerciante, boqueja idiotices o tempo todo, e são elas, as vítimas, que precisam de amparo médico. Vá vendo. Que absurdo! – esgoelou Van Grogue tomado pela ira divina.

- Quem dá proteção a esses malefícios é o Jarbas, o caquético. Esses detonadores da comunidade fazem parte do curral eleitoral do prefeito e do deputado estadual Tendes Trame – informou Zé Cílio Demorais, o proprietário do Diário de Tupinambicas das Linhas, que até então se mantivera calado.

O consenso não convenceu Gelino Embrulhano, que no seu íntimo, achava ser preciso dar ao difamador, muito mais do que só bons conselhos ou repassar-lhe os princípios da boa educação.





quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O Gorjeio

Van de Oliveira Grogue pisou com o pé direito, naquela manhã de segunda-feira, a soleira da porta do bar do Maçarico.

- Estou com glaucoma. Já não enxergo mais nada direito. A catarata desandou, o diabetes atacou e olha ai, estou cego. – enquanto falava Van aproximava-se do balcão, onde o solitário Maçarico apoiava o jornal estendido, em que lia as últimas notas policiais.

Maçarico pôde olhar atentamente para os olhos do seu mais tradicional cliente e então disse:

- Por que você não limpa as lentes dos óculos?

Gelino Embrulhano, o novo habitante da Vila Dependência, que se mudara há menos de um mês, no exato momento em que os dois homens miravam-se nos olhos, entrou no boteco.

- A conversa insana daquelas bocas loucas não para assim tão fácil. – falou Embrulhano vendo Grogue que tirava os óculos, limpando-os num guardanapo de papel.

- Mas não é que melhorou mesmo? – informou Van aliviado – Pô maneiro, mano olha ai.

- Maça, me vê ai uma branquinha quente e a loura fresca – pediu Embrulhano.

Maçarico já se acostumara com os jeitos dos clientes do bairro. Ele sabia, por exemplo, que Gelino não gostava de conversa mole, do henhenhém de gente desocupada.

- E ai Embrulhano, meu bom jovem, aquele pessoal conseguiu algum emprego? – perguntou Maçarico servindo o recém-chegado.

- Arrumaram nada. Ficam o dia inteiro sem mover uma palha. Só no garganteio, no gorjeio. É a bolsa família e a tal da bolsa escola que se encarregam de botar o feijão naquelas panelas. Se pelo menos aproveitassem o tempo pra aprender alguma coisa.

- Eu sei como é isso – reforçou Van Grogue – eles ficam girando em volta igual a cachorro querendo pegar o próprio rabo. Viram, viram e não saem do lugar.

- É uma tristeza. Estou desconfiado que o problema ali não seja falta de serviço. Ali a questão é de saúde mental – arrematou Embrulhano.

- O Donizete tem se consultado com o psiquiatra doutor Silly Kone, mas acho que não está tomando os remédios – informou o Maçarico, limpando o tampo do balcão com um guardanapo alvo.

- Eu não sei não, mas estou desconfiado que a solução para aqueles problemas todos talvez seja uma boa sova de couro – concluiu Van Grogue fazendo um brinde ao calor do dia que principiava.

Em uníssono, todos os demais presentes concordaram com a proposta do maior e melhor biriteiro tupinambiquense.

- Só pode ser falta de pancada! – gritou um menino que, parado defronte o bar, escutava a conversa daquela gente importante.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Face de Madeira

Você sabe o que é um cara de pau? Cara de pau é aquele vereador que, sendo analfabeto, apresenta declaração falsa no ato da inscrição da sua candidatura, na justiça eleitoral.

Face de lenha tem o proprietário de jornal que promove “curso” e “exame” para candidatos a vereador.

Cara de pau é o sujeito que comparece ao vestibular de medicina, portando equipamento fraudador; depois que se forma estupra mais de 30 pacientes.

De pau tem a cara, o parente que numa quizumba, escolhe ficar ao lado de quem não conhece, em prejuízo da vítima parental.

Possui a cara de pau também, esse mesmo parente que se nega a testemunhar um fato notório e depois de passados alguns anos, vem com o maior espírito solícito, rogar a presença em festejos.

Cara de pau tem o diretor da escola que passou o ano acicatando os professores e, nas festas de finais do período, pede a todos que compareçam ao jantar que ele pretende ofertar.

Face de madeira tem o suposto colega que, contigo diante de alguém, fala uma coisa, mas quando você já não está por perto, afirma outra completamente diversa.

Cara de pau tem a vizinha que todo mês vem lhe trazer a santa, mas que quando volta pra casa, desanda a murmurar malefícios e a destilar ódio.

Na verdade o cara de pau é o incoerente, o inconstante, o hipócrita, o mentiroso, o inconsequente.

Cara de pau mesmo é o palhaço que não está nem ai com as possíveis consequências que seus atos possam ter.