quinta-feira, 30 de junho de 2011

COMEDEIRA





                          Nunca antes na história deste blog percebeu-se tanto os desejos de verem-no deletado.
                        As pobres almas sofredoras, que assim se manifestam, sabem que existem no mundo bilhões e bilhões de blogs; entretanto, por evidenciarem o nosso, algumas culpas indisfarçáveis, preferem-no vê-lo desaparecido, como se isso, remisse também os muitos pecados cometidos.
                        Com a publicidade você proporciona ao mundo a sua versão da história, que muita vez, não é essa que pregam por aí, aos cochichos, às ocultas, na calada e nas trevas da noite.
                        O cinismo dos ímpios é tanto que chega a atribuir à vítima de uma apropriação indébita, o cometimento de crimes ou de ser ela portadora de afecções espirituais.
                        Esse defeito moral, produtor de comportamentos lesivos, pode ter sua origem na infância, quando ainda se definia os padrões da sexualidade.
                        Situações mal resolvidas, que geraram sentimentos e sensações sedimentadoras de opiniões equivocadas, conduziram sem dúvida, à formação de personalidade mórbida, doentia, capaz de danar com o patrimônio alheio.
                        Então, quando há, por exemplo, a prática de uma apropriação indébita, com a qual o réu objetiva pagar suas dívidas, ele certamente sabe que contrai outra maior ainda, e que a morte do espoliado, não o livrará das consequências funestas.
                        Uma atitude bem correta que se espera de quem ficou com o que não era seu é a de procurar o credor e firmar com ele um acordo, antes que os equívocos todos o mandem para a prisão, de onde não sairá até que pague o último centavo.

terça-feira, 28 de junho de 2011

A Mentalidade Devassa



                                     Com o mesmo cinismo com que o poder político corrupto, de um determinado lugar, invade e destrói preciosidades das suas vítimas, pode ele mais tarde, tentar compensá-las com algumas bijuterias.

                        O mando político condenável busca dividir para governar. Para ele não há escrúpulo ao lançar os filhos contra os pais, esposa contra marido e nem de contribuir para a demolição da casa deles.

                        A autoridade política prevaricadora, que se preza, orgulha-se de trocar espelhos, pentes, canivetes e panelas por ouro puro.

                        Não fariam parte desse grupo, todos aqueles que não se dispusessem a vencer, incendiando um prato com pinga afirmando poder queimar as águas dos rios.

                        Poderíamos dizer também que essa mentalidade devassa seria responsável pela política econômica que permite a tomada de empréstimos bancários lá no exterior, pagando 6% ao ano, e o repasse aqui no Brasil, do mesmo capital, cobrando 12% ao mês.

                        Numa cidade onde impera a corrupção, a mediocridade é a que mais recebe prêmios. Os que se destacam são de certa forma, vistos como ameaças potenciais aos desejosos de manter perenes os benefícios das mamatas e sinecuras.

                        Premiando o fracasso e condenando o sucesso, o mau homem público considera-se inatingível, enriquecendo cada vez mais, ao passo que as obras que se destinariam às populações de baixa renda, deterioram-se sem nunca terem chegado à conclusão. 

                        Se o Brasil é mesmo o pais do presente, deve começar a punir os corruptos obrigando-os inclusive, a devolver o que foi indevidamente retirado.

Mudando de assunto: 
Veja no vídeo abaixo uma homenagem aos nossos irmãozinhos com a síndrome de down.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Relações Perigosas


                    Se num casamento, a maior parte do tempo é vivida entre desentendimentos, ofensas, e agressões, não haveria motivos melhores para a continuação da sociedade.

                           Quando a violência prepondera sobre o respeito, então é chegada hora de cada um buscar o seu rumo próprio.

                    A não ser que haja um milagre legítimo, um ex-assaltante de banco, mestre em explosivos, jamais deixará de agir com rudeza, com a mulher que o ama.

                    Isso foi constatado por Humberto quando, numa tarde de sábado, tomado pela curiosidade, entrou pela primeira vez na livraria do shopping.

                    Tudo ali era novidade; os caminhos desconhecidos, as pessoas estranhas e os odores bastante peculiares.

                    Era princípio de inverno; a baixa temperatura fizera com que o visitante caprichasse no agasalho que denotava bom gosto.

                    Humberto foi atendido pela balconista e um clima de simpatia logo os envolveu. Com perguntas sobre os livros que desejava adquirir, o moço se esgueirou entre as estantes, chegando enfim ao local desejado.

                    Observando as preciosidades ordenadas nos lugares higienizados, Humberto notou que a mulher atendente, o olhava de soslaio, com um jeito bem disfarçado.

                    Não demorou muito para que o moço, com alguns livros nas mãos, buscasse pela comerciante, que agora, atrás da caixa registradora, somaria os valores da compra.

                    Humberto saiu do lugar com boas sensações.  Elas foram tão marcantes que, nas semanas seguintes ele voltaria mais vezes, sempre no mesmo horário.

                    Os vizinhos logo perceberam a constância das visitas e as perigosas “bocas de Matilde”, principiaram murmúrios indicativos de que algo singular estaria pronto para acontecer. 

                    Dois o três meses depois, com uma centena ou mais de livros comprados, Humberto e Inês perceberam que nascia entre eles muito mais do que a simples simpatia, respeito e admiração.
                
                     Havia algo mais maduro, profundo, intenso, que estava na iminência de extravasar.

                    Numa tarde de domingo, entre as estantes, quando ele folheava um livro sobre obstetrícia, ela se aproximou lentamente pelas costas e, ofegante, o tocou de leve com o antebraço esquerdo.

                    Face a face, olhos nos olhos eles agora conversavam, e Humberto pôde saber que o marido dela a espancava cruelmente todos os dias.

                    Havia no rosto de Inês uma mistura de dor, medo e excitação.

                     Ela, apesar de tensa, não escondia a lascívia que Humberto lhe provocava.

                    E foi ali, entre as estantes, perto de uma janela, que eles trocaram o primeiro beijo.

                    A beleza que dava o viço dos trinta anos à Inês fascinava Humberto, totalmente abobalhado pela paixão
.
                    Essa loucura os impedia de ver que o marido ex-presidiário, condenado a mais de quinze anos de cadeia, por assalto à mão armada, poderia descobrir tudo e causar uma tragédia.

                    Arrebatados pela paixão eles se viram pela última vez no apartamento dele, onde dentre os lençóis macios de cetim, fizeram amor.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

O Museu do Biriba




                                Alguns políticos de Piracicaba ou são autistas ou esquizofrênicos. Das duas uma. Ontem no Face Book perguntei ao deputado federal Antônio Carlos Mendes Thame se o PSDB, em virtude das sucessivas derrotas que vem sofrendo, já não é mais aquele.
                            O legislador nem “tchum” deu. Perguntei também se a coleção das derrotas do partido (só pra presidência da república já são três seguidas) tiraram-no do rol dos vencedores.
                            Necas de catibiriba. Silêncio total.
                             Foram à toa aquelas campanhas publicitárias que pediam aos eleitores indagarem aos políticos, que supostamente os representavam, sobre as ações praticadas com o poder recebido pelo voto?
                            Falando em Mendes Thame lembrei-me do Biriba. Você sabe quem foi o Biriba? Não foi outro senão o glorioso primeiro presidente civil da república eleito pelo voto popular.
                            Morais Barros nasceu em Itu, mas passou grande parte da sua vida em Piracicaba onde também exerceu a advocacia.
                            Prudente foi eleito com alguns milhares de votos e durante o seu governo, lá no Rio de Janeiro (onde ficava a capital da república), enfrentou problemas, na sua grande maioria, decorrentes da transição do regime monárquico para o republicano.
                            Ele era apelidado de Biriba pelos companheiros de partido e segundo consta, algum tempo antes, e até mesmo durante o período eleitoral, entrou na moda, entre as senhoras da elite, o uso de colares finos ornamentados com dentes de feras.
                            Morais era contrário ao jogo do bicho, mas mesmo assim, não conseguiu extirpá-lo do hábito das pessoas.
                           Durante a sua gestão ele enviou uma grande parte do exército brasileiro para combater Antônio Conselheiro, um beato que fundou uma comunidade de aproximadamente 5.000 pessoas no sertão nordestino.
                            Contam que a artilharia, numa ocasião, durante um cerco, bombardeou os beatos por mais de 48 horas seguidas. Era o poder dos canhões contra as orações.
                            Depois de quatro anos, de muita resistência e sofrimento, o exército eliminou todo mundo. Alguns historiadores atribuem tanta crueldade à crença de que Conselheiro era monarquista e sua comunidade um reduto monárquico.
                            Prudente não teve um governo muito tranquilo. A assembleia legislativa não o apoiava. Seus correligionários classificavam os deputados oposicionistas como meros repetidores, volúveis e traidores.
                            A oposição inventou uma série de armadilhas para desestabilizar a sua administração. Entretanto esquivando-se delas todas Prudente chegou ao fim do mandato com muita honra.
                            Morais sofreu um atentado contra sua vida, mas os agressores foram rapidamente contidos. O autor do ataque conhecido como Marcelino Bispo foi preso e logo depois “se suicidou” na cadeia.  
                            Prudente de Morais morreu tuberculoso. Em sua memória, a casa (foto) em que ele passou o restante da vida, logo depois de deixar o poder, foi transformada em museu, que fica na esquina das Ruas Treze de Maio e Santo Antônio.
                             

quarta-feira, 15 de junho de 2011

A Voz do Povo


                                 A população de Campinas, por meio dos seus vereadores, decidirá hoje, a partir das 18h, na Câmara Municipal, se o prefeito Hélio de Oliveira Santos deve ou não se afastar do cargo, durante os processos de impeachment e judiciais, que apuram as responsabilidades por fraudes, praticadas na sua administração.

                    Se a escolha for pelo afastamento, o chefe do executivo permanecerá distante do centro das decisões por 90 dias.

                    Há os que acreditam que o prefeito deveria ser o primeiro a exigir as investigações rigorosas e as punições devidas.

                     A base dessa confiança estaria na certeza do seu não envolvimento com os prejuízos bilionários que afetaram a população campineira.

                    A assertiva de que “quem não deve, não teme”, possibilitaria ao governante, a segurança para distanciar-se, esperando que provem ou não o que dizem contra ele.

                    Em ocorrendo a improcedência de todas as demandas, o prefeito voltaria com força redobrada sobre os adversários.

                    Entretanto, se com base nas provas tanto testemunhais quanto documentais, colhidas pela polícia e Ministério Público, a acusação não desistir nunca e permanecer pedindo a aplicação da lei, então Arthur Orsi, o atual presidente do legislativo, ocupará a vaga do prefeito.
 
                   Isso é o que também desejam milhares de eleitores de Campinas.

15/06/11

segunda-feira, 13 de junho de 2011

O Casaco




                     - Tia trouxe para a senhora este corte de flanela. Acho que dá pra fazer uma blusa grande.

                    Edileuza colocou o pacote, embrulhado com papel cor de rosa, sobre a mesa da copa, sob o olhar da mulher obesa, que vinha da cozinha, enxugando as mãos no avental.

                    A mulher arrebentou o barbante fino que embalava o embrulho e uma fazenda extensa, de flanela xadrez, vermelha e preta, foi desdobrada entre os braços abertos, presa também contra o corpo, pelo queixo.

                    Enquanto a velha tia tagarelava, tocada pela novidade, Edileuza recordava as aulas de álgebra do curso de matemática que concluía na capital.

                    A palavra Al-jabr da qual álgebra foi derivada significa "reunião", "conexão", "complementação" ou ainda a reunião das partes quebradas.

                    Os mouros levaram a palavra Al-jabr (algebrista) para a Espanha com o significado de restaurador, ou alguém que conserta ossos quebrados.

                 Os registros das partidas de xadrez eram feitas também com as chamadas anotações algébricas.

                    - Olha tia, esse é um presente de aniversário que eu trago pro Zezinho, meu primo mais querido. - Justificou Edileuza, completando logo em seguida, com um sorriso irônico:

                    - Não é lindo?
  
                    Alguns dias depois a mãe do Zezinho, querendo presenteá-lo pelos onze anos, que completava naquele três de setembro, fez um casaco longo com seis botões, cujo desenho (sugerido pela Edileuza), lembrava os jalecos usados por professores e médicos.

                    Caminhando pelas ruas da cidade provinciana, com aquele traje inusitado, Zezinho atraia muitos olhares, e não eram poucos os comentários depreciativos. O ar frio causava-lhe uma dorzinha chata na omoplata do ombro direito. Eram os resquícios da fratura, que o imobilizara por longo tempo, quando ainda era nenê com poucos meses de idade.

                    Na classe, durante as aulas, ou em casa, quando recebia as notícias de que o primo era caçoado na escola, nos cinemas, ruas e praça em que se apresentava com o tal casaco, Edileuza se lembrava da figura do Satanás, postada atrás da porta do banheiro da mercearia, à qual o seu velho e rancoroso pai, marceneiro na fábrica de botes, acendia velas.