sexta-feira, 29 de abril de 2011

A Ruptura








                                               A moça loura olhava atentamente para o céu, onde atados nas asas-deltas, alguns aventureiros destemidos, se arriscavam em busca das emoções mais fortes.

                    O tédio lhe embaraçava o espírito; o pulsar da vida clamava por renovação, ressurgimento, revigoramento do ânimo, das forças.

                    Ela caminhava só pelo calçadão. Nos pés o par de tênis de marca sofisticada, meias brancas, short preto, camiseta verde e uma viseira vermelha, sobre os cabelos, - compunham o vestuário simples, mas revelador de bom gosto.

                    Os voos das asas-deltas, em círculos largos, imitavam o planar dos urubus, aproveitadores das correntes ascendentes. Havia uma dezena delas pontilhando o céu naquele momento.  

                    A jovem tentou imaginar como seriam a visão e os sons naquelas alturas. Ali ao rés do chão, máquinas furiosas passavam céleres, irradiando ruídos tenebrosos e estressantes.

                    Limpando as gotículas de suor que lhe escorriam pelo rosto, sentindo as dores causadas pelo esforço físico, a jovem mulher fixou o olhar num voo irregular, serpenteante de uma asa azul e amarela. Ela descia muito rápido, parecendo sem controle.

                    Ao passar sobre as árvores, os postes de iluminação pública e toda a fiação elétrica do local, o piloto e seu aparelho, caíram sobre o telhado de um sobrado da esquina.

                    A queda foi tão violenta que o piloto e parte do equipamento, feito de tubos metálicos e tecido, atravessaram as telhas e o forro velho, da construção antiga.

                    Durante o corre-corre que se formou, a moça pode estar ao lado do piloto. Em meio aos escombros, à poeira, sangue e muita dor, o acidentado, pedindo ajuda, estendeu-lhe a mão. Ela condoeu-se, chorou, e a segurou; confortando-o viu quando ele se desligou da realidade.

                   

                     

29/04/11


quarta-feira, 27 de abril de 2011

O Jantar










                    Aquela conversa ali na mesa do restaurante já estava ficando sem graça. Nós chegáramos para jantar num clima tenso e quase não trocamos palavras.


                    Não sei o que perpassava pela cabeça do Oswaldo, mas desconfiava que só podia ser ciúmes. Aquele jeito de quem se mostra contrariado, eu já notava nele, desde o tempo em que dançava na boate.


                    Ele me conheceu durante as minhas apresentações públicas e sabia que as exposições criavam situações suscitantes de ciúmes, portando não podia reclamar. Ele estava sem razão.


                    Mas o clima ruim não passava. Parece que a lasanha não estava saborosa, o vinho não era tão gostoso e a água não tinha a temperatura agradável.


                    O burburinho no ambiente não incomodava, e não houve alteração, quando o Roberto se aproximou.


                    Ele vinha com aquele jeito despretensioso e, sem ser convidado, tomou o assento ao lado do amigo Oswaldo.


                    - Horrível! Horrível! Vocês não imaginam o que o filho do porteiro do prédio fez ontem. – disse o intruso quebrando o silêncio desagradável que pairava entre nós.


                    Notei que o Oswaldo contrariou-se com a presença inoportuna do colega, mas sem dizer nada que o refutasse, deixou que ele prosseguisse.


                    - O adolescente saiu de casa dizendo pra mãe que ia pro estádio ver o jogo do São Paulo. Mas quando chegou no boteco da esquina, parou pra tomar umas e outras com os amigos. Conversa vai, conversa vem, ele e um outro se embriagaram tanto que perderam a noção do tempo. Eles ficaram tão mal que o jogo terminou e nem do bar haviam saído. Então, o filho do porteiro, pra se vingar daquela companhia desagradável, disse que uma tia havia viajado e que estava com a chave da casa, onde poderiam comer alguma coisa e depois ir embora. E lá se foram os dois bêbados. Entraram, comeram, beberam e quando o convidado dormiu depois, de sentar-se no sofá, o filho do porteiro, juntou ali na sala, aos pés do adormecido, todos os objetos de valor da casa. Ele fez uma “montanha” com o DVD, câmera filmadora, máquina fotográfica, TV, micro-ondas, computador, notebook, roupas, bijuterias e outras coisas de valor. Em seguida arrombou a janela do quarto dos fundos. Saiu e trancou, por fora, a porta da rua, chamando a polícia, que ao chegar prendeu o dorminhoco por tentativa de furto. – concluiu Roberto suspirando, na maior serenidade.


                    Bom, eu quase “pirei na batatinha” e pude notar que o Oswaldo engasgou, no final da história, enquanto observava o amigo que se servia alegremente da lasanha.


                    Sem qualquer cerimônia, e no exato momento de pagar a conta, Roberto afirmou ter esquecido a carteira.


                    Olha, eu sei que o tumulto foi notado por muita gente, ali na porta do restaurante, quando em altos brados, tentei dizer ao Oswaldo, que desejava ir embora sozinha. Que não queria mais falar com ele. Eu iria de taxi, mas ele insistiu tanto, que acabamos indo no carro dele. O Roberto veio junto.

terça-feira, 19 de abril de 2011

A Desagregação do PSDB








                                                  Sempre duvidei que o PSDB pudesse se identificar com as camadas mais populares do eleitorado.

                    Identificar-se é assemelhar-se, e essa parecença inexiste entre o industrial e seus empregados.

                    Como é que podem pensar da mesma maneira o usineiro e o cortador de cana?

                    Como podem ter as mesmas sensações, emoções equivalentes, o banqueiro e o bancário?

                    Só agiria verdadeiramente, minimizando o sofrimento alheio, aquele que sofreu reveses análogos.

                    Equivoca-se muito quem julga poder minorar os tormentos dos pedreiros, por exemplo, estabelecendo normas baseadas nas características próprias dos empreiteiros.

                    Repete-se: as posses, as emoções e os pensamentos, são diferentes nos integrantes das categorias patronais e na dos servidores. É claro.

                    Veja que por permanecer, a maior parte do tempo ausente da empresa, estaria o patrão imune às doenças provocadas pelas atividades insalubres.

                    Em certas situações, os trabalhadores além de não receberem em dia os seus direitos trabalhistas, teriam também de suportar as afecções advindas da negligência patronal, dedicada ao local impróprio de trabalho.

                    A desimportância dada à salubridade do lugar onde se labora é que diferenciaria o empregador do trabalhador. Para aquele teria mais valia, a fábrica, a produção, os produtos e não o trabalhador.

                    Essa situação bastante comum assemelha-se, em muito, a dos antigos senhores de engenho, a quem interessavam mais a produção do açúcar, do aguardente, do álcool, mas não a saúde ou o bem estar dos escravos.

                    Não seria incomum a figura do patrão que age com o empregado, da mesma forma com que cuida dos bovinos.

                    A recente saída de um grupo de vereadores paulistanos do PSDB pode ser o indicador de que essa orientação autoritária, distante, arrogante, alienada e, acima de tudo ineficiente, chega agora a um termo.  

segunda-feira, 18 de abril de 2011

O Círculo Virtuoso







                                           “Quando o comportamento da maioria é reforçado positivamente, as pessoas encontrarão dificuldade em escapar ou ser diferentes: a sua individualidade pode ser sufocada. Entretanto se elas forem reforçadas positivamente para as formas de inconformidade – isto é, para o esforço criador, para a inovação e para fazer contribuição à sua cultura – poderão ir além da simples conformidade que produz desempenhos medíocres.”

                        Esse texto ai de cima faz parte da obra PSICOLOGIA Uma introdução aos Princípios Fundamentais do Comportamento, escrito por Charles W. Telford e James M. Sawey publicado pela Cultrix em 1971.

                        Veja que quando alguém rompe com a orientação de homogeneidade - imitar a maioria -, incomodando os detentores do poder, por exemplo, aciona mecanismos políticos-defensivos tais como a crucificação (praticada no passado,) ou a contenção psiquiátrica, usada principalmente durante a vigência da guerra fria.

                        Na sufocação literal além do uso de todas as outras formas de desassossego, os meios empregados são ainda ou a fumaça proveniente da queima contumaz de lixo, ou a aspersão de tinta automotiva.

                        No ápice dessas maldades todas podem estar o velho vereador, que há trinta anos não desapega do poder, ou o ilustre senhor deputado federal que, na derrota do crítico da sua política insossa, encontrará a satisfação própria e a dos seus eleitores.

                        Para tanto ou mais, sempre abusando do poder econômico ou político, não envidam esforços corrompendo a mídia, traficando influência nas delegacias de polícia, cartórios criminais e cíveis.

                        Numa cultura assim, proposta pela política autoritária e obsoleta, os fracassos, dissabores e fragilidades, são todos compensados, ao passo que o destaque é amplamente condenável.

                        Dessa forma mantém-se o curral eleitoral garantidor da eterna riqueza de alguns – o tal círculo virtuoso - e a total infelicidade da grande maioria.   
Flagrante do ataque do funileiro Carlos Augusto Bottene Harder (residente à rua Napoleão Laureano, 164) contra um vizinho, na tarde do dia 27 de Dezembro de 2007. O agressor é falecido mas as hostilidades continuam sendo praticadas por seu filho Gabriel Donizete Bottene Harder, morador no mesmo endereço.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

As Prioridades do PSDB








                                              O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse, numa publicação recente, que enquanto o PSDB e seus aliados não desprezarem o povão e se dedicarem à classe média, falarão sozinhos.

                    Fica difícil de acreditar que o PSDB se importa tanto com as classes populares, quando suas prioridades são fábricas de automóveis e presídios.

                    O PSDB de Geraldo Alckmin perde, por três vezes consecutivas, as eleições presidenciais e isso significa que esse partido, representante das elites, desafina completamente nas questões relacionadas ao povão.

                    Numa política em que a burocracia peessedebista atravanca de tal forma o atendimento odontológico da população, como não acreditar que a administração prioriza obras de cimento?

                    Então o eleitor vê surgirem pontes desnecessárias, viadutos que não levam a lugar nenhum, e até mesmo asfaltamento de ruas já calçadas, mas as ações mantenedoras do ensino e saúde públicas inexistem.

                    Não pode haver empatia entre os “nobres” peessedebistas e pessoas do povo, que não seja hipócrita. É muito difícil, quase impossível, para a “nobreza”, pensar e sentir como pensa e sente o popular.

                    Essa identidade, e as ações futuras que objetivariam sanar os males da miséria, só existiriam naqueles que vivessem à semelhança dos empobrecidos.

                    O povão nunca foi prioridade do PSDB.  

terça-feira, 12 de abril de 2011

Batendo em Crianças








                        Se as autoridades civis e religiosas não interferirem em alguns casos de violência contra crianças, praticadas por familiares, certamente muitas delas não chegarão à idade adulta gozando da plena saúde física e mental.
                        Podemos entender que a não intervenção dos padrinhos, tios, e avós, tanto dos enteados quanto dos padrastos, tenha como fundamento, o desejo de que os problemas surgidos sejam resolvidos por eles mesmos.
                        Os conflitos entre um padrasto adulto e um enteado, com aproximadamente 10 anos, portador de certa deficiência, podem não terminar bem para o menor se o padrasto tiver um nível nulo de escolaridade, fizer uso abusivo do álcool e acreditar que tudo o que está amassado deve ser consertado à marteladas.
                        Os modos grosseiros do padrasto insensível sujeitam o enteado desprotegido, aos terríveis sofrimentos desnecessários. A desculpa de que esse crime de maus tratos é um carma a ser experienciado pela vítima indefesa, serve para manter as testemunhas responsáveis a certa distância.
                        O analfabetismo cerra as luzes morais e religiosas que poderiam amenizar a situação. Tomado pela circunstância na qual o próprio agressor sofreu também na sua infância, a violência do pai bêbado, usa ele agora o mesmo método aprendido.
                        Alguém poderia alegar que um pai alcoólatra batendo na própria filha adolescente, tentando conter nela os impulsos da idade, seria até mais trágico do que o padrasto desejoso de controlar o enteado com a violência moral e pancadas.
                        Em ambos os casos as autoridades e os responsáveis mais próximos deveriam intervir. Tanto na situação horrenda em que o pai espanca a filha e a esposa, quanto na do padrasto que subjuga o enteado.   

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Quem prende ou solta um criminoso é o povo


                                              Algumas mentes não conseguem imaginar que quando um juiz solta um marginal, previamente preso pela polícia, somente o faz em virtude da lei.
                        Esse descompasso com o real, diante do crescimento dos índices de criminalidade, permite que absurdos se criem do tipo: “a polícia prende, mas o advogado solta”.
                        Na verdade quem solta é o juiz, a pedido feito pelo interessado, por meio do advogado. E se a situação do preso não estiver prevista na lei, nem mesmo o juiz poderá soltá-lo.
                        Quem faz a lei é o deputado federal e quem elege o legislador é o povo. Portanto, quem prende e solta um criminoso é o povo.
                        Se as leis existentes são impotentes na contenção dos crimes, elas devem ser mudadas. Então cabem ao Tiririca, ao Romário, ao Bolsonaro e a todos os outros componentes das esferas legislativas, as articulações que visem proteger o eleitorado.
                        Essas leis que tratam dos direitos individuais (relativos a tudo quanto se refere à dignidade da pessoa humana, tal como a vida, a liberdade, a segurança, e a propriedade), só podem ser modificadas pela câmara dos deputados (federais) e o senado.
                        Portando não adianta você reclamar com o deputado estadual e muito menos com o vereador da sua cidade.
                        Se você ainda acha que o Brasil está perdido porque o advogado solta o bandido preso pela polícia, deve reclamar com aquele velho deputado federal, que há décadas, (quatro ou cinco gestões), recebe milhões e milhões de reais, para cuidar disso.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Assassinos Invadem e Empastelam Blogs



                                               É inquestionável que quando um deputado federal, exercendo o poder que tem, trafica influência nos cartórios e delegacias de polícia, em favor de um eleitor, coloca em dúvida a parcialidade dos agentes públicos envolvidos.
                    Você pode até concluir que o parlamentar é um autista ou débil mental, se ao invés de usar o direito de resposta, a seção de comentários dos blogs, ou mesmo as vias judiciais para questionar as publicações que se referem a si, o deputado invade e empastela os veículos de comunicação.
                    Agindo assim, “pelas beiradas”, o tal parlamentar não demonstra nada além do que a total incapacidade de aproximar-se e conversar com os autores dos supostos “desacatos”.
                    Ora, político que não dialoga com o cidadão eleitor, não pode resolver os problemas surgidos na comunidade. Atuando dessa forma sub-reptícia, o tal “político” só contribuirá para o recrudescimento dos conflitos.
                    Não interessa para as comunidades as pendengas desgastantes e a total irresponsabilidade de alguns desses senhores, que ocupam atualmente, os cargos públicos eletivos.
                    Que raio de político é esse que evita a conversa, o dialogo e a tentativa de acerto com quem julga ser seu adversário?
             Como é que pode o eleitor comum não acreditar que essa espécie de louco só conseguiu permanecer vinte ou trinta anos, nos cargos eletivos, graças aos votos adquiridos a peso de muito dinheiro e tráfico de influência?