quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

O Derrotado

O que não faz uma câmera oculta hein? Barbaridade! E depois quando todos que garantem a existência da corrupção desbragada, têm sua credibilidade sob suspeita, o crime recrudesce sendo ainda reforçado pela impunidade.


Esquemas criminosos como o das ambulâncias, do Detran, e milhares de outros servem para enriquecer a apenas alguns, enquanto que a maioria formadora do conjunto, do coletivo, sofre com os males da miséria.

Esses derrames do sangue nutridor da nação poderiam ser punidos de forma mais sucinta, rápida e indolor. A supressão desses carcinomas tenderia a proporcionar, talvez, alguns séculos de sobrevida à civilização brasileira.

Quando você passeia pela periferia do Distrito Federal, pode ver o estado lamentável da população e do meio habitado por ela. E você poderá indignar-se ainda mais ao saber que os bilhões e bilhões de reais carreados para os bolsos, bolsas, meias, cuecas e pastas dos espertos, seriam insuficientes para proporcionar um padrão mais digno do eleitor pagador dos impostos.

A cirurgia objetivando a extirpação dos tais tumores cancerígenos, nos países mais rigorosos como a China, por exemplo, equivaleria à execução sumária sem nem mesmo ouvir as desculpas esfarrapadas.

Como reagiriam governos como os da Coréia do Norte, do Japão, de Cuba e de outros países menos dispostos a escutar os discursos escusadores fajutos? Será que a impunidade, que reveste esses casos não teria o condão de despertar nos julgadores a idéia de que “eu também quero e posso conseguir muito mais”?

Ou melhor: será que a impunidade que encapsula esses casos não teria como suporte a noção de que “eu também quero e posso conseguir muito mais do que esses babacas pegos com a mão na cumbuca”?

Não se sabe. É do conhecimento público que a corrupção é uma aberração hoje com a incurabilidade semelhante a do câncer. Esse desarranjo entranhado no âmago das instituições públicas desequilibra a distribuição da seiva, propiciando o gigantismo de algumas áreas e o definhamento de outras maiores e também importantes.

Num grupo criminoso destaca-se o mais cruel. Ou seja o mais destrutivo será mais respeitado, mais temido e bajulado. Nessas quadrilhas de bandidos de colarinho branco, recebem os respeitos e deferências os que mais conseguem burlar os sistemas defensivos institucionais.

E olha, é comum os tais larápios fazerem a opinião pública das pequenas cidades, de onde eles vêm, acreditar que eles são vencedores e não derrotados. Na visão dessa gente, que leva a grana de todo mundo, na maior cara de pau, o derrotado é a população que nem sabe da lesão que sofreu durante todo esse tempo, durante todas essas gestões.

Derrotado é o povo. Derrotada é a população que paga ingenuamente os impostos. Derrotada é a gente da periferia que, quando procura por serviços públicos não encontra.

Vencido é o povo que por meio das suas leis e autoridades competentes não consegue castigar os infratores e impedir a ocorrência de novos surtos.

Se eu pudesse escolher entre ser um vencedor que amealha sua fortuna subtraindo para si a coisa pública, ou um derrotado ciente de que os ladrões serão punidos, eu escolheria a segunda hipótese.

Além de ter a consciência de que o ladrão que rouba o ladrão tem cem anos de perdão, eu ainda consigo crer que a justiça tarda, mas não falha.



Fernando Zocca.



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