Era mesmo esquisito o Augusto. Ele não gostava de sentir as emoções; dizia que ficaria louco. Por isso evitava ver as cenas de romance na TV, ouvir as músicas que tocavam fundo a alma das pessoas e orgulhava-se de ser um cara bem rude.
Os familiares diziam que Augusto era macho, muito macho, machão mesmo. E macho, meu amigo, você sabe: não pode chorar, não pode sentir afeto por alguém e, não pode expressar sentimentos de carinho.
Macho que é macho, segundo Augusto, era o sujeito que pegava no braço de um indigente, caído na calçada, e gritando com ele, o xingava de vagabundo, ordinário, mandando-o dormir num outro local.
Augusto achava que homem que era homem, não poderia, de jeito nenhum, deixar cair o elmo da dureza, da firmeza, permitindo-se possuir por sentimentos de gratidão ou reconhecimento.
O machão era autoritário, mandava sempre, não ouvia seus subordinados. Àqueles que ousassem discordar das suas palavras ele sentenciava: “vai se matar”.
O super, hiper, mega macho achava que botando medo naquelas pessoas que dele dependiam, fariam-nas dóceis aos seus comandos. Ele não deixava que ninguém lesse gibis, ouvisse programas de rádio ou assistisse TV.
Augusto era o mandão, o líder que aterrorizava, impunha a ordem pela violência moral, pela estupidez, e rudeza. O sujeito, sempre mal humorado, vivia no tempo em que os navios eram movidos a velas.
Para provar que era invencível ele inventava fatos, provocava às escondidas, mentia e enganava. Numa ocasião, objetivando reforçar a ideia de que não era fêmea, ele se aproximou de um vizinho e ofendeu-o com palavras de baixo calão. Quando o cara reagiu, Augusto o agrediu com um chute no peito, derrubando-o no meio da rua.
Em casa, no meio da molecada ele se vangloriava: “Viu só a voadora que eu dei nele?”
Boquiabertos os moleques punham-se quietos, temerosos dos seres demonizados por Augusto. Esse era o governo do supermacho que quando ficasse velho, seria tratado do mesmo jeito usado para controlar aquelas crianças.
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