O porco das trevas, das profundezas dantescas do fogo do inferno, acalorado que estava com a seiva dos alambiques fraudulentos, aproveitando uma oportunidade, quase única, que lhe surgira durante toda aquela sua mísera vida, aproximou-se de Luísa Fernanda, a mocréia corintiana e estufando o peito, detonou algumas palavras que lhe pareceram tijoladas nos cornos:
- Faleça de inveja caipora do brejo, do fim da linha!
A pobre Luísa que segurando na mão esquerda uma sacola com quatro garrafas de cerveja, na outra um celular, no qual simulava falar, objetivando impressionar as visitas que lhe surgiram, assim de última hora, sem nem ao menos avisar, chegava do boteco.
Os visitantes vieram num velho Chevette verde e expondo como desculpa a tensão da saudade e o desejo premente de conversar, aboletaram-se todos no sofá da sala de onde, agora aguardavam a anfitriã que entrava com as cervejinhas geladas.
Ninguém abriu o portão para a Luisa. Do jeito que pôde ela foi avançado pela garagem, transpondo os obstáculos da sala até chegar à cozinha onde depositou o presente sobre a mesa. Então ela disse, depois de ter descansado, no armário, o celular sem crédito:
- Gente! Vocês não imaginam o que me aconteceu! Um tarado chegou bem perto de mim, assim, de repente e, nessa minha orelha aqui ó, a esquerda, me deu um berro que quase me ensurdeceu. Ô carniça do inferno!
Os visitantes boquiabertos arregalaram os olhos quando um deles, tomando o abridor de garrafas e avançando sobre as cervejas foi logo perguntando:
- Você sabe quem é Lu?
Luisa disse que era um tresloucado que vivia a puxar uma carroça pelas ruas do bairro, na qual transportava até 64 k de papelão, e demais resíduos.
É certo que ninguém estava mesmo interessado naquela história de baixas rendas, gentalha da periferia, pobres de espírito e corpo. Mas como a avidez pela cerveja precisava ser disfarçada por algo mais "nobre", não titubearam os bebedores em simular compaixão pela mocréia.
Então outro puxa-saco disse:
- Nossa Lu! E se o biriteiro te rouba o celular? E se ele te rouba a sacola com as cervejas? Luisa Fernanda, afagando Magna, a Poodle branca e fedida que se mostrava inquieta, nervosa e angustiada por causa da coleção de pulgas que lhe habitava o cangote, disse empinando o nariz:
- Olha, se aquele cara pusesse um dedo, um dedinho que fosse em mim, eu chamaria a polícia. Já estou por aqui ó, com esse energúmeno, comedor de picles.
- Ah, Lu, mas que coisa chata! Justamente hoje que o Corinthians ganhou! - disse outro que pegava um copo na prateleira.
- Não liga, Lu. Olha bem, toca o barco pra frente filha, esquece esses problemas, essa negadinha só sabe aporrinhar os outros. Não liga, olha, toma aqui um gole que é pra refrescar a moringa. - consolou outro solidário.
- Lu, minha querida, você já viu um projeto de lei que circula pela Câmara Municipal, com o qual querem proibir a propaganda de cerveja? É só o que faltava mesmo! Luisa Fernanda arregalando os olhos e enregelando o gogó com uma talagada de cervejota,
não podendo acreditar soltou:
- Virgem Santa! Até isso querem fazer? Mas essa gente não tem mesmo com o que se ocupar. Ficam inventando cada uma que, olha, faça-me o favor, viu?
- Proibir a propaganda é o mesmo que proibir alguém de falar, de se manifestar sobre o assunto, mas pode uma coisa dessas? - perguntou outro afoito que foi logo enchendo o copo com a bebida predileta.
De repente o telefone fixo da Luisa tocou. Um dos presentes que se considerava da casa atendeu. Era Célio Justinho, o gerente do Brafresco, banco onde Luisa trabalhava. A visita íntima passou o aparelho para a anfitriã. Luisa ouviu atentamente e logo se deixou abater. Os convivas souberam que na manhã seguinte todos os demais funcionários da agência deveriam estar logo cedo no trabalho. Novas estratégias para a venda de dinheiro seriam discutidas.
Naquele momento terminou mais uma festa para Luisa, a mocréia corintiana que auxiliava o Brafresco na espoliação dos cidadãos tupinambiquences.
Fernando Zocca.
- Faleça de inveja caipora do brejo, do fim da linha!
A pobre Luísa que segurando na mão esquerda uma sacola com quatro garrafas de cerveja, na outra um celular, no qual simulava falar, objetivando impressionar as visitas que lhe surgiram, assim de última hora, sem nem ao menos avisar, chegava do boteco.
Os visitantes vieram num velho Chevette verde e expondo como desculpa a tensão da saudade e o desejo premente de conversar, aboletaram-se todos no sofá da sala de onde, agora aguardavam a anfitriã que entrava com as cervejinhas geladas.
Ninguém abriu o portão para a Luisa. Do jeito que pôde ela foi avançado pela garagem, transpondo os obstáculos da sala até chegar à cozinha onde depositou o presente sobre a mesa. Então ela disse, depois de ter descansado, no armário, o celular sem crédito:
- Gente! Vocês não imaginam o que me aconteceu! Um tarado chegou bem perto de mim, assim, de repente e, nessa minha orelha aqui ó, a esquerda, me deu um berro que quase me ensurdeceu. Ô carniça do inferno!
Os visitantes boquiabertos arregalaram os olhos quando um deles, tomando o abridor de garrafas e avançando sobre as cervejas foi logo perguntando:
- Você sabe quem é Lu?
Luisa disse que era um tresloucado que vivia a puxar uma carroça pelas ruas do bairro, na qual transportava até 64 k de papelão, e demais resíduos.
É certo que ninguém estava mesmo interessado naquela história de baixas rendas, gentalha da periferia, pobres de espírito e corpo. Mas como a avidez pela cerveja precisava ser disfarçada por algo mais "nobre", não titubearam os bebedores em simular compaixão pela mocréia.
Então outro puxa-saco disse:
- Nossa Lu! E se o biriteiro te rouba o celular? E se ele te rouba a sacola com as cervejas? Luisa Fernanda, afagando Magna, a Poodle branca e fedida que se mostrava inquieta, nervosa e angustiada por causa da coleção de pulgas que lhe habitava o cangote, disse empinando o nariz:
- Olha, se aquele cara pusesse um dedo, um dedinho que fosse em mim, eu chamaria a polícia. Já estou por aqui ó, com esse energúmeno, comedor de picles.
- Ah, Lu, mas que coisa chata! Justamente hoje que o Corinthians ganhou! - disse outro que pegava um copo na prateleira.
- Não liga, Lu. Olha bem, toca o barco pra frente filha, esquece esses problemas, essa negadinha só sabe aporrinhar os outros. Não liga, olha, toma aqui um gole que é pra refrescar a moringa. - consolou outro solidário.
- Lu, minha querida, você já viu um projeto de lei que circula pela Câmara Municipal, com o qual querem proibir a propaganda de cerveja? É só o que faltava mesmo! Luisa Fernanda arregalando os olhos e enregelando o gogó com uma talagada de cervejota,
não podendo acreditar soltou:
- Virgem Santa! Até isso querem fazer? Mas essa gente não tem mesmo com o que se ocupar. Ficam inventando cada uma que, olha, faça-me o favor, viu?
- Proibir a propaganda é o mesmo que proibir alguém de falar, de se manifestar sobre o assunto, mas pode uma coisa dessas? - perguntou outro afoito que foi logo enchendo o copo com a bebida predileta.
De repente o telefone fixo da Luisa tocou. Um dos presentes que se considerava da casa atendeu. Era Célio Justinho, o gerente do Brafresco, banco onde Luisa trabalhava. A visita íntima passou o aparelho para a anfitriã. Luisa ouviu atentamente e logo se deixou abater. Os convivas souberam que na manhã seguinte todos os demais funcionários da agência deveriam estar logo cedo no trabalho. Novas estratégias para a venda de dinheiro seriam discutidas.
Naquele momento terminou mais uma festa para Luisa, a mocréia corintiana que auxiliava o Brafresco na espoliação dos cidadãos tupinambiquences.
Fernando Zocca.
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