Em Piracicaba muitas crianças se dedicavam a catar lixo pelas ruas. Em 1994 quando morávamos à Rua Bela Vista, havia uma menina que puxando sua carroça, numa certa ocasião, parou em frente à nossa casa.
Acho que ela não tinha nem dez anos e já toda sujinha, perambulava pelas ruas pedindo jornais, caixas de papelão e outras embalagens.
Talvez o que a motivasse estancar ali, naquela manhã, fosse a queda de uma das rodas da carroça que saira do eixo.
A menina era filha de catadores de lixo e irmã de numerosos irmãos. Quando estacionou seu veículo defronte nossa residência ela procurava uma sombra onde pudesse descansar e recolocar a rodinha no lugar.
Depois que encostou ali frente ao nosso portão ela pediu um copo de água; logo após expressou sua vontade de usar o banheiro.
Ao passar por nossa cozinha ela observou a mesa que continha ainda a louça e a sobra dos alimentos do café da manhã. Quando percebemos que a criança fixou o olhar sobre os alimentos, intuímos a sua fome e então a convidamos a sentar-se e a tomar uma xícara de café.
Toda embaraçada ela se acomodou na beirada de uma cadeira; a ela servimos leite com Toddy e pão com margarina.
A avidez da garotinha ao deglutir aquelas coisas impressionou-nos. Ela não mastigava e quase engasgou tamanha a voracidade com que enfiava o pão goela abaixo.
Sentado ao seu lado perguntávamos onde morava e quem eram seus pais. A sofreguidão impedia que ela falasse qualquer coisa e qual não foi a nossa surpresa quando, de repente, a menina vomitou sobre a mesa e evacuou ali mesmo, no chão da cozinha.
Tentando controlar a situação levei a jovem ao banheiro onde a fiz lavar-se. Mais tarde, tendo consertado a rodinha e no comando da sua carroça, ela continuou a lida de recolhimento de lixo.
Hoje em dia ela já não mais vagueia pelas ruas. Está casada e tem três filhos.
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