segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Perguntaram pro Van de Oliveira Grogue:
- Por que você escreve?
Ele respondeu:
- Porque a professora ensinou. Você acha que ela não devia?
- Acho que não precisava. Mas já que “ta, que fique”. Mudando de assunto: você caminha pelo parque?
- Hã hã – respondeu Grogue.
- É verdade que você solta pum quando anda?
- Naturalmente careceria de sentido manter algo preso que não fosse indispensável a tal liberação. Portanto nada a opor quanto ao mérito do assunto. Se não é proibido, nada impede que o façamos – concluiu Grogue.
- Você já andou por lugares onde havia cascata, pasto com boi solto, mulheres trocando de roupa num vestiário e achou, que se ficasse quietinho num canto, elas não perceberiam que você estava ali presente e você então as veria assim... Como direi? A pêlo?
- Sim – respondeu Van de Oliveira. Mas isso faz tanto tempo que nem mesmo aquelas espingardas de carregar pela boca... Sabe aquelas “pica-pau”? Não se fabricam mais.
- Aquilo era espingarda de pobre – disse com ironia a entrevistadora. Mas você era dono dela?
- Não. Era de um siderado fazedor de muros. Hoje em dia pode estar até bem velhinho.
- Mas e aquele calhambeque? É verdade que o convidaram para comprar um daqueles, bem antigo, e dividir a propriedade em três? – A entrevistadora sabia tudo... Ou quase tudo...
- Sim. Por sorte não cai na arapuca. Mas vieram outras e sucumbi.  Mas falando nisso, eu ouvia o “Chapéu de Palha” no meu radio à pilhas. Gostava também do “Noites do México”. Você se lembra?
- Não, meu querido. Não sou daquele tempo. Sou velha, mas nem tanto – disse gentilmente a moça que entrevistava. E depois, com mais ânimo:
- E irmãs? Você as tem Grogue?
- Não, não tenho não. Mas não me importo em não as ter. Você sabia que no Egito antigo era costume o irmão casar-se com a irmã? – perguntou Oliveira.
- Sim. Sabia sim. Mas isso não é muito diferente do que acontece hoje. Conheço um caso em que o irmão engravidou a irmãzinha e ainda por cima botou a culpa no vizinho. Pode isso?
- É terrível, um problema para o moço. Ah, esses moços e seus problemas – concluiu Van de Oliveira. Precisaram chamar até o tal de doutor Harold. E este ainda, não conseguindo sanar a questão passou-a a outro tal de Ananias Lutércio.
- Muito bem. Considero encerrado o nosso encontro. Mais alguma coisa? – quis saber a moça gentil.
- Nada mais querida – finalizou o Van, saindo tranquilamente.
- Feliz Natal, lindinho – desejou a moça simpática, enquanto ele passava por ela.
- Obrigado. Pra você também.


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