quinta-feira, 6 de maio de 2010

O Devasso

- Seu marido anda pulando a cerca, minha amiga? Você sabe quem seria a sirigaita? Ora neném não se apoquente. Não precisa ficar nervosa, neurótica, depressiva ou buscar ajuda lá no doutor Silly Kone. Nada disso. Relaxa e releve.

As palavras de consolo eram ditas por Van de Oliveira Grogue à Elza. Ambos partilhavam o almoço num local reservado do Bar e Restaurante do Bafão, o pioneiro em servir as primorosas e famosíssimas bistecas grelhadas de Tupinambicas das Linhas.

- Sabe que a tal zinha pode até ser casada? E se for mesmo você pode estar à beira de um escândalo daqueles! – profetizou Grogue sorvendo um gole generoso de cerveja.

- Essa carne está dura demais. – reclamou Elza. - Eu prometi que nunca mais comeria carne vermelha, mas não consigo segurar a vontade.

- Não se preocupe. Quem não come carne pode ficar anêmico. Sabe aquela cor pálida, o emagrecimento exagerado e a falta de ânimo? Então, isso pode ser consequência da carência de carne vermelha.

- Mas que ódio! Veja só as minhas olheiras! Faz 15 dias que não durmo direito. Veja as manchas escuras nos meus braços. – Elza falava e mostrava os cotovelos depois de ter apontado as nódoas arroxeadas debaixo dos olhos. Estou me acabando com tanto sofrimento. Eu nunca traí o sacana. Sempre tive o maior respeito pelo cara e olha o que eu ganhei. No meu prédio todo mundo sabe que o galinha anda com vadias.

- Não fica assim não Elza, minha querida. Olha, beba mais um pouco de cerveja que ajuda a acalmar. E, perceba, você não comeu a salada. Não gosta de alface? – Van parecia mesmo preocupado com a saúde da amiga.

- Estou emagrecendo por causa do nervoso. Já notei até pelancas. Está vendo aqui ó, debaixo do braço? Isso não é pelanca? – A moça tinha o tom choroso na voz.

- Para com isso. Imagina que uma princesa como você pode ter pelancas nessa idade. Mas nem 10 chifres do safado arreliado podem te fazer isso. Ora veja. – Acalmou Grogue pigarreando em seguida.

- Sabe Van me contaram que a mulher com quem o infeliz me trai é casada e tem dois filhos. – confidenciou a moça em tom baixo e lamentoso. – E que a filha da puta é empregada doméstica. – concluiu a traída.

- Não, não, não. Não se desespere, não faça nada que possa te comprometer. Talvez você se sinta melhor se pagar na mesma moeda. Entende?

- Não sei se tenho coragem. Nunca fiz isso em toda minha vida. – rebateu Elza ao tocar os lábios com um guardanapo.

- Eu não te aconselho a fazer coisas erradas. Se você quiser eu mesmo chamo o devasso e conto a ele que você já sabe de tudo. Ih, olha lá quem vem chegando. – Van fez um gesto com a mão chamando a atenção do moço que acabara de entrar no recinto.

O rapaz alto, esbelto e muito bem vestido, ao perceber o amigo sentado à mesa, com uma jovem, se aproximou.

- Olá Mauro, como vai? Você conhece a Elza? – perguntou, em tom cordial, o Van de Oliveira. E depois: - Elza, esse é o meu amigo Mauro. – ambos cumprimentaram-se deixando transparecer interesse mútuo. - Você não quer sentar-se? – arrematou Van Grogue.

Para a sofrida Elza que nunca esperara uma traição por parte daquele marido, a quem dedicara todo o afeto do mundo, abria-se a oportunidade de encontrar o tão esperado equilíbrio.



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